Seu salário aumentou? Veja como usar o dinheiro extra com inteligência financeira

Consumo emocional e falta de planejamento são os maiores riscos após o reajuste no salário

Seu salário aumentou? Veja como usar o dinheiro extra com inteligência financeira
freepik.com

Márcia Rodrigues 6 minutos de leitura

Ganhar um aumento salarial é sempre um marco profissional, seja pelo reconhecimento de seu esforço ou pelo dinheiro extra que virá todos os meses. O que se faz com o dinheiro extra pode determinar se ele será um passo rumo à liberdade financeira ou apenas mais um impulso de consumo.



Se houver dívidas caras, como cheque especial ou cartão de crédito, priorize quitá-las. “Esse equilíbrio ajuda a criar disciplina e a fortalecer o hábito de investir, sem perder o foco em reduzir o endividamento. O mais importante é ter clareza sobre o que se deve não agir por impulso”, Luciana Ikedo, educadora financeira e autora do livro “Vida Financeira - Descomplicando, economizando e investindo”.

PRIMEIRO PASSO: PLANEJAR ANTES DE GASTAR

A primeira reação ao receber um aumento costuma ser a vontade de comemorar com uma compra ou viagem. Mas o ideal é conter o impulso. Segundo a educadora, o reajuste não muda, de imediato, o padrão de vida, mas amplia a capacidade de organização financeira.

QUE TAL FAZER PARTE DA COMUNIDADE DA FASTCO MONEY? Assine a nossa NEWSLETTER semanal. Inscreva-se aqui



“O primeiro passo é planejar e não sair gastando de imediato. Se ainda houver dívidas, priorize quitá-las. Caso contrário, aproveite esse momento para fortalecer sua reserva de emergência e pensar em investir parte do valor com objetivos claros”, orienta Luciana.

O planejador financeiro Henrique Soares, CFP pela Planejar, concorda. Para ele, antes de gastar ou investir, é preciso rever o orçamento e entender o que realmente mudou com o aumento.

“Se houver dívidas caras, como cartão de crédito ou cheque especial, o mais indicado é usar parte do dinheiro extra para quitá-las. Se não houver, o próximo passo é construir ou reforçar a reserva de emergência. Só depois disso faz sentido pensar em investir ou aumentar o padrão de consumo”, explica o planejador.

POR QUE É TÃO FÁCIL CAIR NA ARMADILHA DO CONSUMO

Tanto Luciana quanto Henrique destacam que a vontade de gastar mais após um aumento é natural e emocional. De acordo com Luciana, o consumo traz uma sensação imediata de recompensa.

“Depois de meses ou anos de esforço, as pessoas sentem que ‘merecem’ aquele novo celular, o carro maior, as roupas novas. O problema é que, quando o padrão de vida cresce no mesmo ritmo da renda, a pessoa continua sem sobras, só que com custos fixos mais altos”, afirma.

Soares complementa que essa reação é também cultural. “A sociedade associa sucesso financeiro a símbolos de consumo, como roupas, carros e viagens. Sem planejamento, o aumento de gastos acompanha o salário e impede que a pessoa acumule patrimônio de fato”, observa.

AUMENTO É OPORTUNIDADE DE CONSTRUIR PATRIMÔNIO

O segredo está em dar um novo propósito ao dinheiro, segundo Luciana. “O aumento não precisa ser sinônimo de novos gastos, mas de novas oportunidades. Manter o estilo de vida por um período e destinar o valor extra à reserva de emergência ou a investimentos é o que transforma um ganho pontual em uma conquista permanente”, explica.

Para Soares, o primeiro passo é a consciência. “Antes de ajustar o estilo de vida, vale fazer um exercício de autoconhecimento: o que realmente traz valor? Preciso mesmo de tudo isso ou estou seguindo uma pressão externa? Automatizar aportes em investimentos ou adiantar dívidas ajuda o dinheiro a cumprir um papel estratégico antes de virar consumo impulsivo”, orienta.

COMO DIVIDIR O VALOR DO AUMENTO

Não existe uma fórmula mágica, mas ambos os especialistas sugerem buscar equilíbrio entre prazer e responsabilidade. Luciana recomenda usar parte do aumento para reforçar a reserva de emergência — que deve cobrir de 6 a 12 meses de despesas fixas —, outra parte para investimentos com objetivos definidos e uma fatia menor para o consumo.

