Adeus, letra cursiva: Docusign e a reinvenção da assinatura na era digital
Docusign atualiza seus estilos de assinatura, refletindo o declínio da caligrafia cursiva e a busca por uma identidade digital mais autêntica

Libbie Bischoff não planejava reinventar o jeito como assinamos nossos nomes. Tudo começou quando ela folheava uma antiga revista de tricô dos anos 1950. Foi lá que encontrou um tipo de letra fluido e casual – e essa estética acabou inspirando um dos novos estilos de assinatura da Docusign.
Ao lado de Lynne Yun – designer tipográfica, calígrafa e fundadora do estúdio Space Type –, Bischoff liderou a primeira grande atualização das opções de assinatura da plataforma em mais de 20 anos.
Para a Docusign, que já processou mais de um bilhão de assinaturas digitais, mudar o visual de um “autógrafo eletrônico” não é algo trivial. É uma decisão que reflete uma transformação cultural silenciosa, mas profunda: a escrita cursiva está desaparecendo, assim como a ideia tradicional do que é uma assinatura.
Uma pesquisa da própria Docusign revela que apenas 51% dos jovens da geração Z assinam o próprio nome em letra cursiva, contra 80% dos baby boomers. À medida que os grandes momentos da vida migram para o ambiente digital, é natural que a assinatura digital também se transforme em uma nova forma de expressão pessoal.
A missão de Bischoff e Yun era dar mais personalidade a uma experiência que, até então, parecia fria e impessoal. A ideia era repensar a assinatura digital – ir além da escrita tradicional e criar algo que refletisse a individualidade de quem assina em um mundo cada vez menos acostumado a usar papel e caneta.
CALIGRAFIA DIGITAL
Enquanto Bischoff buscava referências em objetos e revistas antigas, Yun mergulhava na essência da caligrafia, explorando como o toque humano poderia ser traduzido para o universo digital. O resultado foram quatro novas fontes que ampliam as possibilidades do que uma assinatura pode ser.
“The Overachiever” (O superdotado) é uma fonte firme e confiante, inspirada no calígrafo tcheco Oldřich Menhart, do século 20. Suas formas expressivas e robustas serviram de base para um design que une o tradicional e o contemporâneo.

Já “The Renaissance Soul” (A alma renascentista) nasceu da experimentação. Yun escreveu as mesmas letras diversas vezes com diferentes instrumentos – de canetas caligráficas a pincéis – para descobrir até que ponto podia tornar os traços expressivos sem perder a legibilidade. O resultado é uma tipografia marcante, com curvas ousadas e formas quase esculturais.

Mas nem todas as novas fontes se inspiram na caligrafia clássica. “The Curator” (O curador), por exemplo, é uma fonte inclinada, geométrica e sem serifa, criada para parecer moderna e, ao mesmo tempo, pessoal. “Queria que parecesse uma versão atual da escrita à mão – mesmo que, tecnicamente, não tenham nada a ver”, explica Yun.

Por fim, “The Party Starter” (O festeiro) é uma tipografia de alto contraste, ousada e divertida. A inspiração veio de um modelo francês de 1834, combinado com o estilo das fontes entalhadas em madeira do século 19. A ideia era criar algo “um pouco mais selvagem e brincalhão”, mas que ainda pudesse ser usado em contextos formais.

O resultado é uma fonte com traços marcantes e contrastes fortes – uma maneira de transmitir muita personalidade em um espaço pequeno, o que faz todo sentido para assinaturas digitais.
ALÉM DA LETRA CURSIVA
Ainda assim, fica a dúvida: será que as pessoas estão prontas para assinar documentos oficiais com algo que nem parece uma assinatura tradicional?
Bischoff acredita que sim, embora a reação possa variar dependendo da geração. “Acho que os mais jovens não ligam para o estilo cursivo. Já os mais velhos talvez ainda prefiram algo mais clássico”, diz ela. E é justamente por isso que a Docusign decidiu lançar essa nova coleção de fontes.

Para Yun, é uma evolução natural. Por muito tempo, o design digital oscilou entre o “superformal” e o estilo caricato de fontes como Comic Sans. Agora, essas novas assinaturas representam o que ela chama de uma “autenticidade digital” – algo que não tenta imitar o analógico, mas assume sua própria identidade.
Segundo a Docusign, o objetivo é simples: reconhecer que, mesmo em um mundo 99,9% digital, a assinatura também deve refletir quem você é. Para Yun e Bischoff, o projeto foi uma oportunidade de expandir o conceito de identidade.
Para mim – que não sou nem boomer, nem millennial, nem da geração Z, mas sim da geração X – a resposta é mais simples: desculpe, Docusign, mas as assinaturas antigas eram horríveis. Essas novas são muito mais estilosas, mesmo que eu ainda sinta falta de usar uma boa e velha caneta.