3 passos para escolher as companhias “menos impactantes” para se investir
Com o passar dos anos, vemos notícias cada vez mais alarmantes sobre as mudanças climáticas. Mas 2022 parece um ano especialmente ruim para diversos temas. Dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês) à guerra na Ucrânia ou à dificuldade do governo norte-americano em aprovar qualquer legislação climática séria, os noticiários estão repletos de informações desanimadoras.
Para piorar, há uma crescente desilusão com o papel do setor privado, que vai desde um ceticismo generalizado em relação ao compromisso das empresas com a sustentabilidade até as expectativas equivocadas em torno dos princípios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês).
É normal se sentir aflito com tantas notícias ruins, mas procuro ver com otimismo os esforços de empresas que estão empenhadas em fazer a coisa certa. Investidores que desejam contribuir para o sucesso desses negócios – que operam com políticas sociais e ambientais sólidas e adotam abordagens inovadoras e disruptivas – só precisam saber onde encontrá-los. É claro que é mais fácil na teoria do que na prática, mas o esforço certamente valerá a pena.
Abaixo, apresento três dicas para ajudar a identificar empresas que vão além da responsabilidade corporativa tradicional.
1. Busque aquelas que não apenas falam, mas também fazem
A quantidade de empresas que divulgam relatórios de responsabilidade social nunca foi tão grande. Mas, conforme observado por especialistas em investimentos de impacto, como Ken Pucker, isso não se reflete em uma redução real do impacto ambiental. Ou seja, apenas divulgar relatórios não é a solução.
Embora seja importante que as empresas tenham ao menos uma noção básica de suas pegadas de carbono, essas informações são inúteis se não se esforçam para aprender com elas. As que de fato fazem algo a respeito e adotam valores de sustentabilidade em seus modelos de negócios são aquelas em que devemos ficar de olho.
Embora seja importante que as empresas tenham uma noção básica de suas pegadas de carbono, essas informações são inúteis se não se esforçam para aprender com elas.
É o caso da Case New Holland Industrial, fabricante líder do setor de equipamentos agrícolas e de construção. Ela desenvolveu uma estratégia global de sustentabilidade e criou metas ambiciosas em relação ao uso de energia, resíduos e ciclos de vida de seus produtos. Não é surpresa alguma que tenha sido a mais bem avaliada pelo Índice de Sustentabilidade Dow Jones por 11 anos consecutivos. Ela não só está diminuindo os riscos ambientais de suas próprias operações, mas também de todo o sistema do qual depende.
Empresas como essa lidam com os desafios climáticos de forma inovadora e promovem mudanças positivas, garantindo maior retorno para qualquer horizonte de investimento.
2. Busque empresas que enxergam além das emissões de escopo 1 e 2
A maioria das empresas que divulgam relatórios de suas pegadas de carbono analisam apenas as emissões diretas e indiretas da energia que consomem para operação. Isso é compreensível, já que quantificar os impactos e emissões que não estão sob seu controle é bastante complexo. Por outro lado, é algo preocupante: mais de 90% das emissões de uma empresa podem não se enquadrar nos escopos 1 e 2.
Apenas divulgar relatórios de responsabilidade social não é a solução.
No entanto, como um número crescente de exemplos comprova, aquelas que estão realmente determinadas a entender sua pegada de carbono não permitem que esse desafio as impeça. Veja a Inari, uma startup de genética de plantas com sede em Cambridge, Massachusetts. Ela está usando a Modelagem de Sistemas Dinâmicos do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) para quantificar os efeitos diretos e indiretos de seus produtos.
Além de utilizar modelos complexos para projetar a pegada social e ambiental de suas ações, a Inari também estuda produtos e programas para reduzir o volume de emissões. Considerando que nosso planeta está em um ponto crítico em relação às mudanças climáticas, esse nível de análise é imprescindível.
3. Não confie nas classificações ESG tradicionais
Apesar das inúmeras críticas recentes, as classificações ESG têm um propósito, mas nem sempre o cumprem. A maioria dos sistemas de classificação avalia os riscos econômicos para a empresa com base em fatores ESG, mas não medem os impactos ambientais e sociais no mundo.
Quando uma empresa de petróleo e gás recebe apenas pontuações positivas, fica claro que o sistema não mede o impacto ambiental e social.
Para investidores que desejam testar a efetividade de um sistema, basta olhar para as classificações MSCI de empresas como Exxon ou Philip Morris. Quando uma empresa de petróleo e gás – cujo modelo central de negócios é baseado em atividades que prejudicam um futuro sustentável – recebe apenas pontuações positivas, fica claro que o sistema não mede o impacto.
Em vez de confiar nessas classificações, faça sua própria pesquisa. Leia atentamente os relatórios anuais e avalie as intenções das empresas, levando em conta seus objetivos, estratégias e ações. Assim, ficará claro quais esforços de sustentabilidade são apenas para divulgar um relatório favorável e quais são compromissos reais.
A boa notícia é que está cada vez mais fácil encontrar empresas que trabalham para contribuir para um futuro mais sustentável. Embora não sejam perfeitas, as regras de divulgação climática, como as promulgadas pela União Europeia e propostas pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, são sinais positivos. Assim como a explosão de novas ferramentas, modelos sofisticados, serviços e interesse no setor de investimento de impacto.
É claro que o tempo é curto – a cada dia, os desafios climáticos ficam maiores. Mas me sinto otimista ao ver mais e mais dados e recursos disponíveis para pessoas que investem em um futuro melhor para o nosso planeta.