Por que tomar a decisão mais racional nem sempre é a melhor decisão
A teoria da escolha racional é um péssimo modelo para entender o que é uma decisão verdadeiramente racional

Não existe uma calculadora para as decisões da vida. Por mais que tentemos quantificar, contar e calcular para chegar à “escolha certa”, não é assim que funciona o processo de tomar uma decisão com sabedoria. Julgamento qualitativo, preferências e valores são essenciais para identificar o melhor caminho diante de nós.
A seguir, os coautores Barry Schwartz e Richard Schuldenfrei apresentam três insights de seu novo livro "Choose Wisely: Rationality, Ethics, and the Art of Decision-Making" ("Escolha com sabedoria: racionalidade, ética e a arte de decidir", em tradução livre).
1. A TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL
Na economia, a teoria da escolha racional propõe que existe um método racional para tomar decisões, que exige considerar dois fatores:
- Qual é o valor das opções em análise?
- Qual é a probabilidade de a escolha corresponder às expectativas?
Vivemos em um mundo incerto. Por isso, avaliamos o valor e a probabilidade de cada opção, multiplicamos os dois e obtemos a chamada utilidade esperada. A escolha racional seria aquela que oferece o maior retorno esperado.
Esse modelo compara nossas escolhas na vida às decisões feitas em um cassino. Qual é a melhor jogada no blackjack? Quais são as chances e recompensas na roleta? Nesse contexto, só importam o quanto se pode ganhar e a probabilidade de vitória. A teoria sugere que a maioria das nossas decisões deveria seguir essa lógica.

Para estimar o quanto uma opção pode ser boa e qual a chance de isso ocorrer, tudo deve ser quantificado. A ideia é montar uma planilha com todos os fatores relevantes para a decisão, atribuir valores e probabilidades a cada alternativa, rodar o cálculo e pronto: decisão racional tomada.
Nesse modelo, decisões racionais são quantitativas. É preciso atribuir números tanto ao valor de cada opção quanto à chance de atingi-lo.
A teoria, porém, não diz nada sobre quais deveriam ser nossas preferências, valores ou opções disponíveis. Esses elementos são dados: você tem os valores que tem, recebe as opções que o mundo oferece, calcula e escolhe a melhor. Esse é o modelo econômico clássico.
2. COMO AS OPÇÕES SÃO APRESENTADAS
Será que nos comportamos como decisores racionais? Definitivamente não. A economia comportamental mostra exatamente o contrário.
As pessoas têm dificuldade em lidar com probabilidades. São fortemente influenciadas pela forma como as opções são apresentadas. Costumam dividir escolhas em diferentes “contas mentais” e não enxergam o impacto total de suas decisões.
Somos também guiados por “âncoras”: um terno de US$ 500 parece barato em meio a peças de US$ 1 mil, mas caro se estiver cercado por itens de US$ 200. Esses vieses às vezes nos levam a boas escolhas e outras vezes, a grandes erros.

O ganhador do Nobel de Economia Daniel Kahneman identificou dois processos envolvidos na tomada de decisão:
- Processo consciente: pondera prós e contras; é lento, exigente e deliberado.
- Processo automático: oferece respostas imediatas, antes mesmo de formular a pergunta; é rápido e inevitável.
Esses sistemas se influenciam mutuamente, e o segundo pode facilmente desviar o primeiro. Mesmo quando acertamos, o caminho raramente é o proposto pela teoria racional.
3. NEM TUDO PODE (OU DEVE) SER CALCULADO
A teoria da escolha racional é um péssimo modelo para entender o que é uma decisão verdadeiramente racional. Afinal, nossas decisões são mesmo comparáveis a apostas em um cassino? Tudo que importa pode ser quantificado?
Ao escolher um emprego, por exemplo, é possível medir salário ou benefícios. Mas como quantificar colegas de trabalho, propósito, motivação, qualidade de vida ou oportunidades de crescimento? Reduzir tudo a números parece absurdo.

O mesmo vale para a escolha de uma universidade: taxas de conclusão do curso e salário médio pós-formatura podem ser mensuráveis, mas e a experiência acadêmica, a vida social, a alimentação, a moradia?
Seguir à risca esse modelo significa substituir reflexão por cálculo. Em algumas áreas da vida isso pode até funcionar, mas em muitas outras, sufocar a subjetividade leva a decisões piores, limitadas, empobrecidas.
Ao priorizar apenas o que é comparável e mensurável, a teoria ignora todo o resto. Decidir de maneira racional exige julgamento, e não apenas números.
Este texto foi publicado no Next Big Idea Club e reproduzido com permissão. Leia o artigo original.