A verdadeira ameaça à arte e aos artistas não é a IA, é o medo da IA
CEO argumenta que a tecnologia não substitui o trabalho dos artistas – ela o complementa

Quando a câmera fotográfica foi inventada, em 1826, muitos acreditaram que a pintura estava com os dias contados, mas isso não aconteceu.
Os pintores encontraram novas maneiras de se expressar. Deram origem a movimentos como o expressionismo, o impressionismo e a arte abstrata. Monet, Munch e, mais tarde, Picasso seguiram criando, mesmo com a chegada da fotografia.
Quando os computadores pessoais se popularizaram, nos anos 1980, surgiu o medo de que o pensamento criativo poderia perder seu valor. Mas eles abriram portas para o design digital, a animação e novas formas de contar histórias. Estúdios como a Pixar, criada em 1986, mostraram como a tecnologia poderia ajudar artistas a criar mundos que antes eram impossíveis.
Quando o Photoshop foi lançado, em 1988, muitos fotógrafos ficaram com medo de que as ferramentas de edição pudessem destruir a “pureza” da fotografia. Mas o resultado foi o contrário: o software ampliou as possibilidades de criação e tornou a expressão visual mais acessível, ajudando a impulsionar a economia criativa moderna.
A história revela um padrão: novas tecnologias nunca substituíram a criatividade – sempre a ampliaram. Cada avanço tecnológico vem acompanhado de novas oportunidades.
A inteligência artificial é só o próximo capítulo dessa história. Ela pode ajudar criadores a trabalhar com mais agilidade, explorar mais possibilidades e transformar a imaginação em realidade com menos obstáculos.

Mas transformar ideias em algo que outras pessoas possam ver, ouvir ou sentir depende de alguns fatores concretos: tempo, ferramentas, acesso e recursos. E é justamente aí que muitos criadores esbarram.
Nem todo mundo consegue imaginar um universo interessante. Mesmo aqueles que conseguem, muitas vezes não têm os meios para tirá-lo do papel de um jeito que envolva o público. É aqui que a IA entra. Ela não cria alma, mas derruba barreiras ao reduzir os custos, o tempo, as habilidades e os recursos necessários para dar vida a uma obra.
Nesse sentido, a inteligência artificial é um multiplicador da criatividade. Assim como os smartphones democratizaram a fotografia, a IA pode democratizar a arte de contar histórias.
COLABORAÇÃO, NÃO SUBSTITUIÇÃO
No meu trabalho construindo uma plataforma de histórias em áudio, vejo diariamente como a IA apoia criadores – não os substitui. Nossa plataforma permite que qualquer pessoa escreva e publique narrativas serializadas. Para ajudar nesse processo, criamos ferramentas de IA que funcionam como parceiras criativas. Elas não escrevem pelos autores, apenas os auxiliam.
A IA ajuda a manter consistência ao longo de centenas de episódios, sugere caminhos quando falta inspiração e oferece feedback imediato sobre ritmo e diálogos. Há ferramentas para transformar texto em voz natural, adicionar sons de fundo e criar ilustrações – recursos que antes só existiam em estúdios profissionais.
A IA pode ajudar criadores a transformar a imaginação em realidade com menos obstáculos.
Essas ferramentas não tiram o trabalho de artistas; elas ampliam as possibilidades. Muitos dos nossos criadores não tinham como contratar narradores, designers de som e ilustradores. Sem a IA, suas histórias nunca sairiam do papel. Com ela, alcançam milhões de pessoas. Isso não é substituir criadores, é permitir que mais gente possa criar.
A boa arte não nasce de padrões estatísticos. Ela nasce da emoção, da contradição, da curiosidade – aquilo que nos faz humanos. A IA pode ajudar a montar uma estrutura, mas não é capaz de sentir frustração, esperança ou amor.
Por isso, precisamos construir sistemas que mantenham o ser humano no centro, garantindo transparência, preservando autoria e valorizando quem tem a ideia original.
UM NOVO CAPÍTULO PARA A CRIATIVIDADE
Estamos em um momento decisivo de uma longa história. A relação entre arte e tecnologia sempre seguiu o mesmo arco: ruptura, medo, adaptação – e, no fim, expansão.
Steve Jobs comparou o computador pessoal – outra tecnologia que gerou receio quando surgiu – a uma “bicicleta para a mente”. Ele imaginava uma ferramenta que não substituísse nosso pensamento, mas o impulsionasse, ampliando a imaginação da mesma forma que uma bicicleta impulsiona o movimento.
Agora, cabe a nós escrever o próximo capítulo. Podemos permitir que a IA reduza a criatividade a algoritmos ou podemos transformá-la em uma bicicleta para a mente criativa – algo que permita que o talento humano vá mais longe, mais rápido.
O futuro da narrativa não deve ser sobre máquinas substituindo humanos. Deve ser sobre mais pessoas contando mais histórias, alcançando mais públicos e despertando mais imaginação – e mais lágrimas e mais suspiros – do que nunca.