Ibovespa em alta, IPOs em baixa: o que este contraste revela sobre seus investimentos em 2025
O Ibovespa vive um dos melhores momentos dos últimos anos, mas o mercado de ofertas de ações segue parado. Entenda o que está por trás dessa contradição e como ajustar sua estratégia

O Ibovespa vem renovando recordes e reforçando a atratividade da renda variável em 2025, mesmo com a Selic (taxa básica de juros) em 15% ao ano, patamar que costuma levar investidores para a renda fixa. Ainda assim, o mercado brasileiro não registra novos IPOs (Initial Public Offering ou Oferta Pública Inicial em português) desde 2021, enquanto o movimento inverso, de fechamento de capital, ganhou força com casos recentes como Pan e Gol.
AMBIENTE É DESAFIADOR
Esse descompasso mostra que o bom desempenho do índice “não reflete uma retomada plena do mercado de capitais”, segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. Para ele, a Selic alta mantém o custo de capital elevado, reduz o apetite por risco e torna o crédito privado uma alternativa mais eficiente de financiamento. Além disso, fatores como exigências regulatórias, custos de governança e baixa liquidez também desestimulam novas listagens.
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Na mesma linha, Gabriel Padula, CEO da Everblue, aponta que, apesar do avanço da bolsa, “o ambiente de mercado ainda é desafiador para novas captações”. Isso porque a combinação de Selic alta, com custo de capital elevado e baixa liquidez tem levado as empresas a buscarem “alternativas mais previsíveis”, como operações estruturadas fora da bolsa, com governança e lastro real, por exemplo.
SELIC INFLUENCIA CENÁRIO
O impacto dos juros sobre o mercado de capitais é consenso entre os analistas. Para Pedro Galdi, analista de investimento da AGF Investimentos, “juros elevados são inimigos da bolsa por roubarem fluxo de investidores locais e estrangeiros”.
E o cenário externo também pesa nas decisões, segundo Galdi. “O grande tomador de operações de IPO no Brasil sempre foi o investidor estrangeiro, mas os últimos anos trouxeram problemas geopolíticos, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, os conflitos entre Hamas e Israel e as tensões entre Paquistão e Índia, que aumentaram a incerteza global”, explica.
"Nenhuma empresa quer lançar ações com baixa demanda e preços abaixo do esperado"
Pedro Galdi, da AGF Investimentos
Galdi acrescenta que, embora os juros nos EUA estejam começando a cair, o risco fiscal brasileiro e as incertezas com as eleições de 2026 ainda mantêm os investidores em compasso de espera. “Nenhuma empresa quer lançar ações com baixa demanda e preços abaixo do esperado. Ninguém vai deixar dinheiro na mesa”, completa Galdi.
EMPRESAS ESTÃO RECOMPRANDO PAPÉIS
O movimento de fechamento de capital, que voltou a ganhar força, reflete tanto uma estratégia de gestão quanto a percepção de que a bolsa segue barata.
Galdi explica que esse cenário inviabiliza a captação de recursos de novas emissões e, nessa condição, o empresário analisa qual é a tendência: “Melhorou lá fora e aqui vai mudar... então o que é melhor? Manter custos de empresa de capital aberto ou comprar as ações que foram lançadas no passado a um preço muito maior do que o atual” são alguns dos questionamentos.
Padula complementa que esse cenário reforça a importância da estruturação de crédito fora da bolsa, como os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) e fundos estruturados, que têm ganhado protagonismo. “A bolsa pode estar aquecida, mas o crédito produtivo continua sendo o motor mais sólido da economia”, afirma Padula.
CENÁRIO TRAZ OPORTUNIDADES EM SETORES CONSOLIDADOS
Para o investidor pessoa física, o quadro de poucos IPOs e fechamento de capital não deve ser motivo de pânico, mas de atenção. Segundo Galdi, esse investidor “participou pouco dos lançamentos de ações” e tende a concentrar sua carteira em papéis já negociados ou mesmo migrar para a renda fixa, atraído pelos juros altos.
Leia mais: Este é o grupo que mais teme o futuro financeiro no Brasil; veja 4 dicas para economizar: Ibovespa em alta, IPOs em baixa: o que este contraste revela sobre seus investimentos em 2025Já Lima observa que, mesmo em um ambiente seletivo, ainda há oportunidades na bolsa, principalmente em setores com balanços sólidos, receitas em dólar e boa geração de caixa, como energia, agronegócio e infraestrutura.
Galdi complementa que o segmento bancário, de energia e saneamento também se destacaram entre os que puxaram a alta do Ibovespa em 2025 e continuam promissores para os próximos trimestres.
DIVERSIFICAÇÃO É A MELHOR ALTERNATIVA
Apesar do ambiente desafiador, há sinais de que o mercado pode se reaquecer à medida que os juros caiam e o cenário fiscal ganhe previsibilidade. Para Lima, a tendência é de maior seletividade, em que “qualidade e disciplina se tornam os novos diferenciais para capturar valor”.
Enquanto isso, o investidor pode aproveitar o momento para rever a estratégia de diversificação, equilibrando renda fixa, crédito privado e ações de empresas sólidas, preparando-se para quando o ciclo de IPOs finalmente voltar.