5 perguntas para Luis Fellipe Alves de Oliveira, CEO da Safe on Orbit

A startup brasileira do segmento espacial criou um sistema que calcula o risco de colisão de satélites em órbita e orienta manobras preventivas

Luis Fellipe Alves de Oliveira, CEO da Safe on Orbit
Crédito: Divulgação

Redação Fast Company Brasil 5 minutos de leitura

A Safe on Orbit acaba de se tornar a primeira startup do setor espacial brasileiro a receber investimento de venture capital. O aporte, feito pela Bossa Invest, marca a entrada do capital de risco nacional em um segmento que historicamente dependeu de programas públicos e de soluções desenvolvidas por poucos países.

Fundada pelos engenheiros Luis Fellipe Alves de Oliveira e Guilherme Marcos Neves, a empresa criou um sistema que calcula o risco de colisão em órbita e orienta manobras preventivas. O avanço acontece em um momento no qual o número de satélites cresce rapidamente e a gestão do tráfego espacial se torna um desafio técnico e operacional para empresas e governos.

Nesta entrevista à Fast Company Brasil, Oliveira fala sobre o impacto desse investimento e o que muda para o ecossistema espacial brasileiro.

FC Brasil – A órbita da Terra está lotada de satélites – e de lixo espacial – e isso impacta desde telecomunicações até navegação, clima e segurança. Como você explicaria, para uma pessoa que não é da área, o que a Safe on Orbit faz e por que prever colisões no espaço já se tornou um serviço crítico?

Luis Fellipe Alves de Oliveira – Neste momento, há 13 mil satélites ativos em órbita “comercial”, distribuídos em diferentes altitudes, provendo milhares de tecnologias diferentes vitais para a humanidade, de telecomunicações a cirurgias.

Ao mesmo tempo, tem uma grande quantidade de detrito espacial voando de forma totalmente caótica. Temos catalogados, hoje em dia, mais de 54 mil pedaços maiores que 10 centímetros voando a uma velocidade superior a 28 mil quilômetros por hora.

A Safe on Orbit evita que os satélites ativos, esses objetos caríssimos, colidam com outros satélites e com outros objetos, sejam eles ativos ou inativos. Além disso, nosso sistema avisa o dono do satélite se tem algo próximo, sugerimos manobras otimizadas, que não estavam previstas na missão, reduzindo custos e prejuízos para as empresas. 

É a mesma coisa de um veículo. No carro você tem as manutenções, previstas ao longo do tempo. Revisão de 10 mil quilômetros e por aí vai. Todo problema que o carro tem além do que está previsto é um custo no seu orçamento. Logo, você vai ter de tirar isso de algum lugar. É isso que a Safe on Orbit faz: otimizamos o custo, sugerindo manobras mais precisas. 

Evitar colisões no espaço virou um setor crítico. O planeta lançou mais satélites nos últimos três anos do que a soma das duas últimas décadas. A previsão é de aumentar: até o final de 2030, devemos chegar a dois mil satélites lançados por ano. Precisaremos cada vez mais monitorar os objetos lançados para evitar que serviços essenciais sejam interrompidos 

FC Brasil – A Safe on Orbit foi a primeira startup do setor espacial brasileiro a receber investimento de capital de risco. Quando você começou a apresentar o tema para investidores, quais foram as reações iniciais e que tipo de barreira cultural ou técnica foi preciso quebrar?

Luis Fellipe Alves de Oliveira – Quando começamos a conversar com os investidores, em meados de janeiro, a barreira técnica que encontramos foi justamente de sermos esse primeiro case do setor espacial. Que a segurança daríamos de que investidores deveriam investir em um segmento, digamos, alternativo, um segmento não conhecido?

logotipo da startup brasileira Safe on Orbit

A segunda barreira foi a previsibilidade de mercado. Ou seja, quando a gente estuda o mercado brasileiro, o mercado espacial brasileiro... Digamos que ele não é o melhor case de sucesso que temos. O mercado espacial brasileiro não é tão pungente, é emergente. Mas pode ser maior. 

A terceira barreira foi a técnica, que foi o de explicar o ambiente espacial e a análise de colisões, um assunto que é recente até dentro do próprio setor.

FC Brasil – O sistema que a Safe on Orbit criou, o Cosmos, identifica ameaças a satélites com até cinco dias de antecedência. O sistema pode virar uma tecnologia dual, usada tanto por operadoras comerciais quanto por governos para proteger missões públicas?

Luis Fellipe Alves de Oliveira – O Cosmos já é dual. Ele foi feito para conseguir rastrear qualquer objeto em qualquer altitude da órbita terrestre. Esse é o nosso interesse, esse é o mais interessante que temos.

Temos um case de sucesso aqui no Brasil, com uma empresa privada, e um fora do país, com uma empresa pública – uma agência espacial. Ou seja, já estamos fazendo isso de forma dual. A ideia é continuar nesse modelo de negócio. 

FC Brasil – Você fala com frequência em sustentabilidade espacial, um conceito que ainda é novo para o público geral. O que significa, na prática, tornar o espaço um ambiente sustentável? Que papel o Brasil pode ter nesse movimento global?

Luis Fellipe Alves de Oliveira – Quando falo de sustentabilidade espacial, o primeiro caso que vem à cabeça das pessoas, geralmente, são os foguetes reutilizáveis do Elon Musk. De fato, é um bom case de sustentabilidade espacial, mas não é só isso. Temos de otimizar operações, torná-las mais eficientes para gastar menos energia e combustível.

planeta Terra visto do espaço, cercado por lixo eletrônico em órbita
Crédito: Agência Espacial Europeia

Se evitamos que colisões aconteçam, deixamos as operações mais sustentáveis, mais seguras e organizadas. A Safe on Orbit vai ser a cara do Brasil na discussão do direito espacial internacional.

FC Brasil – Olhando para a próxima década, o que o faz acreditar que países como o Brasil podem não só ocupar o espaço, mas também participar da construção das regras, tecnologias e cuidados que vão definir como a humanidade usa a órbita da Terra?

Luis Fellipe Alves de Oliveira – Somos uma nação emergente no setor espacial. Vejo o Brasil aumentando o seu papel de player importante no setor espacial latino-americano para um player mundial.

Apesar de o país não investir na produção e lançamento de foguetes e satélites, fazemos muito bem o uso dos dados espaciais para benefício da sociedade. Monitoramentos de desastres, sistemas de prevenção de clima…

Quando olhamos para esse aspecto, o Brasil pode ajudar nessa construção do uso do espaço.


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