Novo recurso do ChatGPT pode mudar a relação entre usuários, mídia e publicidade
Se a inteligência artificial conquistar espaço na produção de resumos de notícias, a disputa pela atenção do público nunca mais será a mesma

Quando o dia começa, a maioria de nós busca informações básicas – sobre o clima, os compromissos e o que está acontecendo no mundo. Normalmente, fazemos isso ouvindo o rádio, acessando aplicativos de notícias ou conferindo a agenda. Mas algumas pessoas têm assistentes pessoais que reúnem tudo isso em um resumo personalizado com o que realmente importa.
É exatamente isso que o ChatGPT Pulse promete ser – um assistente digital no sentido mais completo da palavra. O recurso, criado pela OpenAI, está disponível inicialmente apenas para assinantes.
Depois de configurado, o usuário informa seus temas de interesse e o ChatGPT Pulse cria uma atualização diária feita sob medida. E não se trata apenas das notícias do dia – o sistema também usa o histórico de conversas, e-mails e calendário para montar um panorama personalizado e contextualizado.
O Pulse se diferencia de outros produtos de IA por transformar a inteligência artificial de uma ferramenta passiva em algo proativo. A informação deixa de ser algo que você busca – ela passa a chegar até você, sem que precise pedir.
UM NOVO TIPO DE AGREGADOR
Essa mudança é profunda e cheia de potencial. Se o Pulse realmente ganhar força, empresas de mídia, marketing e relações públicas vão competir por espaço dentro dele. E onde há atenção, a publicidade inevitavelmente aparece.
Na prática, o novo recurso parece uma aposta estratégica da OpenAI em construir o que pode se tornar uma futura plataforma de anúncios – algo fundamental para uma empresa com ambições tão grandes e custos tão altos.
Mas tudo depende de as pessoas realmente quererem usar o serviço. Afinal, não faltam aplicativos e recursos que tentam ser o ponto de partida do dia – até a tela inicial do Windows exibe manchetes e atualizações.

Alguns pedem que o usuário selecione suas fontes de informação; outros, que escolha seus temas de interesse. A OpenAI, porém, aposta que a combinação entre sua inteligência artificial e o contexto pessoal de cada usuário vai resultar em algo mais relevante e preciso.
E talvez esteja certa. Testei o Pulse por alguns dias e gostei da forma como ele cria resumos não apenas das notícias que me interessam, mas também das que se relacionam com o meu trabalho.
Por exemplo: escrevo com frequência sobre como a IA está mudando a maneira como encontramos e consumimos conteúdo – e o Pulse me mostrou logo pela manhã um novo relatório da DataDome sobre segurança contra bots.
O DESAFIO DA CONFIANÇA
Para ser um verdadeiro assistente, o Pulse precisa entregar informações relevantes e úteis de forma consistente. Existem diversas plataformas especializadas em monitoramento de mídia, mas o Pulse é diferente.
Ele não funciona como um sistema de alertas, mas sim como uma ferramenta de análise de oportunidades – com um alto grau de personalização. Isso é valioso, mas só se evitar erros, eliminar repetições (ninguém quer ver as mesmas notícias todos os dias) e filtrar informações irrelevantes.
Se conseguir fazer isso, a OpenAI pode finalmente romper a barreira das notificações – conquistando um lugar entre os poucos aplicativos cujos alertas as pessoas realmente abrem.
Se o Pulse realmente ganhar força, empresas de mídia, marketing e relações públicas vão competir por espaço dentro dele.
Um dos motivos pelos quais as newsletters se tornaram tão populares na última década é o fato de o e-mail ser um canal confiável para captar a atenção do público. Será que a inteligência artificial pode ocupar esse mesmo espaço?
Com mais de 700 milhões de usuários, o ChatGPT já conquistou um alto nível de confiança. E o Pulse pode se aproveitar disso – desde que entregue conteúdo realmente útil e relevante.
Nesse novo cenário, no qual a inteligência artificial não apenas responde a perguntas, como também escolhe as informações que usamos para começar o dia, os veículos de comunicação passam a atuar mais como fornecedores de dados brutos – que a IA vai filtrar, resumir e contextualizar para cada pessoa.
Isso representa uma ameaça séria para boa parte da indústria de mídia. As newsletters matinais e os resumos de notícias ainda terão seu espaço, mas dificilmente conseguirão competir com o Pulse. Afinal, nunca terão o que o ChatGPT tem: uma visão completa de tudo o que é importante para você.