O que acontece à empresa quando a cultura corporativa vai por água abaixo

Quando os valores centrais deixam de ser praticados, começa um processo lento de desgaste que pode custar caro

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Eve Upton-Clark 3 minutos de leitura

Moral em baixa. Produtividade caindo. Fofocas pelos corredores. Demissões silenciosas. Trabalho malfeito. Cinismo. Profissionais talentosos indo embora. Esses são sinais claros do chamado “culture rot” (ou deterioração da cultura): um desgaste lento e silencioso que tira da empresa aquilo que um dia a tornou boa.

"É algo que você percebe antes mesmo de conseguir nomear”, explica Tara Kermiet, estrategista de burnout corporativo, em um vídeo no TikTok. “Não é sobre um grande evento, mas sim sobre aquele desgaste diário pelo qual ninguém se responsabiliza.”

Ao contrário de um escândalo público ou de uma queda brusca nos lucros, a deterioração da cultura acontece de forma gradual. É alimentada por líderes ruins e sem responsabilidade e se caracteriza pelo afastamento dos valores centrais que deveriam guiar a empresa.

A missão fica confusa, a comunicação falha, os prazos deixam de ser cumpridos. O engajamento cai, os processos travam e, de repente, “todo mundo entra no modo de autopreservação”, diz Kermiet.

A expressão “culture rot” já era usada em áreas como branding, design e criatividade, mas agora tem ganhado espaço nas discussões sobre trabalho, aparecendo em publicações de RH e estilo de vida. Assim como o esgotamento, as demissões silenciosas e os ambientes tóxicos, ela é mais um fator que explica boa parte dos problemas atuais dentro das empresas.

Um relatório recente da Gallup mostra a gravidade do problema: em 2024, apenas 21% dos trabalhadores no mundo estavam engajados. A consultoria ainda estima que o baixo engajamento tenha custado US$ 438 bilhões à economia global só no último ano.

Entre as principais causas da deterioração da cultura está o abandono progressivo dos valores declarados pela empresa. Definir princípios logo no início é importante, mas se eles não forem reforçados com frequência, viram apenas um discurso vazio.  Não à toa, só 26% dos trabalhadores nos EUA acreditam que suas empresas realmente cumprem o que prometem, segundo pesquisas.

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Ter uma cultura saudável é fundamental para reter talentos. Funcionários que se sentem conectados à cultura da empresa têm 47% menos chance de procurar novas oportunidades. Eles também são cinco vezes mais propensos a recomendar a organização como um ótimo lugar para trabalhar.

Além disso, cultura positiva e produtividade estão diretamente ligadas: um estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, mostra que trabalhadores felizes chegam a ser 13% mais produtivos.

Mas a boa notícia é que dá para prevenir a deterioração da cultura organizacional. Segundo Kermiet, cabe aos líderes apontar claramente “quais comportamentos são saudáveis e quais não serão aceitos”. Também é essencial que reflitam sobre os próprios hábitos: “você realmente cumpre o que promete?”.

A Gallup estima que o baixo engajamento tenha custado US$ 438 bilhões à economia global em 2024.

Além disso, estar presente e conversar sempre com a equipe faz toda a diferença – como o desgaste acontece aos poucos, cuidar da cultura todo dia ajuda a evitar que ela se deteriore. “A cultura é reflexo da liderança”, diz Kermiet. “Cada atitude sua reforça a confiança – ou a destrói.”

Se sua empresa enfrenta alta rotatividade e queda de produtividade, é bem possível que a cultura já esteja se deteriorando há algum tempo. É preciso identificar as áreas comprometidas e reconstruir valores, crenças e comportamentos de dentro para fora.

O esforço vale a pena. Afinal, segundo a Gallup, quem se sente fortemente conectado à cultura da empresa tem mais de quatro vezes mais chances de se engajar no trabalho.


SOBRE A AUTORA

Eve Upton-Clark é jornalista especializada em cultura digital e sociedade. saiba mais