Conheça a equipe de apenas 3 pessoas que desenhou o maior museu do mundo
Com um custo total estimado em mais de US$ 1 bilhão, o Grande Museu Egípcio pode ser considerado o projeto de museu mais grandioso das últimas décadas

Com mais de 100 mil artefatos que remontam a milhares de anos, cerca de 83 mil metros quadrados de área construída, um terreno de mais de 120 acres e um custo total estimado em mais de US$ 1 bilhão, não é exagero chamar o Grande Museu Egípcio, nos arredores da cidade do Cairo, de o projeto de museu mais grandioso das últimas décadas.
É o tipo de construção monumental capaz de fazer qualquer arquiteto-celebridade salivar diante da possibilidade de assinar o que provavelmente se tornará uma das atrações turísticas mais visitadas do Egito.
Por isso, olhando para trás, causa certa surpresa o fato de o escritório responsável pelo projeto vencedor do concurso internacional realizado em 2002 ser uma firma pouco conhecida da Irlanda, sem nenhuma obra concluída e apenas três funcionários.
O conceito da Heneghan Peng Architects foi escolhido de forma unânime entre mais de 1,5 mil propostas. “Nós tínhamos apenas um projeto começando no canteiro de obras quando vencemos o concurso”, conta Róisín Heneghan, cofundadora da empresa.

Muita coisa mudou desde então. A inauguração estava prevista inicialmente para 2007, mas sucessivos atrasos provocados pela crise financeira global, pela Primavera Árabe e pela pandemia de Covid-19 esticaram o cronograma por anos. O projeto da Heneghan Peng Architects agora está totalmente concluído e, desde 1º de novembro, aberto ao público.
MILÊNIOS DE HISTÓRIA
O design do Grande Museu Egípcio se espalha por grandes halls com dimensões de hangares de avião, jardins, laboratórios de conservação e uma rede de instalações subterrâneas de armazenamento. O edifício em si é um espaço cavernoso com 12 galerias principais e vista direta para as pirâmides de Gizé.
Um vasto saguão de entrada fica sob um alto telhado denteado, que também funciona como pavilhão ao ar livre, sombreando a área de bilheteria onde se destaca uma estátua de Ramsés II com cerca de nove metros de altura e mais de três mil anos de idade. Na fachada, ao longo da paisagem e até na estrutura do edifício, a geometria piramidal se repete sem pudor.

Com um terreno escolhido próximo às famosas pirâmides, na borda da malha urbana do Cairo, ficou claro desde o início que o museu ocuparia a zona de transição entre o deserto e o vale do Nilo – uma área moldada ao longo de milênios pelo fluxo do rio.
Apesar dos tetos grandiosos capazes de abrigar estátuas colossais, o prédio se mantém baixo, com boa parte do seu volume abaixo do nível do solo.
O projeto utiliza grandes passagens e vistas internas para proporcionar ao visitante uma percepção ampla da extensa história representada nas galerias.
A primeira parte que os visitantes encontram ao entrar é uma longa escadaria ladeada por milhares de artefatos, sarcófagos e esculturas que percorrem os quatro mil anos da história faraônica do Egito. Uma espécie de curso intensivo para o público majoritariamente internacional antes de chegar ao topo, onde se aprofundam períodos específicos da antiga civilização.

As principais galerias abordam temas como reis e rainhas, sistemas religiosos e sociedade egípcia, incluindo uma grande coleção de itens do túmulo de Tutancâmon. A distribuição permite que cada galeria tenha identidade própria, mas mantendo conexões visuais entre si, situando cada parte dentro de uma narrativa histórica mais ampla.
GRANDE MUSEU EGÍPCIO, UMA GRANDE OBRA DE ENGENHARIA
Os arquitetos também precisaram lidar com a realidade de projetar uma estrutura tão grandiosa sob o calor do deserto egípcio.
Para reduzir custos operacionais, as galerias foram projetadas para receber luz natural por ângulos laterais, filtrada por estruturas metálicas e grandes beirais – favorecendo também a preservação das peças expostas.

Para suportar o peso das estátuas, o edifício conta com pisos de concreto extremamente espessos, que ajudam a regular o clima interno: absorvem o frescor das noites e liberam lentamente essa temperatura ao longo do dia. “O que tentamos fazer foi criar uma estrutura bem pesada, como uma igreja”, explica Heneghan.
Com tantos atrasos ao longo do tempo, Heneghan afirma que o escritório teve pouca participação direta no projeto desde que ele foi praticamente finalizado, por volta de 2009. “Quando entrou na fase de construção, já não estávamos realmente envolvidos”, diz.

Desde então, a obra evoluiu com mudanças estruturais, tecnológicas e de materiais que alteraram o desenho original. Mas alguns elementos centrais permanecem como previstos em 2002.
Ela demonstra satisfação ao ver que marcos como a grande escadaria que leva às galerias principais e as vistas diretas para as pirâmides resistiram ao teste do tempo. “Algumas coisas são exatamente como imaginamos”, conclui.



