A aposta da OpenAI no Atlas: reinventar o browser com inteligência artificial
Empresa aposta em integração com ChatGPT para conquistar espaço em um mercado historicamente resistente a mudanças

Não satisfeita com os milhões de usuários que interagem diariamente com o ChatGPT, a OpenAI quer se entranhar ainda mais na vida digital das pessoas. A empresa acaba de lançar o Atlas, um navegador da web repleto de recursos de inteligência artificial que pretende disputar espaço com os gigantes do setor e alcançar adoção em larga escala.
O Atlas se soma a uma leva de navegadores turbinados por IA que vêm surgindo nos últimos meses. O Perplexity, mecanismo de busca baseado em respostas, lançou o Comet. A concorrente europeia Opera apresentou o Neon, também com funções próprias de IA.
Mesmo assim, a OpenAI talvez tenha mais chances do que a maioria de desafiar o Google Chrome, que domina cerca de 70% do mercado global, segundo dados da Statcounter.
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Ainda assim, analistas acreditam que será difícil abalar a supremacia do navegador do Google. “É difícil fazer as pessoas mudarem de navegador”, afirma Johnny Ryan, pesquisador do Open Markets Institute, que estuda como os usuários escolhem diferentes serviços digitais.
A confiança da OpenAI não é infundada. O ChatGPT tornou-se um sucesso em poucas semanas, graças à sua interatividade inédita. No início de 2025, a empresa lançou o Sora 2, gerador de vídeos que acumulou um milhão de usuários em apenas cinco dias. Mas, para o público em geral, navegadores web continuam sendo ferramentas pouco empolgantes.
A verdade é que, para a maioria das pessoas, um navegador é um software utilitário, feito apenas para levar o usuário de um site a outro. Desde que funcione de forma estável e sem comprometer o desempenho do dispositivo, quase ninguém se preocupa em mudá-lo.
NAVEGADORES COM IA ENTRAM EM CENA
Nos 15 anos de histórico da Statcounter sobre participação de mercado de navegadores, apenas dois dominaram o setor. Até 2012, o Internet Explorer reinava soberano, com participação entre 80% e 95%. Mas, à medida que concorrentes foram oferecendo mais recursos e melhor desempenho, a hegemonia da Microsoft entrou em declínio.
Na Europa, a queda foi acelerada após um acordo de 2009 entre a empresa e a Comissão Europeia, que obrigava a Microsoft a exibir aos usuários uma tela de “escolha de navegador”, informando que havia alternativas ao Internet Explorer. Quando a mudança foi implementada, entre 2011 e 2012, o Google Chrome tomou a liderança.
o impacto ambiental da IA pode frear a adoção do novo navegador.
Os poucos que deixam de usar os navegadores mais populares geralmente o fazem por razões éticas (como preferir o navegador DuckDuckGo, por rejeitarem a coleta de dados) ou por gosto pessoal.
“O mercado de navegadores é formado por três grandes opções, que vêm pré-instaladas em seus respectivos sistemas operacionais. Além delas, há um grupo de usuários que busca uma experiência de navegação diferente e melhor”, explica Jan Standal, vice-presidente da Opera.
O fato é que a maioria continua fiel ao navegador padrão, a menos que enfrente graves problemas de desempenho. “Há 15 ou 20 anos, eu costumava trocar de navegador com frequência, por causa de recursos então revolucionários, como abas, suporte multimídia ou personalização por extensões. Mas hoje, todos são muito parecidos”, comenta um analista. Mesmo a integração com IA, que é o principal atrativo de marketing do Atlas, já aparece em diversos navegadores concorrentes.

Na prática, se o navegador funciona bem, os usuários tendem a mantê-lo, e isso tem sido verdade há décadas. O Internet Explorer liderou o mercado até o início dos anos 2010 simplesmente por vir instalado como padrão no Windows, sem que muitos soubessem que havia alternativas.
Ryan observa, porém, que o Atlas tem um ponto a seu favor: o crescente descontentamento com o desempenho do Chrome. Muitos usuários reclamam de seu consumo excessivo de CPU e memória, com abas que rapidamente sobrecarregam o dispositivo. “À medida que o Chrome piora, o incentivo para trocá-lo aumenta”, diz ele.
Por outro lado, o especialista pondera que o impacto ambiental da IA pode frear a adoção do novo navegador. “Com o aumento das preocupações sobre data centers de IA provocando apagões e escassez de água, será que esse é realmente o navegador que as pessoas vão querer usar?”, questiona.