A COP30 deve ser o momento em que o mundo se compromete a acabar com os combustíveis fósseis
Belém oferece uma oportunidade simbólica e prática para realinhar a ambição global com a realidade planetária

À medida que o mundo se prepara para se reunir em Belém, para a COP30, fazemos um apelo a todos os chefes de Estado e representantes de governo presentes: que este seja o momento em que o mundo finalmente se una em torno de um plano para abandonar os combustíveis fósseis nas próximas duas décadas.
A abordagem responsável, e a única escolha moral e econômica, é iniciar essa transição imediatamente. A COP30 deve ser o marco em que as nações do mundo concordem em adotar medidas concretas e coletivas para eliminar gradualmente a queima de carvão, petróleo e gás, construindo um futuro baseado em energias limpas e que já está ao nosso alcance.
A ciência é inequívoca, e as consequências estão visíveis em toda parte: enchentes devastadoras, ondas de calor, incêndios e secas estão apagando décadas de progresso em desenvolvimento e justiça social.
A mudança climática não é uma ameaça distante, é um ataque direto às conquistas globais de erradicação da pobreza e da fome, proteção do meio ambiente e garantia da paz e estabilidade. Cada tonelada de carbono emitida aprofunda a desigualdade e enfraquece as bases do progresso humano. Nenhuma nação, por mais rica ou isolada que seja, está imune.
Desenvolvimento e combustíveis fósseis já estiveram interligados, mas hoje essa relação se rompeu. Continuar dependendo de combustíveis fósseis já não traz prosperidade – traz destruição. Compromete a segurança alimentar, impulsiona a migração, aumenta os custos de saúde e alimenta conflitos.
Em todo o mundo, as comunidades que menos contribuíram para o problema são as que mais sofrem com seus efeitos. Isso não é justo, nem sustentável. A única forma de garantir um século estável e pacífico é eliminar gradualmente a queima de combustíveis fósseis e substituí-los por fontes de energia limpas, renováveis e equitativas.
Reconhecemos os reais desafios dessa transição, especialmente em países em desenvolvimento, onde a demanda por energia continua crescendo e os combustíveis fósseis ainda sustentam muitas economias.

Líderes de nações na América Latina, Ásia e África enfrentam fortes pressões para expandir a produção de petróleo. Isso torna a solidariedade e o apoio global essenciais para uma transição justa e viável.
Essa transição não é um fardo, é uma oportunidade de proporções históricas. O custo das energias renováveis despencou na última década. A energia solar e a eólica já são as fontes mais baratas de nova eletricidade na maioria dos países.
Tecnologias limpas, como mobilidade elétrica, armazenamento de energia, hidrogênio verde e redes inteligentes, estão avançando mais rápido do que qualquer previsão.
Na África, Ásia, América Latina e além, sistemas solares distribuídos e mini redes estão levando eletricidade a quem nunca teve acesso, de forma rápida, acessível e sem poluição. Em áreas urbanas e rurais, essas tecnologias estão gerando empregos, melhorando a saúde e dando às comunidades controle sobre seu próprio futuro energético.

Os líderes empresariais já compreendem isso. Investimentos em energia renovável, infraestrutura verde e indústrias sustentáveis não são apenas escolhas éticas; são as decisões econômicas mais racionais. As indústrias de energia limpa estão criando milhões de novos empregos, estimulando a inovação e fortalecendo a independência energética.
As renováveis são também mais seguras para nações que hoje dependem da importação de combustíveis fósseis, reduzindo a vulnerabilidade a choques de preços e instabilidade geopolítica.
Em contraste, os combustíveis fósseis expõem os países a preços voláteis, instabilidade e ativos encalhados. A transição limpa é, em todos os sentidos, o caminho para a resiliência e a prosperidade econômicas.
Enfrentar esses desafios exige um grande avanço no financiamento climático e de transição. Sem ele, as nações mais vulneráveis do mundo não conseguirão agir na velocidade necessária.

Reconhecemos também que essa transição deve ser justa e inclusiva. Trabalhadores, comunidades e países em desenvolvimento que hoje dependem das economias baseadas em combustíveis fósseis merecem apoio e parceria para se diversificar e prosperar. Isso requer cooperação internacional, não competição; coordenação, não isolamento.
A tarefa diante de nós é imensa, mas o custo da inação é incomensuravelmente maior.
É por isso que a COP30 é tão crucial. Três décadas após a Cúpula da Terra no Rio ter colocado o desenvolvimento sustentável no centro da diplomacia global, e 10 anos após o Acordo de Paris sobre o clima, o mundo retorna ao Brasil diante de um desafio existencial. Belém oferece uma oportunidade simbólica e prática para realinhar a ambição global com a realidade planetária.

