O que é o solucionismo tecnológico e por que ele pode ser perigoso

O conceito levanta debate sobre os riscos de tratar a tecnologia como solução para problemas sociais

Solucionismo tecnológico
A transparência como desafio na era da inteligência artificial. Crédito: Imagem gerada com auxílio de IA via Copilot

Gabriel Nassif 3 minutos de leitura

O avanço da tecnologia e o uso crescente de Inteligência Artificial (IA) trouxeram o debate sobre o chamado “solucionismo tecnológico.” A ideia do conceito é que toda questão social, política ou econômica pode ser resolvida por meio da inovação digital.

O termo abordado pela cientista da computação Nina, em artigo publicado na MIT Technology Review Brasil, tem ganhado destaque por expor como empresas e governos utilizam a tecnologia como resposta automática para desafios, sem considerar os impactos sociais.

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O que é o “solucionismo tecnológico”?

O conceito surgiu no Vale do Silício e defende que a tecnologia pode corrigir falhas estruturais da sociedade. Essa visão faz com que empresas e desenvolvedores tratem algoritmos e sistemas automatizados como soluções universais.

No entanto, pesquisadores afirmam que esse modelo ignora desigualdades e transfere a responsabilidade de resolver problemas que exigem políticas públicas e decisões humanas à tecnologia.

Falta de transparência em sistemas automatizados

Um dos principais desafios do solucionismo tecnológico é a opacidade dos algoritmos. Na pesquisa “Como a máquina ‘pensa’: entendendo a opacidade em algoritmos de aprendizado de máquina”, a pesquisadora Jenna Burrel explica que existem três tipos de opacidade.

A primeira é a opacidade intencional, quando empresas não divulgam como os sistemas funcionam. A segunda é a não-alfabetizada, quando apenas especialistas entendem os processos. Por fim, a opacidade intrínseca, quando a própria estrutura algorítmica é complexa demais.

A falta de clareza sobre esses mecanismos afeta diretamente decisões em áreas como concessão de crédito, moderação de conteúdo e recomendação de notícias. Casos que envolvem erros em sistemas de IA indicam a necessidade de auditorias externas e regras mais claras sobre o uso desses recursos tecnológicos.

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Desafios para a regulação no Brasil

No Brasil, a regulação tecnológica avança devagar. O Projeto de Lei das Fake News (PL 2630/2020) e o Marco Legal da Inteligência Artificial tentam criar diretrizes para o uso ético e transparente de dados.

No entanto, Nina aponta que as propostas ainda apresentam falhas, especialmente ao equiparar redes sociais a meios de comunicação tradicionais, o que pode reduzir a responsabilidade jurídica das empresas sobre conteúdos ilegais.

Outro ponto destacado pela cientista da computação é a baixa alfabetização digital no país, que limita a compreensão da população sobre o funcionamento e os riscos dessas tecnologias.

A ausência de políticas públicas específicas deixa espaço para que grandes corporações determinem práticas e hábitos de uso dessas tecnologias sem fiscalização adequada.

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Projetando um caminho para o futuro

A ampliação da transparência, a criação de auditorias independentes e o investimento em educação digital são apontados como medidas necessárias para equilibrar os benefícios da tecnologia com a proteção dos direitos individuais.

Especialistas defendem que o desenvolvimento tecnológico deve considerar o contexto social e não substituir responsabilidades humanas.

O debate sobre o solucionismo tecnológico não busca rejeitar a inovação, mas questionar sua aplicação. Pesquisadores acreditam que a tecnologia reflete as decisões humanas e deve ser acompanhada por políticas públicas e mecanismos de controle.

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SOBRE O AUTOR

Jornalista, com experiência em produção de matérias e conteúdos multiplataforma. Atuou em veículos independentes e comunitários, além ... saiba mais