Automação e humanização a serviço do branding

Tecnologia é fundamental, mas sozinha não sustenta o impacto das marcas

designers usando inteligência artificial
Créditos: Milad Fakurian/ Unsplash/ Freepik

Taise Kodama 3 minutos de leitura

Todos os dias, novas ferramentas de inteligência artificial são lançadas. E os investimentos não param de crescer. 

Dados da Bain & Company e do Goldman Sachs mostram que megaempresas de tecnologia, corporações e concessionárias de serviços públicos devem injetar globalmente, em IA generativa, cerca de  US$1 trilhão nos próximos anos. 

É muita promessa, pouco tempo para absorver.

Mas a questão que me parece mais relevante não é “qual ferramenta usar?” e sim “como nós, enquanto profissionais, estamos nos preparando para pensar com elas?”.

Alguns sinais já aparecem no mercado. A Heineken, que usa IA e dados, percebeu na campanha #SocialOfSocials, criada pela LePub, o valor da socialização além das redes sociais. A empresa criou uma campanha que, justamente, alerta para o uso excessivo de redes sociais – e isso é fazer uso humano e inteligente dos dados.

Outro caso é o do Spotify, que testa IA para criar playlists hiper personalizadas, mas sabe que o que engaja, de fato, são as narrativas humanas que contextualizam cada experiência. 

No blog de pesquisa do Spotify, há uma publicação chamada “Contextualized Recommendations Through Personalized Narratives using LLMs” (Recomendações contextualizadas por meio de narrativas personalizadas usando LLMs).

Crédito: Freepik

O texto descreve como a empresa utilizou modelos de linguagem para gerar explicações personalizadas para recomendações de músicas, mas com um detalhe fundamental: edição humana contínua, com feedback de especialistas para garantir contexto e precisão. Isso resultou em até quatro vezes mais cliques nos conteúdos recomendados.

O que esses exemplos mostram? Que tecnologia é fundamental, mas sozinha não sustenta impacto. 

Sem times preparados para cultivar curiosidade, interpretar padrões e transformar dados em cultura, a IA se torna apenas mais uma ferramenta. Tecnologia sempre foi a chave para evolução, mas a chave sozinha não abre a porta.

Por isso, reuni aqui algumas práticas para que possamos nos preparar não para o futuro, mas para o agora.

5 PRÁTICAS PARA TIMES HIGH-TECH & HIGH-TOUCH

1. Treine para perguntas, não só para respostas

Ferramentas de IA entregam saídas rápidas, mas a qualidade depende da pergunta. Incentive seu time a formular questões mais profundas e criativas, para manter o humano como motor da tecnologia.

2. Estabeleça rituais de leitura de dados com empatia

Não basta olhar dashboards (eles são importantes se bem-feitos e bem lidos). Promova encontros regulares em que o time discuta o que os números dizem sobre pessoas, comportamentos e cultura. Os dados precisam ser traduzidos em histórias de necessidade, oportunidade, concentração, saturação, significados, tendências, alertas.

3. Crie espaços seguros para experimentação

Separe 10% do tempo de projetos para que cada equipe teste novas ferramentas ou metodologias. O erro controlado gera aprendizado coletivo e confiança para inovar.

Crédito: People Images/ Getty Images

4. Misture competências diversas

Monte squads que reúnam designers, analistas, estrategistas, antropólogos, esportistas e traga as pessoas antes das personas. Isso gera criatividade, pois a tecnologia cria conexões entre ideias, mas ainda não aprende pela vivência.

Cruzar dados não constrói experiência simbólica com seu aprendizado. O impacto surge quando dados encontram sensibilidade estética e emocional, e quando a tecnologia encontra significado.

5. Reforce a cultura de responsabilidade e impacto positivo

Tecnologia pode escalar processos, mas não substitui empatia. Estimule o time a se perguntar: “somo essa solução melhora a vida de alguém?”. O toque humano é o que transforma recurso em valor.

Talvez o futuro não dependa tanto da tecnologia em si, mas da cultura que escolhemos construir em torno dela.

As tecnologias vão evoluir, vão se adaptar. E nós? Se as ferramentas estão cada vez melhores e autônomas, o uso do nosso tempo e da nossa mentalidade precisam ser direcionadores. 

O futuro será definido pela capacidade das organizações e das pessoas de orquestrar tecnologia e humanidade. Times high-tech & high-touch não se apoiam apenas na inovação digital, mas naquilo que a torna significativa: o impacto humano.


SOBRE A AUTORA

Taise Kodama é sócia e head de design & digital da consultoria de marca e experiência Gad. saiba mais