Os líderes devem chegar prontos para ir além das palavras e das metas. Devem se comprometer com um plano claro e coordenado para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis nos próximos 20 anos, com marcos mensuráveis e mecanismos de prestação de contas.
As ferramentas estão em nossas mãos. A economia está do nosso lado. O argumento moral é inegável. O que falta agora é coragem e unidade. O mundo já mostrou que, diante de desafios globais, é capaz de agir em conjunto – para acabar com guerras, curar doenças e reconstruir após crises. Este é um desses momentos.
À medida que vocês e seus representantes se reúnem no Brasil, têm a oportunidade de mostrar às futuras gerações que estiveram à altura do maior teste do nosso tempo. O caminho para além dos combustíveis fósseis não é de sacrifício, mas de renovação. De ar mais limpo, pessoas mais saudáveis, sociedades mais seguras e economias prósperas.
Assinam este manifesto:
Hindou Oumarou Ibrahim, presidente dos Planetary Guardians, do Fórum Permanente da ONU sobre Questões Indígenas e da AFPAT
Paul Polman, vice-presidente dos Planetary Guardians, líder empresarial, co-fundador da Imagine e co-autor de "Net Positive"
Juan Manuel Santos, vice-presidente dos Planetary Guardians, ex-presidente da Colômbia, Prêmio Nobel da Paz e presidente do grupo de líderes globais The Elders
Ayisha Siddiqa, ativista climática e de direitos humanos, fundadora e diretora executiva do Future Generations Tribunal
Carlos Nobre, cientista do sistema terrestre, defensor da Amazônia e copresidente do Painel Científico para a Amazônia
Christiana Figueres, diplomata costarriquenha, arquiteta do Acordo de Paris, cofundadora da Global Optimism e presidente do conselho de curadores do The Earthshot Prize
David Suzuki, cientista, comunicador e autor canadense, cofundador da Fundação David Suzuki
Farwiza Farhan, líder de conservação indonésia, fundadora da HAkA, defensora do ecossistema de Leuser e vencedora do Prêmio Ramon Magsaysay 2024
Hiro Mizuno, líder em finanças sustentáveis, ex-CIO do fundo japonês GPIF, conselheiro especial do CEO da MSCI e ex-emissário especial da ONU para finanças inovadoras
Mamphela Ramphele, médica e ativista sul-africana, cofundadora da ReimagineSA e ex-copresidente do Clube de Roma (2018–2023)
Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e ex-alta comissária da ONU para direitos humanos, ex-presidente (2018 - 2024) e membro do The Elders
Naoko Ishii, líder em sustentabilidade e economista, diretora do Center for Global Commons e enviada especial presidencial da Universidade de Tóquio, ex-CEO e presidente do Global Environment Facility
Omar Yaghi, prêmio Nobel de Química 2025, professor de química da Universidade da Califórnia/ Berkeley e pesquisador sênior do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley
Ralph Chami, economista financeiro, cofundador da Blue Green Future e da Rebalance Earth, pioneiro em finanças baseadas na ciência”
Sunita Narain, ambientalista e autora, diretora geral do Centro para Ciência e Meio Ambiente e editora da revista "Down To Earth"
Sylvia Earle, oceanógrafa, exploradora e autora, participante da série Explorer at Large, presidente e chair da Mission Blue
Wade Davis, antropólogo cultural e autor, professor e diretor da cátedra de Culturas e Ecossistemas da Universidade da Colúmbia Britânica
Xiye Bastida, ativista climática indígena, cofundadora e diretora executiva da Re-Earth Initiative
Lord Fakafanua, presidente da Câmara do Reino de Tonga
Jean-Michel Cousteau, presidente e CEO da Ocean Futures Society
Jesper Brodin, CEO do Ingka Group/ Ikea e presidente do The B Team
Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático
Lavinia Currier, cineasta
Mo Ibrahim, fundador e presidente da Fundação Mo Ibrahim
Rita Colwell, microbióloga ambiental e professora universitária emérita
Sven Lindblad, fundador da Lindblad Expeditions e membro da organização Ocean Elders