Nem burnout, nem preguiça: você pode estar simplesmente “enferrujando”

Cansado, desmotivado, preso à mesmice? Saiba como identificar e reverter o esgotamento que nasce do tédio e da falta de propósito no trabalho

homem vestido para o trabalho se espreguiçando
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Kelli Thompson 3 minutos de leitura

Durante os 12 anos em que trabalhei em um banco, comecei a me sentir cada vez mais frustrada com o ritmo lento, as camadas de burocracia e as intermináveis aprovações necessárias para que qualquer coisa saísse do papel. Afinal, o setor bancário é altamente regulamentado e seguir todas as normas fazia parte de ser um “bom banco”.

A cada dia que passava me sentia mais exausta, sem energia e desmotivada. A empresa era constantemente eleita um dos “melhores lugares para se trabalhar” e eu não entendia por que meu “ótimo emprego” me fazia tão mal. Eu não estava sobrecarregada nem passava noites a fio conectada ao trabalho – então os sinais clássicos de burnout não se aplicavam.

O que eu estava vivendo, descobri depois, era o chamado “rust out” – literalmente, “enferrujar”. Trata-se de uma forma de esgotamento que surge quando você deixa de usar suas habilidades e talentos no trabalho, perde oportunidades de aprendizado e passa a temer tarefas repetitivas que drenam sua criatividade.

Além de prejudicar o bem-estar mental dos funcionários, "enferrujar" também custa caro às empresas. Segundo o relatório de engajamento global da Gallup de 2025, apenas 21% dos trabalhadores estavam engajados em 2024. Entre líderes jovens (menos de 35 anos), o índice caiu 5%; entre gestoras mulheres, 7%.

A seguir, três passos práticos para identificar e evitar que você comece a "enferrujar":

1. Confira como você gasta a sua energia

Um dos maiores fatores que nos levam a "enferrujar" é gastar energia em tarefas que não se alinham aos nossos talentos. Uma forma simples de descobrir onde estão suas forças é observar seu nível de energia.

Toda atividade profissional se encaixa em uma de três categorias: sugadoras, neutras ou impulsionadoras de energia.

As sugadoras exigem um esforço heroico, mesmo quando não são complexas. As neutras não esgotam, mas também não motivam. Já as impulsionadoras são o ponto ideal: desafiadoras, envolventes e criativas. Ao fazer sua auditoria, avalie quanto do seu tempo vai para cada tipo de tarefa.

2. Elimine, delegue ou terceirize

Depois de mapear sua energia, pergunte-se o que você pode eliminar, delegar ou terceirizar. As tarefas que mais drenam energia são boas candidatas à eliminação – muitas vezes são compromissos antigos que seguimos cumprindo por hábito. Se não agregam valor nem se alinham às suas prioridades, talvez seja hora de deixá-las de lado.

Caso não seja possível eliminar, delegue. Pergunte-se: “onde minha presença subtrai valor para os colegas?”. Esse tipo de reflexão pode revelar reuniões ou projetos que podem ser repassados.

Se não for possível eliminar nem delegar, terceirize. Em anos de trabalho em tecnologia e consultoria, descobri o poder de terceirizar desde o serviço de entrega de lanches até atividades de marketing.

3. Defenda seus talentos

Quando estiver claro o que desperta sua energia, comunique isso ao seu gestor e colegas.

Líderes não leem mentes, então, quanto mais você explicitar o tipo de trabalho que valoriza e pedir para ser lembrado quando surgirem oportunidades, maiores as chances de ser considerado.

Pode não acontecer de imediato, mas a consistência nas conversas faz diferença.

É HORA DE MUDAR DE CARREIRA?

Às vezes, esse processo de reflexão e autoconhecimento leva a uma conclusão inesperada: talvez seja hora de mudar de rumo.
Pergunte-se:

  • Esta organização está alinhada aos meus valores?
  • Concordo com as decisões da liderança?
  • Tenho defendido as mudanças que desejo ver?
  • Tenho estabelecido limites claros para o uso do meu tempo e energia?

Se a resposta for “não” e, mesmo após tentativas de mudança, nada se alterar, talvez seja o momento de procurar outro lugar para prosperar– antes que a ferrugem se instale de vez.


SOBRE A AUTORA

Kelli Thompson é escritora premiada, palestrante e coach executiva. saiba mais