“O importante é manter a proporção entre prazer e responsabilidade, evitando que o aumento dê uma falsa sensação de abundância”, diz.

Soares propõe um exemplo prático. “Quem ganha um aumento de R$ 1.000 pode reservar R$ 300 para reforçar a reserva, R$ 400 para investir com foco em médio e longo prazo e deixar R$ 300 para lazer. O mais importante é manter constância e usar esse novo espaço no orçamento para dar passos concretos rumo à liberdade financeira.”

CONFUNDIR AUMENTO COM SEGURANÇA FINANCEIRA É 1º ERRO. VEJA MAIS

A educadora financeira alerta que um erro comum é confundir aumento de salário com estabilidade financeira. “O ganho maior costuma vir acompanhado de euforia, e muitas pessoas acabam assumindo novos compromissos — financiamento, carro mais caro, plano de assinatura, uma viagem — sem avaliar o impacto no orçamento”, afirma.

Soares acrescenta que também é comum não revisar o orçamento e deixar que o dinheiro se perca em pequenos gastos diários. “Os principais erros são subir o padrão de vida antes de organizar as finanças, assumir novos financiamentos, continuar gastando por impulso e ignorar o potencial de longo prazo que o aumento tem”, explica.

A solução, segundo o planejador financeiro, é enxergar o aumento como uma alavanca para o futuro, não como uma autorização para consumir.

DÍVIDAS, INVESTIMENTOS E APOSENTADORIA: COMO EQUILIBRAR

Para quem ainda tem dívidas, ambos os especialistas são unânimes: o seu tipo vai definir a estratégia. Luciana explica que dívidas caras, como cartão de crédito e cheque especial, devem ser quitadas o quanto antes. Já nos casos de financiamentos com juros baixos, dá para equilibrar.

“É possível destinar uma parte do aumento para a quitação e outra para investir. Esse equilíbrio ajuda a criar disciplina e fortalecer o hábito de investir sem perder o foco em reduzir o endividamento”, orienta a educadora.

Soares concorda e reforça que quitar dívidas caras é um investimento com retorno garantido. “Agora, se for uma dívida controlada, como financiamento imobiliário, pode fazer sentido acelerar um pouco o pagamento e usar o restante para investir ou montar a reserva”, acrescenta.

O aumento também pode ser o ponto de partida para planos de longo prazo, como aposentadoria e independência financeira.
Automatizar aportes em investimentos recorrentes ajuda a consolidar o hábito antes que o dinheiro “entre no fluxo” do consumo, orienta Luciana. “O que parece pouco hoje pode se transformar em um patrimônio significativo com o tempo. O importante é começar, mesmo com valores modestos”, destaca ela.

O planejador financeiro complementa que o ideal é criar o hábito de investir antes de gastar. “Aplicações como Tesouro IPCA+, previdência privada com disciplina ou fundos de ações com foco em crescimento podem fazer parte da estratégia. Automatizar os aportes mensais ajuda o dinheiro a trabalhar antes que ele vire consumo”, explica.

AUMENTO SALARIAL: TESTE DE MATURIDADE FINANCEIRA

Lidar bem com um aumento de salário é, segundo os dois especialistas, um verdadeiro teste de maturidade financeira. Para Luciana, é quando a pessoa mostra que aprendeu a equilibrar desejo e planejamento.

“Quando o dinheiro deixa de ser apenas um meio de satisfação imediata e passa a ser uma ferramenta de liberdade, isso reflete um amadurecimento profundo, não apenas no bolso, mas na forma de pensar a vida”, afirma.

Soares complementa: “o aumento é uma oportunidade de ouro, mas também um teste. Mostra quem está preparado para lidar com mais responsabilidade e quem ainda ficará preso ao curto prazo.”

Os dois especialistas dão um passo a passo simples para começar:

• Planeje antes de gastar;

• Quite dívidas caras;

• Reforce sua reserva de emergência;

• Invista parte do aumento com propósito; e

• E lembre-se: manter o padrão de vida por um tempo pode ser o passo mais inteligente para conquistar liberdade financeira.

No fim das contas, o aumento de salário é mais do que um ganho no contracheque. É uma chance de provar que o seu futuro vale mais do que um gasto impulsivo.


SOBRE A AUTORA

Márcia Rodrigues é jornalista especializada em economia e empreendedorismo. Vegetariana e apaixonada pela defesa de causas sociais, am... saiba mais