Proposta do Brasil pode recolocar o país à frente do combate à mudança climática
Governo brasileiro propõe a criação de metas globais alinhadas aos limites de temperatura definidos pelo Acordo de Paris

Nas Ilhas Marshall, que estão, em média, a apenas dois metros acima do nível do mar, os efeitos das mudanças climáticas já são sentidos pela população. Os habitantes vivem nesse arquipélago do Pacífico há milhares de anos, mas o avanço do mar agora inunda com frequência comunidades inteiras e contamina plantações com água salgada.
Além disso, o aquecimento dos oceanos também tem causado episódios de branqueamento em massa de corais, prejudicando habitats essenciais para o turismo e a pesca, pilares da economia local.
Se o mundo não conseguir reduzir as emissões de gases de efeito estufa que agravam a crise climática, estudos indicam que ilhas baixas como as Ilhas Marshall poderão se tornar inabitáveis nas próximas décadas.
Mas o problema vai muito além das ilhas. Países em todos os continentes já enfrentam tempestades mais intensas, ondas de calor extremo e a elevação do nível do mar conforme as temperaturas globais sobem.

Mesmo após 30 anos de negociações internacionais e depois de uma década do tratado global que prometia conter o aquecimento, além de trilhões de dólares em prejuízos, o mundo ainda está longe de frear o aumento das temperaturas. As emissões de gases de efeito estufa atingiram níveis recordes em 2024 – o ano mais quente já registrado no planeta.
Estamos acompanhando as novas metas climáticas dos países – conhecidas como contribuições nacionalmente determinadas (NDCs, na sigla em inglês) – para entender quem está avançando, quem está recuando e quem está propondo soluções capazes de garantir um futuro mais seguro para todos.
NOVAS PROMESSAS
Mesmo com a pressão do governo de Donald Trump para que outros países abandonem seus compromissos climáticos, muitos seguem firmes.
A China, atualmente o maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, foi elogiada por alcançar suas metas de energia limpa cinco anos antes do previsto. A rápida expansão da produção de energia renovável e da fabricação de veículos elétricos reduziu a poluição nas cidades chinesas, impulsionou a economia e ampliou a influência global do país.
O presidente Xi Jinping anunciou a primeira meta absoluta de redução de emissões da China: cortar entre 7% e 10% das emissões líquidas até 2035, em relação ao pico atual. O país também se comprometeu a triplicar a geração de energia solar e eólica e ampliar seus programas de reflorestamento.
Embora ativistas e outros governos esperassem metas mais ambiciosas, o novo plano representa uma mudança importante em relação aos anteriores, que se baseavam apenas na intensidade de carbono – ou seja, reduziam as emissões por unidade de produção econômica, mas ainda permitiam o aumento das emissões totais.
A União Europeia ainda não apresentou suas novas metas, mas os 27 países do bloco enviaram uma carta de intenção se comprometendo com uma redução coletiva de 66% a 72% nas emissões líquidas até 2035, em comparação com os níveis de 1990.

O crescimento acelerado das energias renováveis no continente foi impulsionado, em parte, pela invasão da Ucrânia pela Rússia, que comprometeu o fornecimento de gás natural. A UE também avançou ao estender suas políticas de precificação de carbono para além de suas fronteiras.
O Mecanismo de Ajuste de Carbono nas Fronteiras, que entrará em vigor em janeiro de 2026, será o primeiro sistema a cobrar pelo impacto climático de produtos importados de países que não possuem regras equivalentes. A medida, criada para equilibrar a competitividade das indústrias europeias, estabelece um precedente global ao vincular as emissões de carbono ao comércio internacional.
A PROPOSTA DO BRASIL PARA COMBATER A MUDANÇA CLIMÁTICA
O Brasil, por sua vez, prometeu reduzir suas emissões líquidas entre 59% e 67% até 2035 e manter a meta de neutralidade de carbono até 2050. No entanto, foi criticado por aprovar planos de exploração de petróleo próximos à foz do rio Amazonas.
Para fortalecer os esforços nacionais e aumentar a transparência, o governo propôs uma nova abordagem chamada “contribuição globalmente determinada”.
Diferente do Protocolo de Kyoto, de 1997 – que impunha metas fixas de redução de emissões para cada país com base em níveis históricos – e do Acordo de Paris, de 2015 – que permite que cada nação defina suas próprias metas –, a proposta do governo brasileiro criaria metas globais alinhadas aos limites de temperatura definidos pelo Acordo de Paris.

A contribuição globalmente determinada poderia, por exemplo, estabelecer que o mundo deve triplicar a geração de energia renovável e reverter o desmatamento até 2030. Metas desse tipo ofereceriam um caminho mais claro para a ação.
O novo formato também permitiria contabilizar o esforço de estados e cidades de forma independente, incentivando uma participação mais ativa dos governos locais.
Como anfitrião da Conferência do Clima da ONU, que acontecerá entre 10 e 21 de novembro de 2025, o Brasil está em uma posição privilegiada para liderar essa proposta.
A iniciativa pode representar uma oportunidade única para que os países fortaleçam coletivamente seus compromissos climáticos e reformulem a linguagem dos tratados, abrindo caminho para avanços reais.
Este artigo foi republicado do “The Conversation” sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.