O poder das imperfeições: a nova estética que desafia o “TikTok Face”
Tendência se baseia em uma filosofia japonesa que enxerga beleza na imperfeição e no envelhecimento natural

Um dente torto. Um espaço no sorriso. Uma marca de nascença ou uma pinta. O que todos esses traços têm em comum? Todos têm “wabi-sabi”. É o que mostra uma nova tendência do TikTok, em que usuários destacam suas próprias imperfeições.
E não tem nada a ver com o tempero do sushi. Wabi-sabi é uma filosofia ancestral japonesa que enxerga beleza na imperfeição e no envelhecimento natural – algo que anda fazendo falta em plena era dos “liftings preventivos”.
A ideia é valorizar justamente os sinais do tempo: um degrau gasto, uma caneca lascada ou linhas de expressão.
Um vídeo com o termo viralizou no TikTok e apresentou o conceito para muita gente. Quase meio milhão de postagens já foram publicadas com o áudio original, tirado da série animada “O Rei do Pedaço”.
Em um dos episódios, o personagem Bobby Hill pega uma rosa e diz: “gosto da minha assim, meio torta. Ela tem wabi-sabi”. O trecho tem sido usado por usuários para celebrar todo o tipo de “imperfeição” – de dentes desalinhados a narizes proeminentes.

Como acontece com qualquer ideia que viraliza na plataforma, parte da sutileza do conceito original se perde no caminho.
Ainda assim, em um momento marcado por padrões inalcançáveis de beleza, procedimentos e microtendências estéticas, uma trend que valoriza a individualidade e celebra aquilo que antes era visto como defeito é um passo na direção certa.
Em 2019, a revista “The New Yorker” apontou que vivíamos a “era do rosto Instagram”. Seis anos depois, a “Dazed” escreveu: “entramos na era do rosto TikTok.”
A chamada “inflação estética” – ou “a normalização de intervenções cosméticas cada vez mais extremas”, como define a escritora Jessica Defino – vem moldando nossa percepção coletiva.
Notícias sobre jovens fazendo harmonização facial e lifting aos 28 anos mostram como a busca pela perfeição estética saiu do controle. É um fenômeno que também afeta a vida fora das redes: vários estudos apontam uma correlação entre o tempo de tela e o interesse por cirurgias plásticas.
Se você sente que os rostos na internet estão ficando todos cada vez mais parecidos, saiba que não é apenas impressão. Talvez o mundo esteja mesmo precisando de um pouco mais de wabi-sabi.