Este celular virou um trambolho difícil de usar (mas foi de propósito)
Inventor transforma o celular em peso de academia para reduzir o uso e atrai atenção com ideia absurda, mas eficaz

Logan Ivey já tentou de tudo para diminuir o tempo que passa diante da tela. Comprou um “dumbphone” moderno, projetado para ser usado o mínimo possível, testou um dispositivo chamado Brick, que bloqueia aplicativos e notificações distrativas e até recorreu a um celular flip clássico. Nada funcionou. Até que ele teve uma ideia radical: transformar seu iPhone em um peso de seis quilos.
O resultado é o 6 Pound Phone Case, uma capa de aço inoxidável robusta e desconfortável, feita para tornar o smartphone irritantemente difícil de usar.
Inspirada no design dos telefones “tijolão” dos anos 1980, ela transforma o leve e elegante iPhone em um trambolho – e é essa, justamente, a intenção. Ivey afirma que, nos dois meses em que vem usando o acessório, seu tempo de tela caiu pela metade.
Por enquanto, o 6 Pound Phone Case é apenas um protótipo, mas o criador lançou uma campanha no Kickstarter para financiar uma pequena produção, com preço inicial de US$ 210. O valor elevado, diz ele, se deve aos altos custos de fabricação e às tarifas sobre o aço nos EUA.
A invenção é a mais recente de uma série de soluções criativas que buscam “hackear” o cérebro dos usuários e combater o chamado doomscrolling – o hábito de ficar rolando infinitamente os feeds das redes sociais em busca de notícias e distrações.
Após o breve sucesso dos dumbphones no fim dos anos 2010, muitos perceberam que ainda precisavam das funções inteligentes (mapas, e-mails, buscadores) para viver no mundo real.
De lá para cá, surgiram ideias tão inusitadas quanto eficazes: um aplicativo que obriga o usuário a tocar na grama antes de liberar o scroll, uma capinha que transforma o celular em uma tela minúscula e até um app com um feijão animado que o repreende por abrir o Instagram. O 6 Pound Phone Case é o novo integrante dessa lista de detox digital – e talvez o mais extremo.
VENCENDO O VÍCIO PELO CANSAÇO
Ivey trabalha com redes sociais. É criador independente e produtor de conteúdo na Matter Neuroscience, empresa dedicada, segundo ele, a “ligar o comportamento cotidiano à ciência molecular”. Um dos projetos da companhia é um aplicativo que permite aos usuários acompanhar o próprio humor semanalmente, identificando o que impulsiona a felicidade.
Foi nesse processo que Ivey percebeu o quanto o celular drenava sua energia e bloqueava seus “neurotransmissores do bem-estar”. Tentou celulares simples, bloqueadores de apps e até celulares do tipo flip, mas, como seu trabalho depende das redes, percebeu que precisava de uma solução menos drástica.
“Perguntei a mim mesmo: ‘como posso manter todas as funções do meu celular e ainda assim usá-lo menos?’”, conta. “Aí pensei: e se ele fosse simplesmente pesado e incômodo de usar?”
Com apoio da Matter Neuroscience, Ivey se inspirou no formato dos celulares dos anos 1980 para desenhar a capa. O acessório tem superfícies planas e duas saliências nas extremidades, mantendo aberturas para carregamento, botões e câmera.

Só que o aço inoxidável, fixado com quatro parafusos que só saem com uma chave Allen, torna o celular quase impossível de segurar por muito tempo.
“Com seis quilos, suas mãos e braços se cansam ao usá-lo”, diz a página do Kickstarter. “Esse cansaço é o lembrete para largar o celular.”
Além disso, o tamanho exagerado impede que o aparelho caiba no bolso: é preciso carregá-lo na mochila ou deixá-lo em outro cômodo. “Isso significa menos notificações fantasmas, menos deslizadas na calçada e menos sessões de ‘apodrecimento cerebral’ no banheiro.”

Segundo Ivey, o uso do acessório reduziu seu tempo de tela de quatro horas e meia por dia (em média) para apenas duas.
Embora planeje vender algumas unidades com o apoio da Matter Neuroscience, ele não pretende patentear o design. A ideia, diz, é que outras empresas de capas para celulares possam explorar o conceito.
“Naqueles momentos em que a gente instintivamente pega o celular, eu já não faço mais isso”, afirma. “Ou porque não estou com ele, ou porque é pesado demais.”