Primeiro ela abalou os empregos. Agora, a OpenAI quer substituir até o LinkedIn

Um olhar sem filtros sobre um futuro de RH sem humanos

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Steve Carey 3 minutos de leitura

No dia 4 de setembro, a OpenAI anunciou que vai disputar espaço com o LinkedIn – especificamente no setor de busca por empregos.

De acordo com diversas fontes, a empresa não se contentou em desafiar o Google, transformar a educação, alterar os relacionamentos pessoais e até balançar setores inteiros como a psiquiatria ou a consultoria de gestão – áreas que, até pouco tempo atrás, pareciam intocáveis. Agora, o alvo é a tradicional indústria de recursos humanos.

A proposta da OpenAI é simples e ambiciosa: automatizar o processo de contratação, conectando candidatos e vagas apenas pelo contexto – sem cargos, currículos, candidaturas ou triagens. A ideia é criar um sistema totalmente automatizado, rápido, sem custos e muito mais eficiente do que qualquer processo conduzido manualmente pelo RH.

É mais uma evolução lógica – e fria – da IA: transformar a intuição humana em fatores algorítmicos previsíveis.

A empresa parte do princípio de que, no futuro, todos os empregos exigirão algum nível de conhecimento em inteligência artificial. Para preparar esse cenário, planeja lançar a OpenAI Academy, que formaria profissionais escolhidos por algoritmos para atender às demandas do mercado.

Mas será que isso basta para desbancar o LinkedIn – uma plataforma com mais de um bilhão de usuários que, hoje, passam tanto tempo discutindo “autenticidade” em posts sobre IA quanto compartilhando selfies feitas no Canva de viagens pela Itália?

Os recursos humanos são uma das funções mais antigas e consolidadas do mundo corporativo. Em muitos casos, ainda se apoiam em julgamentos tradicionais, como aparência, pontualidade e contato visual. Nos últimos anos, porém, o setor passou por diversas transformações – e o LinkedIn teve um papel central nisso.

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Ao mesmo tempo em que se consolidou como a maior rede profissional do planeta, a plataforma também abriu espaço para uma enxurrada de fraudes impulsionadas por IA: currículos, cartas de apresentação e até portfólios inteiros produzidos por algoritmos.

Do lado das empresas, cada vez mais etapas do processo de seleção já são automatizadas por softwares de triagem, que filtram candidatos antes da entrevista final – entrevista que, em alguns casos, já pode ser conduzida e avaliada por um avatar de IA.

Diante desse cenário, a automação completa parece um passo natural. Mas especialistas em psicologia organizacional alertam: a questão é mais complexa do que parece.

FATORES INTANGÍVEIS NA HORA DA CONTRATAÇÃO

Pesquisas mostram que sinais não verbais – como tom de voz, expressões faciais e linguagem corporal – ajudam a prever o desempenho futuro de um candidato.

Por outro lado, um artigo de 2022 publicado na “Harvard Business Review” alerta que entrevistas automatizadas tendem a ignorar justamente esses fatores “intangíveis”, que só aparecem em interações humanas e podem ser decisivos.

Ainda assim, esses mesmos sinais também são altamente subjetivos e carregados de vieses. Já está mais do que comprovado que intuição e primeiras impressões podem reforçar desigualdades de gênero, raça e classe no recrutamento.

cada vez mais etapas do processo de seleção já são automatizadas por softwares de triagem.

O fato é que entramos em uma era na qual candidatos e recrutadores recorrem cada vez mais à inteligência artificial como intermediária. Nesse cenário, a ideia de observação “autêntica” – útil ou não – começa a desaparecer.

Talvez, com o tempo, o aprendizado de máquina se mostre a forma mais eficiente de combinar vagas e candidatos. Talvez. Mas também é possível que seja justamente a imprevisibilidade humana o maior valor perdido nesse processo.

Quanto à possibilidade de a OpenAI derrubar o LinkedIn, o desafio é bem maior. Para isso, seria preciso compreender as nuances da natureza humana e criar um espaço realmente envolvente – não só no aspecto profissional, mas também porque negócios sempre acabam se misturando a dimensões sociais e emocionais da vida.

Para construir algo assim, ainda é necessário algo que a inteligência artificial não consegue oferecer: uma sensibilidade genuinamente humana.


SOBRE O AUTOR

Steve Carey é jornalista, produtor e escritor. saiba mais