O valor agora está no mindshare, não no pageview

As marcas enfrentam um desafio inédito: como ser relevante em um ambiente onde não há mais navegação, apenas conversa?

imagem ilustrativa de um cérebro ligado por cabos a um computador
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Marcos G. Figueira 2 minutos de leitura

Neste momento, há pessoas pedindo conselhos amorosos a uma inteligência artificial. Outras, mais pragmáticas, a utilizam como coach de carreira. Há quem a trate como psicóloga, confidente ou parceira de brainstorming. Os grandes modelos de linguagem se tornaram confidentes digitais. E é precisamente aí que as coisas começam a ficar fascinantes.

A internet costumava ser uma praça pública barulhenta, onde todos gritavam simultaneamente. Agora, a IA funciona como um confessionário silencioso, privado, personalizado. Os usuários não querem mais garimpar conteúdo em sites, blogs ou vídeos. Eles buscam respostas diretas, filtradas, preferencialmente empáticas.

As IAs estão entregando exatamente isso, com contexto, memória e fluidez. O usuário que hoje pergunta “devo terminar meu namoro?” é o mesmo que amanhã vai pedir “me ajude a escolher o presente de aniversário da minha namorada”. A IA vai lembrar a data, sugerir um perfume e concluir a compra em três cliques.

Nesse cenário, o ponto de contato não é mais seu site. É o sistema, o espaço onde a IA atua. Essa mudança, quase invisível, está revolucionando o marketing, a publicidade e o branding.

A jornada do consumidor está sendo encapsulada dentro de conversas. A IA se tornou a concierge pessoal dessa jornada. Ela sugere livros, mascara inseguranças, recomenda filmes, redige e-mails difíceis, traduz emoções. Ela não aguarda cliques. Ela gera decisões.

O que nos leva ao ponto central: o valor agora reside no mindshare, não no pageview.

Quem aparece nas respostas da IA conquista espaço mental, mesmo sem um link, visita, ou métricas rastreáveis. As marcas que conseguirem ancorar suas ideias dentro dessas conversas obtêm uma influência que nenhuma campanha tradicional de awareness pode comprar.

Não se trata mais de gerar tráfego. Trata-se de gerar memória, familiaridade, confiança. De estar presente como um reflexo automático do desejo do usuário. Ele pensa “viajar” e a IA responde “Airbnb”. Ele menciona “corrida” e ela sugere “Nike”.

Isso é mindshare. E é ele quem decide o futuro da sua marca no universo das inteligências artificiais.

em fundo rosa, mão segura lupa que reflete a imagem de um olho
Crédito: Deagreez/ Getty Images

Os algoritmos que organizavam a internet como um índice agora funcionam como mentores, curadores, conselheiros. Eles não apenas indicam caminhos, eles moldam desejos.

Isso coloca as marcas diante de um desafio inédito: como ser relevante em um ambiente onde não há mais navegação, apenas conversa?

A resposta envolve três elementos: presença simbólica, linguagem compatível e valor genuíno. Somente assim uma marca deixa de ser um link e se transforma em referência mental. A boa notícia? O jogo ainda está em aberto.

Muito em breve, as IAs vão negociar upgrades de voos, reservar restaurantes para seu jantar de aniversário, monitorar seu nível de estresse com base no que você escreveu ontem. Quem estiver bem posicionado no algoritmo da confiança (aquele que habita a mente do usuário) vencerá. Sem necessidade de cliques.

Porque o clique se tornou um detalhe.

E o futuro pertence a quem ocupa a mente, não o histórico de navegação.


SOBRE O AUTOR

Marcos G. Figueira é professor da Fundação Getúlio Vargas e sócio da Wyse Brand Intelligence. saiba mais