OpenAI completa 10 anos. Onde ela estará ao final da próxima década?

Um anúncio surpreendente em uma conferência acadêmica levou à criação de uma das empresas mais importantes do planeta. Mas o que vem a seguir?

aniversário de 10 anos da OpenAI
Créditos: Mariia Shalabaieva/ Unsplash/ koosen/ Getty Images

Chris Stokel-Walker 4 minutos de leitura

Em 11 de dezembro de 2015, a OpenAI surgiu com estrondo. Anunciada no penúltimo dia da Conferência sobre Sistemas de Processamento de Informação Neural, reunião acadêmica realizada em Montreal, no Canadá, por Elon Musk, Sam Altman e outros, a organização vinha sendo planejada havia meses.

Mas, quando a organização tornou pública sua existência por meio de um anúncio e de um post em seu blog, a comunidade reagiu com surpresa. “Isso é absolutamente maravilhoso. Sinto que estamos vendo a história acontecer diante de nós”, escreveu Sebastien Bubeck, então pesquisador da Microsoft e, desde outubro de 2024, funcionário da OpenAI.

A empresa tinha financiamento robusto e objetivos declarados: “avançar a inteligência digital da melhor maneira para beneficiar a humanidade como um todo, sem estar limitada pela necessidade de gerar retorno financeiro”.

Bubeck não fazia ideia de como suas palavras seriam proféticas. Nem mesmo as previsões mais ousadas dos fundadores, naquele dia em 2015, imaginariam o impacto que o ChatGPT teria sobre o mundo e sobre a trajetória da própria OpenAI.

Agora que a organização completa uma década, investidores, funcionários e todos aqueles que dependem de seu sucesso para manter o mercado aquecido se perguntam: onde ela estará daqui a mais 10 anos?

No momento, a OpenAI está cerca de seis a 12 meses à frente de seus concorrentes.

“Há 10 anos, a OpenAI começou com uma questão científica bastante legítima e com foco voltado para a responsabilidade social”, afirma Catherine Flick, especialista em ética da IA na Universidade de Staffordshire.

Ela destaca que a estrutura original da OpenAI era “uma organização sem fins lucrativos complicada”, que sempre geraria desafios – e que motivou muita preocupação, incluindo a demissão de seu CEO, Sam Altman, em 2023.

Mas aquele ideal dos primeiros tempos mudou bastante. “Hoje, temos uma empresa com fins lucrativos que praticamente abandonou qualquer responsabilidade social e adotou um mantra de crescimento a qualquer custo”, diz Flick. A razão? A OpenAI está na linha de frente da revolução da IA generativa – e há muito dinheiro em jogo.

CHEGAREMOS À SUPERINTELIGÊNCIA?

Um dos fatores que podem guiar o futuro da empresa é o surgimento da chamada superinteligência, ideia controversa segundo a qual os sistemas de IA desenvolvidos pela OpenAI e seus concorrentes vão ultrapassar, em algum momento, as capacidades humanas em todos os aspectos.

Os que trabalham mais próximos dos modelos em laboratórios de ponta parecem convencidos de que isso vai acontecer. Mas há quem questione se não se trata mais de excesso de entusiasmo e menos de informação privilegiada de quem tem acesso aos bastidores da indústria.

“A OpenAI afirma que, com o nível atual de entendimento, ninguém deveria implantar uma superinteligência, mas também diz que sua principal prioridade é construí-la”, afirma Steven Adler, pesquisador do Instituto Raízes do Progresso e ex-membro da equipe de segurança da OpenAI por quase quatro anos. “É uma combinação preocupante”, acrescenta.

imagem estilizada representando uma superinteligência artificial

Adler espera que os planos futuros da OpenAI continuem independentes e imparciais em relação aos seus interesses comerciais – algo que, segundo ele, a empresa tem obrigação de garantir. “Ter membros sobrepostos nos conselhos da entidade com fins lucrativos e na da sem fins lucrativos é um conflito natural”, diz.

Isso será um desafio, principalmente, por causa da competição que a empresa enfrenta de outros laboratórios de IA trabalhando na fronteira da tecnologia. “Precisamos encontrar maneiras de impedir que a dinâmica de corrida da indústria de IA – algo que a própria OpenAI alertou por anos – nos conduza a um precipício”, diz Adler.

Alguns acreditam que esse precipício é real. “Daqui a 10 anos, espero que a OpenAI tenha implodido completamente, com todos os seus ativos vendidos a algum fundo de private equity ou empresa similar, ou tenha sido adquirida por outra companhia”, afirma Flick.

POSIÇÃO CONFORTÁVEL

O sucesso da OpenAI tem o poder de determinar o futuro da indústria de IA e também da economia em geral. “Dada sua centralidade no setor, o sucesso ou fracasso da empresa e a velocidade de seus avanços têm enormes implicações para os usuários da internet e para os grandes provedores de nuvem especializados em IA”, escreveu Ross Sandler, analista sênior de internet no banco Barclays, em relatório recente.

No momento, avalia Sandler, a OpenAI está em posição confortável, cerca de seis a 12 meses à frente de seus concorrentes em diversas áreas – embora gigantes como o Google já estejam diminuindo a distância com o lançamento de modelos como o Gemini 3.

aquele ideal dos primeiros tempos da OpenAI mudou bastante

S.andler também observa que a OpenAI precisa converter apenas uma pequena fração de usuários em assinantes para atingir suas metas atuais de receita, um patamar bem inferior ao de outros aplicativos por assinatura, como Tinder, Spotify e Duolingo.

Por um lado, o relatório do Barclays mostra que a OpenAI está sólida em sua posição atual. “Descobrimos ao longo dos anos que, quando os hábitos se consolidam, seguidores têm dificuldade para desbancar o líder”, escreveu Sandler. Por outro lado, ele ressalta que o Google é o grande potencial desequilibrador na próxima década.

Por ora, a OpenAI segue confortável.


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais