Innovation Festival 2025 investiga as novas fronteiras do ESG no Brasil

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Eliane Pereira 3 minutos de leitura

ESG (do inglês environmental, social, governance). Três letrinhas que representam um sistema de práticas e critérios usados na gestão e na avaliação do desempenho de uma empresa em relação à sustentabilidade, responsabilidade social e gestão ética.

ESG se conecta a temas diversos, como estabilização climática, adaptação a eventos extremos, diversidade racial e de gênero na liderança, entre outras. “É uma agenda que, além de multidisciplinar, lida com questões regulatórias, de melhores práticas e também com inovação”, apontou a mediadora Nelmara Arbex, sócia-líder de ESG advisory na KPMG.

As fronteiras e o futuro do ESG foram o centro da conversa entre a advogada e estrategista Ana Bavon; a diretora de sustentabilidade da Heineken, Ligia Camargo; e a gerente sênio de sustentabilidade da Natura para a América Latina, Priscila Matta, no segundo dia de trabalhos do Innovation Festival 2025.

Com 25 anos de experiência no ramo, Nelmara, hoje na KPMG, estruturou a primeira área de sustentabilidade da Natura e ajudou a criar o Instituto Ethos. Para ela, a pergunta central agora é: quais tendências e temas vão permanecer nos próximos três anos?

Ao abordar essa questão, Priscila Matta apresentou a visão da empresa para 2050. O primeiro pilar é a ideia de um negócio regenerativo, construído a partir da mensuração e gestão de diferentes capitais: natural, social, humano e produtivo.

“Quando a gente pensa em todos esses capitais, temos que olhar de uma maneira muito profunda para o capital natural, que é a base do modelo de negócio. Esse é o movimento da Natura nessa abordagem regenerativa, pensando em todas as partes do modelo de negócio, nas nossas diferentes redes de relações”, explicou.

A executiva destacou também o avanço da bioeconomia, cujo princípio central é substituir combustíveis fósseis por recursos biológicos. Na Natura, esse movimento se expressa tanto nas cadeias da sociodiversidade — como a pesquisa de ingredientes amazônicos e o trabalho com comunidades agroextrativistas — quanto no desenvolvimento de produtos de larga escala, pensando em como transformar commodities em sistemas regenerativos.

Na perfumaria, por exemplo, não se trata apenas de ser orgânico, mas de regenerar as relações e ecossistemas associados à cadeia. Para Priscila, a bioeconomia é um tema que veio para ficar, sempre ligado à diversidade, ao bem-estar e à promoção de renda digna ao longo das cadeias produtivas. Mas nada disso é possível sem uma gestão sólida e uma governança estruturada, que sustentem essa transformação.

Com uma abordagem mais técnica e prospectiva, Ligia Camargo endossou a visão de que temas como biodiversidade e captura de carbono vão ganhar cada vez mais relevância, lembrando que florestas temperadas capturam carbono de forma mais eficiente do que florestas tropicais.

A executiva da Heineken listou três grandes desafios para a empresa: o consumo responsável de bebidas, a redução das emissões de carbono e a reposição da água consumida na fabricação de seus produtos.

“A estratégia de negócios da empresa tem ESG no centro de todos os drives, mas no nosso caso não é bem ESG, é ESR: ambiental, social e responsabilidade. Ofertar um produto para o consumo mais responsável também faz parte da nossa estratégia para ser sustentável ao longo do tempo”, explicou.

No caso das emissões de carbono, a Heineken se comprometeu em a zerá-las até 2030, o que significa reduzir 90% das emissões e neutralizar 10%. Segundo Ligia, a energia elétrica consumida pela empresa já vem de fontes renováveis desde 2023. “Podemos dizer que a cerveja que vocês bebem é 100% feita com energia verde”, brincou.

Outro compromisso assumido pela empresa é devolver para a natureza uma vez e meia toda a água envasada nos seus produtos. “Temos metas de eficiência hídrica dentro da e fora das fábricas. Precisamos devolver a água daquela região e fazemos isso com restauro, reflorestamento e tecnologia baseada na natureza”, afirmou.

Ana Bavon complementou trazendo um contraponto à realidade das grandes empresas, ao apontar que Natura e Heineken têm um grau de maturidade que a maioria das organizações ainda não alcançou. Ela acredita que seu grande desafio, como consultora, é mostrar para essas organizações que elas também são capazes de chegar lá, desde que façam escolhas mais éticas.

“Meu papel é demonstrar para as pessoas que estão à frente dessa agenda na empresa que ela é uma agenda transversal, que precisa do envolvimento de outras áreas do negócio para que ela possa se desenvolver”, resumiu.


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