Mídias sociais são um ambiente tóxico. Esse novo aplicativo quer tentar fazer diferente

Crédito: Taeshin T./ Usplash/ Somewhere Good

Mark Wilson 5 minutos de leitura

Elon Musk deixou todo mundo preocupado com a compra do Twitter, mas a verdade é que as mídias sociais são tóxicas desde sempre. Passar muito tempo no Twitter é desgastante, quer você esteja recebendo muitas curtidas, quer esteja sofrendo assédio verbal. Não me lembro da última vez em que fiquei mais feliz depois de entrar em alguma rede social.

Para ser bem honesto, não sei se esse problema tem solução. Mas, como a esperança é a última que morre, resolvi testar a nova rede Somewhere Good – por enquanto, disponível apenas para convidados. Ela foi desenvolvida pela equipe responsável pelo Ethel’s Club, um clube social e de trabalho para pessoas negras que recentemente evoluiu para uma plataforma de bem-estar.

O Somewhere Good levantou US$ 3,75 milhões em investimentos para construir uma plataforma focada em hospedar conversas seguras e interessantes entre negros e outros usuários de minorias subrepresentadas.

Créditos: Somewhere Good/ Divulgação

Essa é uma das muitas tentativas recentes de reformular as mídias sociais, tornando-as menos corporativas e mais confortáveis – caso também dos aplicativos Yo e Ello. Mas o Somewhere Good se destaca pelo seu design inspirado.

Praticamente todos os componentes oferecem uma experiência notavelmente diferente dos aplicativos de mídia social que conhecemos. “Projetamos a experiência especificamente para que ela se voltasse contra o status quo de várias maneiras diferentes. Aqui não há curtidas nem seguidores. Não há um feed infinito. Não existem perfis, então, não tem como ficar vidrado nas estatísticas dos outros”, explica a chefe de design, Annika Hansteen-Izora. “Como seria um aplicativo de mídia social que não está mirando a mercantilização e a autopromoção? Como um espaço online poderia contrariar essa regra?”, questiona.

Tudo começa com uma interface de usuário peculiar, inspirada tanto pela estética dos primórdios da internet quanto pelas flores e pela natureza. Continua em uma experiência na qual, em vez de ser apresentado a um feed interminável, o usuário se vê diante de alguma pergunta que possa desencadear uma discussão mais ampla, como: “O que você faz para se sentir presente em cada momento?”

Até 24 pessoas podem responder à solicitação diária através de uma mensagem de voz gravada. Por que uma gravação de voz? Porque as tradições orais fazem parte da cultura negra e porque a voz é, inerentemente, um traço singular.

Curiosidade: embora o Clubhouse tenha conquistado grande parte da fama como uma mídia social baseada na fala, foram os designers negros e seus insights em suas comunidades que impulsionaram o desenvolvimento, por exemplo, do Spaces no Twitter, antes mesmo de ser lançado.

Depois de responder a uma pergunta, a foto do usuário se torna um novo link dentro de uma rede de áudios que os outros podem ouvir. Como não há nenhuma verificação azul para sinalizar quando um áudio é ouvido, todas as falas aparecem como iguais.

No entanto, se as pessoas optarem por responder diretamente à mensagem de alguém (e não há limite para quantas pessoas podem fazer isso), seu avatar evolui, deixando de ser um círculo simples e se transformando em uma flor com pétalas. Quanto mais respostas, mais pétalas, indicando uma conversa mais ativa.

“É como se você estivesse percorrendo um caminho de flores diferentes, que crescem à medida que as pessoas adicionam suas próprias sementes à conversa”, filosofa Hansteen-Izora, que compara conversas saudáveis ​​a jardins prósperos, mas que também não reduz a proposta a uma única metáfora.

“Fui inspirada pelo Neopets, pelo Club Penguin, pelo Microsoft Paint”, diz Hansteen-Izora. “São espaços online menos minimalistas do que o design dos aplicativos de mídia social. O objetivo do design dessas plataformas é tornar tudo o mais digerível possível, colocar tudo em um modelo muito limpo, que qualquer um possa entender. Preferi me inspirar naquela brincadeira inicial da internet, quando parecia que estávamos em uma nova era e que tudo era possível.”

O design e a interface como um todo – juntamente com a natureza das mensagens de voz – fazem com que você diminua a velocidade e ouça outras pessoas enquanto elas deixam seus pensamentos fluírem, como mini monólogos. Por enquanto, essa é uma experiência que funciona em escala beta, composta por um pequeno grupo de testadores e com curadoria. Aumentar essa escala naturalmente abrirá espaço para mais problemas, embora ninguém que eu tenha visto na plataforma esteja lá com a intenção de começar uma briga.

A equipe ainda está pensando em como resolver alguns dos problemas mais frequentes nas mídias sociais de maior escala. Uma grande preocupação é garantir que as ideias sejam respeitosamente atribuídas aos seus autores. “A cultura negra influenciou muito a cultura da internet e, no entanto, essa contribuição é frequentemente apagada”, reflete Hansteen-Izora. “Sendo assim, como podemos projetar esse espaço de modo a garantir que as pessoas sejam creditadas por seus conhecimentos e contribuições?”

A grande questão em aberto tem a ver com a monetização. Como o Somewhere Good vai ganhar dinheiro se não cobra taxa de assinatura e não tem anúncios? Quando fiz essa pergunta para a fundadora e CEO, Naj Austin, ela respondeu: “Temos algumas ideias interessantes para monetizar no futuro. Por enquanto, estamos focados em construir uma plataforma forte, que possa escalar os usuários e aumentar a retenção.” 

Embora essa abordagem seja comum no setor, ela também tem um custo, que vai desde a segmentação invasiva de publicidade da Meta até a pilha de anúncios e lojas em constante mudança no feed do Instagram. Por outro lado, talvez Austin perceba que, para qualquer plataforma de mídia social se tornar um negócio de sucesso, ela precisa tão desesperadamente de usuários quanto de ideais. E, no momento, o Somewhere Good está determinado a seguir seus ideais.


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais