Se você usa IA no trabalho, é bem provável que esteja usando errado
Novo estudo mostra como aplicar a inteligência artificial de forma eficaz – e por que a maioria das empresas ainda erra nisso

As maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos já investiram mais de US$ 100 bilhões em inteligência artificial só neste ano. Segundo o Deutsche Bank, esses investimentos são o que têm impedido o país de entrar em recessão.
Mas, fora do setor de tecnologia, a história é bem diferente. De acordo com o Goldman Sachs, apenas 14% das grandes empresas estão usando IA de forma realmente significativa.
Por que essa diferença tão grande? Se a inteligência artificial é de fato tão revolucionária, por que há um abismo de bilhões de dólares entre o entusiasmo e o impacto concreto nas empresas?
Um novo estudo da Universidade de Stanford, nos EUA, revela o motivo: existe um jeito certo e um errado de usar IA no trabalho. E um número preocupante de empresas ainda está escolhendo o caminho errado.
O estudo, realizado pelo Instituto de Inteligência Artificial Centrada no Ser Humano e pelo Laboratório de Economia Digital de Stanford, analisou os hábitos diários de 1,5 mil trabalhadores norte-americanos em 104 profissões diferentes – de engenheiros de software a cozinheiros.
Os pesquisadores perguntaram quais tarefas os profissionais gostariam que a IA assumisse e quais preferiam continuar fazendo. Ao mesmo tempo, analisaram o que a tecnologia é realmente capaz de fazer e o que ainda está além de suas capacidades.
a tecnologia funciona melhor quando automatiza as partes chatas e repetitivas das tarefas.
Os resultados são reveladores. A maioria dos trabalhadores quer que a inteligência artificial assuma as partes mais monótonas do trabalho. Segundo o estudo, 69,4% esperam que a tecnologia “libere tempo para atividades de maior valor” e 46,6% gostariam que ela cuidasse de tarefas repetitivas.
Revisar registros, marcar reuniões e preencher planilhas estão entre as atividades mais citadas como ideais para automação. Mas o ponto mais interessante é que os profissionais não querem que a IA os substitua – querem trabalhar junto com ela.
Resumindo: as pessoas desejam que a inteligência artificial se encarregue das partes chatas e deixe as mais interessantes para elas. Um chef, por exemplo, adoraria que a IA ajudasse a organizar as entregas de fornecedores ou a lembrar clientes de reservas – mas, na cozinha, ele ainda quer ser o responsável pelo prato.
O JEITO ERRADO
A conclusão mais interessante do estudo não está nas preferências dos trabalhadores, mas em como as empresas têm lidado com elas. Ao analisar as ferramentas de IA disponíveis no mercado, os pesquisadores descobriram que boa parte das companhias está aplicando a tecnologia de forma equivocada.
Segundo o estudo, 41% das ferramentas atuais se concentram em tarefas das chamadas zonas “vermelhas” ou “apagadas” – aquelas que os trabalhadores preferem fazer sozinhos ou nas quais simplesmente não veem utilidade para a IA.
Muitas outras atuam na “zona amarela” – atividades como criar orçamentos ou desenvolver protótipos, que os profissionais até gostariam de delegar, mas que a inteligência artificial ainda não consegue executar bem.

Apenas uma pequena parcela das ferramentas se encaixa na “zona verde” – tarefas que a IA realiza com eficiência e que os trabalhadores realmente querem automatizar. Enquanto muitas empresas de tecnologia buscam eliminar o componente humano, a maioria das pessoas quer continuar participando do processo, mesmo que parcialmente.
Em outras palavras: as empresas estão focando nos problemas errados. Tentam resolver o que ninguém pediu ou aplicam a inteligência artificial em tarefas que ela ainda não domina.
Não é de se estranhar, portanto, que a adoção da tecnologia nas grandes corporações ainda seja tão baixa. As ferramentas podem ser modernas e impressionantes, mas não resolvem os problemas reais que os trabalhadores enfrentam todos os dias.
COMO USAR A IA DO JEITO CERTO
Para funcionários e líderes, o estudo de Stanford traz lições valiosas sobre como aplicar a IA de forma mais inteligente no trabalho. A primeira delas é simples: a tecnologia funciona melhor quando automatiza as partes chatas, repetitivas e exaustivas das tarefas. Em muitos casos, isso exige apenas uma mudança de mentalidade.
Se você tentar usar a inteligência artificial para fazer todo o seu trabalho, provavelmente vai se frustrar. Mas, se deixá-la cuidar das partes que mais consomem seu tempo e energia, ela pode se tornar uma grande aliada e abrir espaço para novas oportunidades.

O estudo também mostra que a maioria dos profissionais prefere trabalhar com a IA, e não delegar tudo a ela. Muitas startups estão apostando em “agentes autônomos” que executam tarefas sozinhos, mas os pesquisadores sugerem que esse talvez não seja o melhor caminho.
Em vez de buscar a automação total, o ideal é estabelecer uma relação de parceria – usando a tecnologia para ampliar e melhorar o trabalho humano, não para substituí-lo.
De certa forma, isso é libertador. A IA já é capaz de realizar tarefas complexas com supervisão humana. Se aceitarmos que sempre haverá espaço para pessoas no processo, poderemos começar a usar a tecnologia de forma mais eficaz, sem precisar esperar pela inteligência artificial geral ou por um futuro idealizado que talvez nunca chegue.