Marrocos testa solução mais barata para captar a energia das ondas do mar

Startup está desenvolvendo uma tecnologia que pode tornar economicamente viável uma fonte inesgotável de energia limpa

energia gerada pelas ondas do mar
Créditos: Just_Super/ Getty Images/ Eric Prouzet/ Unsplash

Adele Peters 4 minutos de leitura

A força das ondas do mar pode representar uma fonte gigantesca de energia para a rede elétrica. Só nos Estados Unidos, o movimento das ondas ao longo da costa teria o potencial de gerar até 1,4 trilhão de quilowatts-hora por ano – cerca de um terço de toda a eletricidade atualmente consumida pelos norte-americanos.

Apesar desse potencial, a energia das ondas ainda está muito atrás de outras fontes renováveis. Enquanto a solar e a eólica dominam as novas instalações no mundo, a energia das ondas permanece limitada a pequenos projetos-piloto.

A lógica é clara: os custos de construção são mais altos e as duras condições do oceano deixam os equipamentos vulneráveis a danos provocados por tempestades.

No Marrocos, porém, uma startup está desenvolvendo uma tecnologia que pode tornar essa fonte mais viável, com projetos em andamento em um porto e em um futuro centro de dados.

“Em comparação com outros sistemas de energia das ondas, o custo inicial é reduzido em 70%”, afirma Oussama Nour, CEO e cofundador da Empresa Avançada de Energias Renováveis ​​da Terceira Era (Atarec, na sigla em inglês), além de co-inventor da tecnologia Wave Beat.

Para reduzir os custos de instalação, a empresa fixa seus equipamentos em estruturas já existentes, em vez de construir tudo do zero. No primeiro piloto, no porto de Tanger Med, um dos maiores da costa norte do Marrocos, a startup instalou uma unidade ao lado do quebra-mar (a estrutura que protege o porto do impacto direto das ondas).

O sistema usa uma boia flutuante que sobe e desce conforme o movimento da água, convertendo esse deslocamento vertical em eletricidade que pode ser adicionada à rede.

Vale lembrar que a energia solar e a eólica são intermitentes, enquanto a energia das ondas é mais previsível e disponível com maior regularidade. O volume exato varia conforme a localização e fatores como vento e marés.

No piloto marroquino, a empresa constatou que sua tecnologia gera energia cerca de 62% do tempo. A energia solar na região opera, em média, 18% do tempo, segundo Nour. “Precisamos de uma combinação de vento, solar e ondas – e também de baterias”, diz o executivo.

Ao preencher as lacunas deixadas quando o sol e o vento falham, a energia das ondas pode ajudar a rede a se aproximar de uma operação totalmente renovável em áreas como a costa marroquina.

VANTAGENS EM RELAÇÃO À ENERGIA EÓLICA E SOLAR

A tecnologia da empresa é modular e existe em vários tamanhos, sendo que a maior unidade pode gerar 750 quilowatts. No porto, se o sistema for instalado ao longo de todo o quebra-mar, haveria espaço para mais de 100 unidades – o suficiente para abastecer todo o porto e as áreas industriais ao redor.

Um diferencial importante do projeto é o design que aumenta a resistência às tempestades. Em condições climáticas adversas, válvulas se abrem e permitem a entrada de água nas boias, fazendo com que elas afundem sob a superfície e evitem danos. Quando o tempo melhora, as boias voltam a subir. A instalação próxima ao quebra-mar também facilita o acesso para manutenção.

projeto no Marrocos de geração de energia pelas ondas do mar
Crédito: Atarec/ Divulgação

A Atarec, que já levantou cerca de US$ 2 milhões em investimentos, planeja agora um piloto maior e conduz testes de laboratório em sua versão mais recente. A empresa também integra um programa de incubação da Microsoft e deve testar a tecnologia em um data center na região litorânea.

Como as energias solar e eólica têm larga vantagem e podem ser usadas em mais locais, é improvável que a energia das ondas lhes tire uma fatia significativa do mercado. Ainda assim, ela pode ser essencial em nichos específicos.

Em comparação com outros sistemas de energia das ondas, o custo inicial é reduzido em 70%.

Em portos ou data centers que buscam gerar o máximo possível de sua própria energia, por exemplo, painéis solares ocupariam muito mais espaço do que os sistemas de ondas. Portos também poderiam usar essa energia para produzir hidrogênio verde, amônia ou metanol para abastecer navios.

Além disso, embora a energia das ondas não seja tão constante quanto a geotérmica, ela dispensa perfurações profundas e caras e é regular o bastante para contribuir para a estabilidade da rede.

Atualmente, o custo de energia do Wave Beat é cerca de 1,5 vez maior que o da energia eólica e pode chegar a três vezes o da solar. Ainda assim, Nour acredita que a tecnologia pode se tornar competitiva com escala. A instalação já é quase três vezes mais barata que a de outras soluções de energia das ondas e custa metade para operar.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais