5 vezes em que as mulheres turbinaram a economia mundial ao longo da história

De tecelãs da Idade do Bronze a banqueiras do século 20, as mulheres foram forças motrizes das economias mais dinâmicas da história

Trabalhadoras nas oficinas de munições da Midvale Steel and Ordnance Company em Nicetown, Pensilvânia, em 1918
Trabalhadoras nas oficinas de munições da Midvale Steel and Ordnance Company em Nicetown, Pensilvânia, em 1918 (Crédito: Wikipédia)

Victoria Bateman 4 minutos de leitura

Quantas empreendedoras, banqueiras ou industriais do passado você consegue nomear? Seria fácil imaginar que, até pouco tempo atrás, simplesmente não havia nenhuma. A história econômica tradicional costuma retratar as mulheres confinadas ao papel de donas de casa, mas essa visão começa a mudar.

Em meu novo livro, "Economica: A Global History of Women, Wealth and Power" (Econômica: uma história global sobre mulheres, riqueza e poder", em tradução livre), proponho uma revisão profunda dessa narrativa, colocando as mulheres no centro do desenvolvimento da economia global, desde a Idade da Pedra até a era digital.

A seguir, cinco maneiras pelas quais as mulheres impulsionaram a economia mundial ao longo dos séculos.

1. Criadoras da primeira "moeda global"

Antes das moedas de prata e dos pagamentos eletrônicos, o principal meio de troca era o tecido – e ele era produzido por mulheres. Leve, durável e fácil de avaliar, o tecido foi a primeira “moeda global” da história, sustentando o boom comercial da Idade do Bronze e conectando economias e povos de diferentes continentes.

No Egito antigo, mulheres trabalham na tecelagem do linho
No Egito antigo, mulheres trabalham na tecelagem do linho (Crédito: Reprodução)

Há quatro mil anos, fardos de tecido eram empacotados nas laterais de burros que cruzavam a Eurásia em busca de estanho. Misturado ao cobre, o metal dava origem ao bronze, material que impulsionou uma das primeiras revoluções econômicas da humanidade. Ao fornecer o tecido que financiava essa transformação, as mulheres estavam no centro do processo.

2. Construtoras das cidades antigas

Atenas pode ter sido o berço da democracia, mas Roma foi a verdadeira potência econômica da Antiguidade – e isso, em parte, graças à forma como valorizava o trabalho e o empreendedorismo feminino.

mulheres em mercado no Império Romano
Mulheres em mercado no Império Romano (Crédito: Reprodução)

Mulheres romanas possuíam navios e lojas, negociavam vinho e azeite em todo o Mediterrâneo e até contribuíam fisicamente para a construção da cidade. Um terço das jazidas de argila que abasteciam a capital com tijolos pertencia a mulheres e a proporção de encanadoras romanas era quatro vezes maior que a de mulheres nesse setor nos Estados Unidos hoje.

3. Comerciantes do mundo islâmico

Com o colapso do Império Romano, a Europa mergulhou no caos, mas o Oriente Médio floresceu, em boa parte graças a uma empresária chamada Khadija.

No século 6, Khadija era uma das comerciantes mais ricas de Meca, liderando caravanas que transportavam tecidos e peles pelo deserto. Para administrar seus negócios, contratou um jovem trabalhador conhecido por sua integridade: Maomé. Os dois se casaram, e o apoio financeiro de Khadija seria fundamental para a expansão do Islã.

Quadro "Caravana no deserto", de Pierre Victor Huguet
"Caravana no deserto", de Pierre Victor Huguet (Crédito: Museu Regards de Provence)

O espírito comercial do casal ajudou a consolidar o prestígio do comércio no mundo islâmico, impulsionando a “Era de Ouro” que tornou o Oriente Médio a região mais próspera do planeta entre os séculos 8 e 9.

4. Inovadoras tecnológicas

Da Revolução Industrial à era digital, nomes como Henry Ford e Bill Gates costumam ser exaltados como símbolos da inovação. Mas muito antes deles, na China pré-industrial, as mulheres já lideravam avanços tecnológicos, entre elas, Huang Dao Po.

mulheres fabricam tecidos de seda na China no século 8
"Senhoras fazendo seda", pintura do início do século 12 do imperador Huizong de Song (Crédito: Wikimedia Commons)

Aos 10 anos, Dao Po fugiu de um casamento arranjado e foi parar na ilha de Hainan, onde aprendeu técnicas de fiação e tecelagem com as mulheres da etnia Li. Anos depois, de volta à sua cidade natal, Songjiang (perto de Xangai), fundou uma manufatura de algodão e compartilhou seus conhecimentos com outras mulheres.

Dao Po introduziu tecnologias como a roda de fiar acionada por pedal, que permitia fiar vários fios simultaneamente e quadruplicava a produtividade, transformando a China no epicentro mundial da produção têxtil.

5. Inventoras do banco de varejo

No século 18, Londres vivia uma revolução financeira. Enquanto os homens atendiam à elite, algumas mulheres voltavam seu olhar para as classes populares. Em 1798, Priscilla Wakefield criou o primeiro banco voltado a mulheres e crianças na Inglaterra.

Priscilla Wakefield, filantropa, século 18
Priscilla Wakefield (Crédito: Wikipédia)

Ela montou sua “agência” em uma escola local, onde aceitava depósitos a partir de um centavo. Convencida de que “centavos fazem libras”, Wakefield via a poupança como forma de emancipação – um meio de ajudar as pessoas a ajudarem a si mesmas.

No outro lado do Atlântico, a norte-americana Maggie L. Walker seguiu o mesmo caminho. Filha de uma ex-escrava, ela percebeu como os bancos ignoravam os afro-americanos e fundou, em 1903, o St. Luke’s Penny Savings Bank, tornando-se a primeira mulher dos Estados Unidos a obter uma carta bancária.

Juntas, Wakefield e Walker abriram o sistema financeiro a milhões de pessoas comuns, lançando as bases do banco de varejo moderno.

O LEGADO ECONÔMICO DAS MULHERES

De tecelãs da Idade do Bronze a banqueiras do século 20, as mulheres foram forças motrizes das economias mais dinâmicas da história – da Roma Antiga à China imperial, do mundo islâmico ao Ocidente moderno.

Foi também ao reconhecer a liberdade econômica feminina que o Ocidente conseguiu dar o salto da pobreza à prosperidade. Preservar essa liberdade será essencial para evitar os mesmos colapsos civilizacionais enfrentados por tantas sociedades do passado.


SOBRE A AUTORA

Victoria Bateman tem 20 anos de experiência no ensino de história econômica nas Universidades de Oxford e Cambridge e foi historiadora... saiba mais