Estratégias de adoção de IA: fazer mais, fazer mais rápido ou fazer diferente?
Como o contexto estratégico e a empatia humana podem tornar a transformação com inteligência artificial mais eficaz

“Estamos totalmente comprometidos com a adoção da IA”, disse o CEO, orgulhoso dos novos programas de treinamento lançados pela empresa.
“Mas a IA é só mais uma ferramenta no arsenal dos funcionários – ou representa um novo jeito de trabalhar?”, perguntei.
Silêncio.
“Seu maior inimigo é justamente não ter uma resposta para essa pergunta”, continuei. “Seus funcionários estão ouvindo previsões catastróficas de que a inteligência artificial vai roubar seus empregos. Por isso, resistem, rejeitam e temem a tecnologia. E, o mais importante: eles não fazem ideia de qual será seu papel depois que a IA for implementada.”
Não é a primeira vez que vejo esse entusiasmo exagerado em torno da inteligência artificial. Mais uma vez, especialistas em tecnologia estão convencendo líderes empresariais a adotar a novidade da vez – sem qualquer contexto estratégico ou visão de negócio.
O resultado é previsível: resistência, fracassos iniciais, frustração e nenhum retorno real sobre o investimento. Não à toa, a Gartner batizou esse fenômeno de “ciclo do hype”.
Hoje, o universo da inteligência artificial se divide entre fãs e céticos. Os fãs citam números e relatórios para defender que adotar IA é uma questão de sobrevivência.
Os céticos, por outro lado, apontam um estudo recente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA, como prova de que os benefícios da tecnologia estão sendo exagerados. A pesquisa mostra que apenas 5% das ferramentas de inteligência artificial voltadas a tarefas específicas foram implementadas com sucesso – um sinal claro das dificuldades na adoção.
Em contrapartida, 40% das ferramentas genéricas de IA generativa (como os grandes modelos de linguagem) tiveram bons resultados, impulsionadas principalmente pela iniciativa dos próprios funcionários – e não por diretrizes da liderança. A resposta dos céticos é direta: “deixem a gente em paz. Faremos isso no nosso tempo.”
URGÊNCIA SEM ESTRATÉGIA
Ambos os lados se apoiam em dados sem contexto ou direção. Adotam a tecnologia pela tecnologia, esquecendo que o propósito de uma empresa não é usar ferramentas modernas. Ferramentas são apenas meios – é a estratégia que deve orientar os investimentos e os esforços.
Mas o que fazer quando ainda não temos as respostas? Quando o território é novo e cheio de dúvidas? Às vezes, as incertezas são muito maiores que as descobertas. E é exatamente aí que nasce a verdadeira estratégia.
Estratégia de verdade não vem com garantias. Ela envolve riscos – o risco de errar, tanto por fatores externos quanto por decisões internas. Ter visão estratégica é ser capaz de dizer “não sei” e, mesmo assim, seguir em frente.
AS TRÊS PERSONALIDADES
A tecnologia muda rápido, mas a forma como as pessoas reagem à mudança continua surpreendentemente a mesma. Não falo apenas da resistência, e sim das diferentes formas de se adaptar. Observando transformações passadas, é possível identificar três perfis distintos entre os que adotam novas tecnologias:
- O adotante eficiente: “fazer menos, melhor”
Usa a tecnologia para eliminar tarefas repetitivas e se concentrar na qualidade e precisão. Busca melhorar seu desempenho e fortalecer suas habilidades dentro da organização.
- O adotante eficaz: “fazer mais, mais rápido”
Aproveita a automação para aumentar sua capacidade e produtividade, entregando mais resultados em menos tempo e agregando valor ao negócio.
- O adotante evolutivo: “fazer diferente”
Não se limita a melhorar o que já faz – ele redefine o seu papel por completo, explorando novas responsabilidades e caminhos que antes pareciam impossíveis.
A tecnologia é a mesma, mas cada pessoa a utiliza de acordo com seu perfil, nível de conforto e visão estratégica. Todos contribuem para o progresso da empresa, cada um à sua maneira.
Permitir que os funcionários escolham como avançar reduz o medo, aumenta o senso de controle e torna a adoção da tecnologia mais orgânica e sustentável.
O medo da mudança e o entusiasmo exagerado em torno de novas tecnologias não são novidade. A lição, porém, continua a mesma: ofereça contexto estratégico e empatia – evite conflitos desnecessários e colha os benefícios mais rápido.