Meta abre sua primeira loja física, mesmo sabendo das dificuldades da venda direta
Mais cedo ou mais tarde, toda gigante de tecnologia decide entrar no negócio de varejo
Temos a Apple, cuja rede de mais de 500 lojas pode ser considerada uma de suas maiores e mais disruptivas iniciativas de sucesso. Mas outras também seguiram esse caminho, como Microsoft, Google, Amazon, Samsung e Sony.
E agora, a Meta. Na segunda-feira (9 de maio), a empresa antes conhecida como Facebook abriu a primeira Meta Store, em Burlingame (Califórnia), no campus do Reality Labs. É a divisão responsável pelo headset de realidade virtual Quest 2, pelo dispositivo de vídeochamada Portal e pelos óculos de sol “inteligente” Rayban – que são os produtos disponíveis na loja.
Gerar vendas não parece ser o objetivo principal. As empresas em questão não vêm problema no fato de o consumidor experimentar o produto na loja da marca e ir comprar em outro lugar. A ideia é demonstrar os aparelhos com um nível de experiência de uso que raramente é possível em pontos de venda tradicionais.
Lá em 1999, por exemplo, a Microsoft descreveu a MicrosoftSF, em São Francisco (Califórnia), como um “ambiente de varejo” em vez de uma loja de informática. O foco do local era mostrar, em um ambiente interativo, o poder da tecnologia para melhorar o trabalho, o estudo, o entretenimento e a vida em geral.
O fato de os pontos de venda físicos das big techs não serem vistos como um novo ramo lucrativo de atuação pode ser a razão pela qual eles acabam saindo tão caros para as empresas. Quando a MicrosoftSF fechou, apenas dois anos e meio após sua inauguração, a empresa explicou que a loja – quer dizer, o ambiente de varejo – não mais se encaixava nas prioridades de negócios da companhia.
Já a Meta não manifesta aspirações de longo prazo em relação à sua loja, limitando-se a dizer que ela “vai ajudar a definir nossa estratégia de varejo”.
Minha colega Elizabeth Segran descreveu a nova loja do Google em Nova York como mais parecida com um museu interativo do que com um local para se fazer compras. Em contraste, a loja da Meta foca apenas em permitir que o cliente tenha a oportunidade de testar os produtos ao vivo.
A ênfase em deixar as pessoas experimentarem os dispositivos faz sentido, especialmente no caso do Quest 2. Mais do que qualquer outra tecnologia, a realidade virtual (RV) é difícil de entender, a menos que você a experimente.
Ainda assim, é incrivelmente difícil para os interessados colocar as mãos em um desses aparelhos. Tive que olhar no site da Best Buy para descobrir que é possível conseguir que um funcionário da Meta faça uma demonstração, mas apenas em algumas unidades da rede e em determinados horários nos fins de semana.
Em geral, as lojas das grandes redes varejistas não são os melhores lugares para se conhecer melhor um produto. Portanto, não é tão surpreendente que a Meta queira assumir um papel maior nesse aspecto. Mas ajudar os consumidores a entender como funcionam seus devices ainda é uma experiência nova para a empresa.
Quando era uma startup chamada Facebook, esse processo foi muito rápido, pois era tudo muito fácil de entender e usar. As pessoas entravam na rede porque os amigos estavam lá e porque a adesão era simples. Mais tarde, o WhatsApp e o Instagram se beneficiaram da mesma dinâmica.
Ao tentar se reinventar entrando de cabeça no metaverso e desenvolvendo seu próprio hardware, a Meta está criando um novo desafio para si mesma. O esperado óculos de realidade aumentada (RA) pode exigir ainda mais demonstrações e explicações que o Quest. Sem contar que, enquanto o Quest 2 custa a partir de US$ 299, os óculos RA poderão ser bem mais caros. É de se esperar que mais gente queira testá-los antes de desembolsar um bom dinheiro por eles.
Se o destino da companhia realmente depende do sucesso desses lançamentos, dá para entender por que a Meta pode preferir não depender dos varejistas tradicionais para descobrir como conquistar o consumidor.