Congelar para economizar: o novo truque da eficiência energética
Baterias de gelo reduzem o consumo elétrico e aliviam a rede em meio ao aumento global da demanda por refrigeração

Todas as noites, cerca de 280 mil litros de água são congelados no hospital Norton Audubon, em Louisville, nos EUA. Antes, todo o sistema de refrigeração vinha de aparelhos convencionais. Agora, 27 tanques de gelo mantêm uma rede de tubos de água fria que garante temperaturas seguras nas salas de cirurgia e conforto para os pacientes.
Essa tecnologia, conhecida como armazenamento térmico de energia – ou simplesmente bateria de gelo –, é capaz de resfriar os ambientes sem liberar emissões que aquecem o planeta.
O sistema reduz o consumo de energia e alivia a pressão sobre a rede elétrica. Com o aumento das temperaturas e da demanda global por energia, o resfriamento por gelo surge como uma alternativa sustentável.
A Trane Technologies, fabricante de sistemas de aquecimento e refrigeração, relata um aumento expressivo na procura por essa tecnologia nos últimos anos. A Nostromo Energy, outra produtora de baterias de gelo, busca clientes entre data centers, que têm alta demanda de refrigeração. Já empresas como a Ice Energy fabricam versões menores para residências.
Embora cada fabricante adote variações no design, o princípio é o mesmo: à noite, quando a eletricidade é mais barata, a água é congelada. Durante o dia, o gelo derrete lentamente, resfriando a água que circula pelo prédio e absorve o calor dos ambientes. O ar frio é distribuído por dutos de ventilação.
As baterias de gelo da Trane são muito usadas em conjunto com o ar-condicionado tradicional, que pode ser reduzido de tamanho ou operar com menor intensidade. Como o gelo armazenado não exige energia para descongelar, o sistema reduz a carga sobre a rede elétrica e diminui as contas de energia.
Alguns prédios já usam baterias de lítio para guardar energia solar ou eólica.
“Armazenar energia para uso futuro é o caminho do futuro da rede elétrica”, diz Ted Tiffany, líder técnico da Building Decarbonization Coalition. Ele destaca que o acesso ao ar-condicionado é uma questão de saúde pública que tende a piorar com o aquecimento global, e que as baterias de gelo oferecem uma solução sustentável para lidar com ondas de calor extremo.
No primeiro ano após a instalação, em 2018, o hospital Norton Audubon economizou US$ 278 mil em energia. Desde 2016, o sistema e outras medidas de eficiência já economizaram quase US$ 4 milhões.
VANTAGENS DAS BATERIAS DE GELO
Especialistas em energia sustentável afirmam que as baterias de gelo são uma das opções para reduzir o consumo de eletricidade e armazenar o excedente de energia em prédios comerciais. Alguns já usam baterias de lítio para guardar energia solar ou eólica.
Os fabricantes veem grandes oportunidades nos data centers, que crescem rapidamente para atender à inteligência artificial e consomem grandes volumes de energia e refrigeração. “Data centers demandam muita energia; cerca de 30% a 40% do total vai para refrigeração. É aí que nossa solução pode ajudar”, afirma Yoram Ashery, CEO da Nostromo Energy.

A Califórnia é hoje o maior mercado para essa tecnologia. Lá, a rede elétrica usa muita energia solar durante o dia, mas recorre a fontes poluentes, como o gás natural, após o pôr do sol. As baterias de gelo podem manter os prédios refrigerados à tarde e à noite, sem puxar energia da rede.
“Muitas concessionárias estão interessadas nesse tipo de tecnologia de deslocamento de carga”, diz Joe Raasch, diretor de operações da Ice Energy. O verão é o período mais caro para operar a rede, devido à alta demanda por ar-condicionado.
“É uma tecnologia excelente e exatamente o que a rede elétrica precisa, já que o futuro do consumo de energia será guiado pelo resfriamento”, completa.