Espiritualidade: o capital invisível dos negócios
Precisamos reconhecer que existe um capital invisível – talvez o mais poderoso de todos – sustentando os negócios e o futuro que queremos construir

Há 23 anos, eu iniciava minha jornada empreendedora. Depois de alguns anos atuando no mercado corporativo, parti em busca de um caminho onde a alma também pudesse fazer parte. Naquela época, fundei uma agência de comunicação — que mais tarde se tornou um grupo – e que desde o início tinha como slogan e norte: “comunicação com alma.”
Muitas viradas, mudanças e transições depois, sigo empreendendo. Hoje à frente de um hub que também tem como premissa não deixar de lado a alma nas pautas de negócios, estratégias e mesas de decisão. E explico por que, na minha visão, os negócios também precisam olhar para essa integração.
Voltemos um pouco no tempo. No século passado, o psiquiatra suíço Carl Jung já alertava para aquilo que considerava o pior que poderia nos acontecer como sociedade: a perda da alma.
Nos tempos atuais, essa perda pode ser traduzida como a crise de sentido, que se manifesta em burnout, desconexão, anestesiamento e nos alarmantes índices de adoecimento mental.
Vivemos todos em busca desse preenchimento interior perdido, mas ele não será encontrado nas redes sociais, no excesso de informações, no consumo ou em inteligência artificial nenhuma.
Em 2024, a consultoria global McKinsey publicou um estudo fundamental sobre saúde espiritual – essa dimensão invisível que trata dos assuntos da alma.
A saúde espiritual é o alicerce central da boa saúde mental, física e emocional. Inspirada por esse relatório, trago aqui seus quatro pilares essenciais, que merecem ser refletidos por quem lidera, empreende e decide:
- Presença: a capacidade de estar consciente no agora para melhores tomadas de decisão.
- Vida com sentido e significado: questionar papel, contribuição, impacto no coletivo e o legado que vai deixar.
- Senso de propósito: onde sua essência e dons encontram a necessidade do mundo, estar a serviço de um mundo melhor.
- Conexão com algo maior: conexão com algo maior do que você mesmo – um chamado, uma comunidade, o divino (independentemente do dogma).
Os tantos equívocos sobre espiritualidade nascem do desconhecimento. No Brasil, ainda a confundimos com misticismo, dogmas e religiosidade. Esquecemos que espiritualidade é uma dimensão humana, reconhecida inclusive pela ciência.
A pesquisadora Lisa Miller, PhD pela Universidade de Colúmbia, demonstra em suas pesquisas – amplamente publicadas – que essa dimensão pode ser identificada no cérebro humano. Desenvolvê-la, no entanto, é uma escolha individual e consciente.

Em seu livro "The Awakened Brain", Lisa nos dá pistas preciosas sobre o que acontece quando cultivamos ativamente essa dimensão:
- Um cérebro desperto é um cérebro mais saudável.
- Uma percepção desperta nos torna mais criativos, colaborativos, éticos e inovadores.
- Uma vida espiritual engajada aumenta coragem, otimismo e resiliência, ao mesmo tempo em que protege contra vícios, traumas e depressão.
No materialismo e racionalismo extremos que vivemos, esquecemos do que importa quando se trata de liderar, empreender e ser uma boa pessoa: questionar e investigar, de dentro pra fora, o que é ser humano, o que é estar vivo aqui, qual o sentido de tudo isso, o que é a existência, o que vamos fazer com nosso breve tempo por aqui.
Somente a partir dessas respostas vamos conseguir alinhar nosso fazer ao nosso ser.
Ainda confundimos espiritualidade com misticismo, dogmas e religiosidade. Esquecemos que ela é uma dimensão humana.
É justamente aí que o jogo muda – quando temos a coragem de inverter a ordem e começar pelo essencial: qual é a nossa melhor oferta para o mundo, aquilo que nasce da essência e só nós podemos entregar?
Quando um projeto ou negócio nasce dessa convergência, aumentam as chances de encontrar preenchimento, propósito e significado, mesmo diante de desafios que todo empreendedor conhece de perto.
Não é à toa que temos o Vale do Silício oferecendo programas de construção de startup dentro de retiros espirituais. Não é à toa que líderes e fundadores buscam integrar espiritualidade à vida pessoal e profissional, entendendo que é dessa fonte que nasce o verdadeiro impacto.
Precisamos reconhecer que existe um capital invisível – talvez o mais poderoso de todos – sustentando os negócios e o futuro que queremos construir. Um futuro feito por seres integrais, coerentes entre propósito, ação e presença. E é essa integração que fará toda a diferença nos anos que virão.
“A verdadeira revolução nos negócios é espiritual. Uma empresa deve ter alma.”
Marc Benioff, fundador da Salesforce