Algo está errado quando você tem que avisar o chefe que deu sua hora de sair
Avisar o chefe antes de ir embora pode parecer um gesto de respeito e transparência, mas também pode abrir brechas para abusos

O expediente acabou. Você está pronto para ir para casa. Mas surge aquela dúvida: “devo avisar meu chefe antes de sair?”. Para muita gente, isso ainda parece o certo a fazer. No entanto, como mostra um vídeo viral no TikTok, talvez essas regras não escritas estejam mudando.
O vídeo – que já ultrapassou 20 milhões de visualizações – levanta a questão: é aceitável sair exatamente às 18h? Nele, uma funcionária entra na sala do seu chefe e avisa: “estou indo”.
“Uau, 18h em ponto. Adoro esse seu equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, responde ele, em tom de ironia. “O expediente termina às 18h”, ela retruca, com razão.
A cena provocou um debate acalorado nos comentários: você sai do trabalho no horário exato? Espera terminar o que está fazendo e vai embora entre 18h e 19h? Ou faz questão de ser o primeiro a chegar e o último a sair?
As opiniões, claro, se dividiram.
Alguns responderam que trabalham apenas pelo tempo que são pagos – nem um minuto a mais. “Se estou pronto para começar às 9h, também estou pronto para sair às 18h”, escreveu um usuário.
Outro brincou: “das 17h30 às 18h é hora de ir ao banheiro. Depois, direto para casa.” E teve quem fosse ainda mais longe: “às 17h56 eu já estou no carro.”
Em muitos lugares, porém, ainda prevalece uma regra não escrita: só sair depois que o chefe for embora. “Sempre achei que o certo é chegar 10 minutos antes e sair 10 minutos depois”, comentou alguém.
“Se você é pago até as 18h, trabalha até as 18h. Leva uns minutos para guardar as coisas”, acrescentou outro.

Avisar o chefe antes de ir embora pode parecer um gesto de respeito e transparência – mas também pode abrir brechas para abusos. Um chefe tóxico pode aproveitar a oportunidade para te segurar por mais tempo no trabalho, mesmo sem necessidade.
Em alguns casos, esse hábito pode ser um sinal de submissão: quando o funcionário busca a aprovação constante da chefia, mesmo às custas do próprio bem-estar.
Ficar no escritório apenas para “parecer ocupado” é o chamado “presenteísmo” – estar fisicamente presente, mas sem produzir de fato. Essa prática, além de desgastante, é uma das principais causas de esgotamento e não traz benefícios reais para a empresa.
Por muito tempo, sair pontualmente era visto como falta de comprometimento. Mas essa visão está mudando – hoje, cada vez mais, é considerada uma atitude saudável de quem valoriza o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Em muitos lugares ainda prevalece uma regra não escrita: só sair depois que o chefe for embora.
Em 2024, pela primeira vez, uma pesquisa global da agência de recrutamento Randstad – que ouviu 26 mil profissionais – mostrou que o equilíbrio entre vida e trabalho superou o salário como principal fator de motivação. Nesse novo cenário, “das 9h às 18h” significa exatamente isso, independentemente do cargo ou do tipo de contrato.
“Se você controla meus minutos, então eu não quero trabalhar para você”, comentou um usuário no TikTok.
Quando o mercado de trabalho favorece os empregadores, muitos chefes se sentem confortáveis em pedir que suas equipes fiquem além do horário. Mas nada dura para sempre. O debate sobre se os gestores devem ou não fazer os funcionários ficarem depois do fim do expediente, no entanto, deve continuar por muito tempo.
“Pessoas não pedem demissão de empregos. Elas pedem demissão de chefes”, resumiu um comentário.