Brasil: um país de vulneráveis digitais

Sem letramento digital, o país corre o risco de ampliar desigualdades estruturais e comprometer sua competitividade global

Créditos: Prostock Studio/ Deagreez/ Stefan Alfonso/ Getty Images

Carmela Borst e Cintia Hachiya 2 minutos de leitura

O Brasil vive uma contradição: ao mesmo tempo em que figura entre os países mais conectados do mundo, segue com grande parte da população excluída do uso produtivo da tecnologia.

Apenas 3% dos brasileiros possuem competências digitais avançadas, enquanto cerca de 50% não dominam sequer tarefas básicas, como enviar um e-mail com anexo. A penetração do WhatsApp chega a 73% da população.

Ainda assim, estar online não significa estar incluído. Letramento digital não é sobre acessar uma rede social. É sobre usar a tecnologia para aprender, trabalhar, empreender, acessar serviços públicos e participar da vida econômica e cidadã.

Sem letramento digital – e, agora, sem letramento em inteligência artificial – o país corre o risco de ampliar desigualdades estruturais e comprometer sua competitividade global.

LETRAMENTO DIGITAL COMO INFRAESTRUTURA SOCIAL

Com esse entendimento, a SoulCode Academy, edtech brasileira de inclusão digital, vem mobilizando empresas, governos e organizações para acelerar o desenvolvimento digital inclusivo no país.

Em uma de suas frentes, a organização atua diretamente nos territórios, em regiões onde o acesso à formação tecnológica é limitado, levando capacitação em competências digitais e fundamentos de IA para mulheres empreendedoras rurais, trabalhadoras de base e comunidades locais.

As formações já passaram por Itapiranga (AM), Pecém (CE) e Paço do Canaã (MA), com turmas de agricultoras, artesãs e empreendedoras que aprendem desde o uso seguro do celular até aplicações práticas de IA, como previsão climática para a colheita, organização financeira e estratégias de comercialização pelas redes sociais.

No Vale do Jequitinhonha (MG), a SoulCode realizou uma formação especial de letramento digital com IA para artesãs e tecelãs de tapete arraiolo – mulheres que unem tradição e inovação.

A partir dessa vivência, elas descobriram como o uso da tecnologia pode valorizar o artesanato, ampliar canais de venda e fortalecer o turismo cultural e criativo da região.

INOVAÇÃO COM SENTIDO

A SoulCode nasceu para democratizar o acesso ao conhecimento tecnológico, traduzindo o complexo e mostrando que inovação não é privilégio das grandes capitais, laboratórios corporativos ou hubs universitários.

Mas a transformação é também identitária. Quando uma mulher entende que pode usar a tecnologia para valorizar seu trabalho, seja na roça, no ateliê ou na cozinha, ela transforma sua história – e a da sua comunidade.

Só 3% dos brasileiros têm competências digitais avançadas; 50% não dominam nem tarefas básicas.

O Brasil só será digital se todas as pessoas forem digitais. E isso significa formar pessoas, criando autonomia, produtividade e inclusão econômica onde ela mais transforma.

O Brasil ainda é um país de vulneráveis digitais. Mas pode se tornar referência em inclusão digital inteligente – aquela que combina tecnologia, propósito e impacto real.

Quando o conhecimento chega a quem mais precisa, a inclusão deixa de ser promessa e se torna: geração de renda, fortalecimento de economias locais, cidadania ampliada  e desenvolvimento sustentável.

Tecnologia é ferramenta. Inclusão é escolha. E o futuro, quando compartilhado, é multiplicador.


SOBRE A AUTORA

Carmela Borst é fundadora e CEO da edtech de inclusão digital SoulCode Academy. Cintia Hachiya é executiva de marketing e mentora soci... saiba mais