Investimentos cruzados de big techs aumentam temor sobre bolha de IA
Conforme empresas investem umas nas outras e compram seus próprios produtos, cresce a impressão de que o mercado de IA está inflando seus valores

Um número crescente de especialistas vem alertando para o risco de que apenas um pequeno grupo de bilionários e grandes empresas possa acabar controlando a tecnologia de inteligência artificial – que já começa a moldar o trabalho, os negócios e até a vida das pessoas –, além de uma enorme quantidade de dados pessoais, fornecidos voluntariamente pelos próprios usuários.
Mas os riscos de um setor dominado por poucos players vão além disso. As maiores empresas de IA estão investindo umas nas outras – e há quem se preocupe que esse movimento esteja inflando artificialmente os valores de mercado e o preço das ações de todo o grupo, como apontam Emily Forgash e Agnee Ghosh, da “Bloomberg”.
Um exemplo é o investimento de US$ 100 bilhões que a Nvidia anunciou na OpenAI, em troca de cerca de 2% de participação na empresa. O detalhe é que os recursos serão liberados gradualmente, conforme a OpenAI comprar chips da própria Nvidia. Dessa forma, a fabricante garante a venda dos seus produtos e ainda adquire uma fatia da empresa parceira.
“Esses investimentos levantam preocupações sobre a relação entre as partes, já que a Nvidia vai ficar com ações de um cliente que vai usar os recursos justamente para comprar mais equipamentos da própria Nvidia”, escreveu o analista Brian Colello, da Morningstar, em um relatório recente.
A OpenAI fez um movimento semelhante quando recebeu um investimento de US$ 10 bilhões da Microsoft, que acabou sendo usado para pagar pelos serviços de computação em nuvem do Azure, plataforma pertencente à própria Microsoft.
As maiores empresas de IA estão investindo umas nas outras, o que pode estar inflacionado o preço das ações.
Depois das críticas ao caráter circular do acordo com a Nvidia, a OpenAI repetiu a estratégia com outra fabricante de chips, a AMD. A empresa se comprometeu a comprar grandes quantidades dos chips Instinct ao longo dos próximos 10 anos. Se cumprir o cronograma, poderá adquirir até 10% de participação na AMD.
O acordo garante à OpenAI uma segunda fonte estável de chips e dá à fabricante o selo de credibilidade necessário para se consolidar como uma concorrente real da Nvidia.
A CEO da AMD, Lisa Su, descreveu o acordo como um “ciclo virtuoso e positivo”. Já Sam Altman, CEO da OpenAI, afirmou em entrevista que o setor ainda está “experimentando diferentes modelos financeiros” para lidar com os altíssimos custos de desenvolvimento e operação da inteligência artificial.
TECNOLOGIA "NÃO TESTADA"
Na semana passada, surgiram informações de que a Nvidia deve investir até US$ 2 bilhões na xAI, empresa de Elon Musk, que busca levantar US$ 20 bilhões em uma nova rodada de captação. O acordo envolve capital e dívida e está vinculado à compra de GPUs da Nvidia para o novo data center Colossus 2, da xAI, em Memphis, nos Estados Unidos.
O retorno desses grandes investimentos depende da rapidez com que a IA conseguirá gerar ganhos reais de eficiência para as grandes empresas – e talvez também da sua capacidade de encontrar novas formas de lucrar com os consumidores.

Por enquanto, porém, há poucas evidências de que isso esteja realmente prestes a acontecer. Como resume a “Bloomberg”, a IA ainda é uma tecnologia “não testada” no mundo corporativo.
Em outras palavras, todo esse vai e vem de investimentos, participações e contratos entre as mesmas companhias é, no fim das contas, uma grande troca de promessas dentro de um círculo restrito – uma aposta coletiva de que a inteligência artificial de fato vai alcançar o potencial que todos esperam.
E é por isso que, nos bastidores de Wall Street, uma palavra tem ganhado cada vez mais força: “bolha”.