Cor do ano 2026: Pantone escolhe o branco como símbolo de inovação
Cloud Dancer, a Cor do Ano 2026, busca unir estética, psicologia e um convite à criação
Desde que a Pantone começou a eleger sua Cor do Ano, em 2000, já vimos dois tons de marrom e amarelo, três variações de roxo, azul e turquesa e quatro interpretações distintas de laranja.
Mas, pela primeira vez, a cor escolhida pela Pantone é essencialmente uma não-cor. Ou, se preferir, todas as cores. A Cor do Ano de 2026 é um branco. No vocabulário da Pantone, trata-se do código 11-4201 – também conhecido como Cloud Dancer (dançarina da chuva).
A Pantone – que atua num campo que fica entre a previsão de tendências e a psicologia social – argumenta que Cloud Dancer faz parte de um grande reinício cultural. Em plena era da IA, tudo parece mudar diariamente, e o excesso de estímulos da internet só se intensifica.
Cloud Dancer representa uma zona de fronteira, à medida que entramos em uma nova era imprevisível. Ao valorizar o mundo físico, o tom foi, de propósito, aproximado do branco de uma folha de papel, e não do brilho impossível do espaço vazio de um prompt de IA.
“Estamos tentando enquadrar esta [era] de uma maneira mais positiva, vendo este momento como uma fase de transição, porque é realmente isso”, diz Laurie Pressman, vice-presidente do Pantone Color Institute, que define a cor como “uma tela em branco que abre portas para criatividade e inovação”.
O termo “cloud” (nuvem) se refere não apenas ao tom de Cloud Dancer, mas também à sua textura no mundo real. Muitas vezes apresentado em tecidos volumosos, nas passarelas e em ocasiões especiais, ele remete a uma nuvem fofa no céu.
É quase uma sensação sinestésica, um contraponto à outra “nuvem”: os data centers mortos e invisíveis que respondem às nossas consultas intangíveis. Você pode concordar ou não com a psicologia da ideia, mas é inegável que Cloud Dancer cumpre uma função prática no design.
Pressman destaca que se trata de um tom atemporal e sem gênero, que funciona bem tanto sozinho, em aplicações amplas, quanto ao lado de uma grande variedade de cores.
Por um lado, claro que isso é verdade – afinal, é branco. Por outro, é um branco muito específico: equilibra tons quentes e frios na mesma medida. Isso quer dizer que ele se adapta a praticamente qualquer paleta que seja colocada ao seu lado. Não é aquele branco que faz você apertar os olhos, duvidar e se arrepender. É um tofu visual, pronto para absorver as cores ao redor.
Em um tic-tac cultural movido pela internet, onde todos os gostos coexistem ao mesmo tempo e nenhuma cor continua “em alta” por muito tempo, Cloud Dancer atua como um elemento universal de ligação. É a argamassa para expressões cromáticas mais amplas, tão eficaz em um tênis chamativo quanto em um quarto relaxante.
MAS BRANCO É MESMO UMA COR?
Críticos podem reclamar que, entre todas as cores, a Pantone escolheu o branco. Uma não-cor. Seria uma solução fácil demais?
Talvez você tenha percebido também certa interseção temática com o movimento do quiet luxury. No auge, por volta de 2023, marcas de moda abraçaram tons neutros, como o Cloud Dancer e o Mocha Mousse (cor do ano de 2025), associando simplicidade a estilo.
Segundo Pressman, essa sinergia foi discutida pela equipe. A diferença, afirma, não está no uso do branco, mas na intenção por trás dele.
O quiet luxury escondia a opulência atrás de tons discretos (ou, se preferirmos, performava esse esconderijo, oferecendo um aceno cúmplice aos iniciados). Em contraste, Cloud Dancer busca criar uma tabula rasa em um momento de incerteza.
Não há dúvida de que o branco há muito tempo funciona como atalho (como o preto) para um gosto automaticamente requintado. Vemos isso nas camisas brancas, que nunca saem de moda, assim como os tênis de couro e de todas as suas variações. O branco resiste teimosamente a deixar os ambientes mais sofisticados.
Da mesma forma, a Pantone anuncia novas colaborações com Post-it e Play-Doh, que terão produtos na cor Cloud Dancer. Ver itens tão icônicos e tão coloridos despidos de suas cores é impactante. Eles ganham uma repaginada modernista imediata, como se pertencessem a uma maquete arquitetônica.
Talvez o branco seja mesmo uma cor.
