Realidade virtual e inteligência artificial podem ensinar empatia às crianças

Podemos criar tecnologias que não apenas divirtam, mas também estimulem empatia, equilíbrio emocional e conexões mais humanas nas novas gerações

menino e menina usando óculos de realidade virtual
Créditos: picture/ Getty Images/ Europeana/ Tim Marshall/ Unsplash

Ekaterina Muravevskaia 4 minutos de leitura

A empatia não é apenas uma habilidade “desejável” – ela é essencial para que crianças e adultos aprendam a lidar com as emoções, construir relações e aprender uns com os outros.

Entre os seis e nove anos, as crianças começam a deixar o egocentrismo de lado e passam a perceber as emoções e os pontos de vista das outras pessoas. Essa é uma das fases mais importantes para o desenvolvimento da empatia e de outras habilidades socioemocionais.

Brincadeiras de faz de conta são uma forma natural de praticar empatia. Mas, com as crianças passando cada vez mais tempo em frente a telas e menos tempo brincando, essas oportunidades vêm diminuindo.

Alguns educadores temem que a tecnologia possa estar prejudicando o aprendizado emocional. No entanto, pesquisas em computação afetiva – sistemas capazes de reconhecer ou simular emoções – sugerem que ela também pode ser parte da solução.

A realidade virtual (RV), por exemplo, pode criar ambientes imersivos em que as crianças interagem com personagens que expressam emoções de forma tão real quanto pessoas de verdade.

Quando usada conscientemente, a combinação entre realidade virtual e inteligência artificial pode transformar o aprendizado socioemocional, funcionando como uma espécie de “sala de aula de empatia” ou “simulador de regulação emocional”.

Em 2018, na Florida Interactive Entertainment Academy, criamos um game de realidade virtual chamado Why Did Baba Yaga Take My Brother? (Por que Baba Yaga levou meu irmão?).

Brincadeiras de faz de conta são uma forma natural de praticar empatia.

Inspirado em um conto popular russo, ele apresenta quatro personagens, cada um representando uma emoção básica: Baba Yaga simboliza a raiva, Goose representa o medo, a irmã mais velha expressa alegria e a irmã mais nova, tristeza.

Diferente da maioria dos jogos, ele não oferece pontos nem recompensas. As crianças só avançam quando conhecem os personagens, escutam suas histórias e realizam ações empáticas. Elas podem, por exemplo, ver o mundo pelos olhos de um personagem, reviver suas memórias ou até abraçar Baba Yaga para confortá-la.

Essa proposta reflete um princípio fundamental do aprendizado socioemocional: empatia não é sobre recompensas externas, mas sobre parar, refletir e agir de acordo com as necessidades dos outros. Desde o lançamento, seguimos aprimorando o jogo e utilizando-o em estudos sobre empatia infantil.

CAMINHOS DIFERENTES PARA A EMPATIA

Testamos o game individualmente com crianças do ensino fundamental. Depois de uma breve conversa e de um questionário sobre empatia, elas jogavam e, em seguida, falávamos sobre a experiência.

A principal descoberta foi que as crianças interagiam com os personagens virtuais de forma muito semelhante à maneira como as pessoas expressam empatia em interações humanas reais.

Algumas mostraram empatia cognitiva – entendiam o estado emocional dos personagens, ouviam com atenção, tocavam seus ombros para chamar sua atenção e tentavam ajudar. Ainda assim, mantinham uma certa distância emocional.

Outras apresentaram o que chamamos de “contágio emocional” – absorviam os sentimentos dos personagens, ficando tão tristes ou assustadas que precisavam interromper o jogo. Houve também quem não se conectasse emocionalmente, preferindo apenas explorar o ambiente virtual. Esses três comportamentos também são comuns nas interações entre crianças na vida real.

Esses resultados mostram tanto o potencial quanto os desafios do uso da tecnologia. A realidade virtual, de fato, desperta respostas empáticas intensas, mas é preciso cuidado na hora de criar esse tipo de experiências. Algumas crianças precisam de mais estímulo, outras de um ritmo mais calmo.

IA E O OLHAR SOBRE AS EMOÇÕES

O desafio agora é descobrir como incorporar esse tipo de jogo empático ao dia a dia. Nas escolas, a realidade virtual não vai substituir as conversas reais nem as brincadeiras de faz de conta, mas pode complementar essas experiências.

Um professor pode, por exemplo, usar uma breve simulação em RV para iniciar uma conversa, incentivando os alunos a refletir sobre o que sentiram e relacionar essas emoções às suas próprias experiências e amizades. Assim, a tecnologia se torna um ponto de partida para o diálogo, e não uma ferramenta isolada.

professora auxilia aluna no uso de óculos de realidade virtual
Crédito: Evgenya Tamanenko/Getty Images

Também estamos desenvolvendo sistemas de RV adaptativos, que respondem em tempo real às emoções das crianças. O headset pode identificar sinais de medo ou ansiedade – pelo olhar, pelas expressões faciais ou pelos batimentos cardíacos – e ajustar o jogo, diminuindo a intensidade das emoções ou oferecendo estímulos de apoio.

Esse tipo de “sala de aula de empatia” pode ajudar as crianças a fortalecer, aos poucos, sua capacidade de controlar as emoções. É aqui que a inteligência artificial entra. Esses sistemas conseguem interpretar os dados coletados pelos dispositivos e adaptar a experiência em tempo real.

Assim, podemos criar tecnologias que não apenas entretenham, mas também promovam empatia, equilíbrio emocional e conexões mais humanas entre as novas gerações.

Este artigo foi republicado do “The Conversation” sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE A AUTORA

Ekaterina Muravevskaia é professora assistente de computação centrada em pessoas na Universidade de Indiana. saiba mais