A consolidação da sustentabilidade corporativa como pilar estratégico no Brasil

O Brasil demonstrou ter o capital, as tecnologias e a urgência para ser um líder na transição justa e na criação de valor sustentável

ilustração de pássaros voando ao por do sol
Crédito: Uwe Bergwitz/ DKosig/ Getty Images

Carlos Braga e Denise Hills 4 minutos de leitura

A 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, em Belém, transformou a sustentabilidade no Brasil. O evento deixou de ser um encontro diplomático e se consolidou como um imperativo de inovação e resiliência para o setor privado e a sustentabilidade corporativa.

A escolha da Amazônia elevou a exigência corporativa e, embora a parte oficial não tenha entregado um roadmap global firme para combustíveis fósseis, essa lacuna intensificou a pressão pela transição sobre o setor corporativo. O evento catalisou a ação, elevando o custo da inação e destacando soluções escaláveis e colaborativas.

Essa pressão de mercado encontrou seu enquadramento estratégico no documento final da 7ª Sessão da Conferência das Partes. O "Mutirão Global: Unindo a humanidade..." atua como um plano de obras acelerado para o Acordo de Paris, reconhecendo que o tempo (o orçamento de carbono) está se esgotando rapidamente.

O mutirão é o chamado para uma mobilização total e urgente, onde as NDCs (contribuições nacionais) são os projetos de construção de cada país, exigindo políticas públicas. No Brasil, isso se traduz na regulamentação do mercado de carbono, no plano de transição ecológica e na taxonomia brasileira, além dos leilões do Ecoinvest, catalisando investimentos.

Nas metas de financiamento, decidiu-se avançar urgentemente para aumentar o financiamento para países em desenvolvimento para pelo menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 e manter a urgência de mobilizar US$ 300 bilhões anuais. O Brasil manteve a responsabilidade de avançar nesta proposta, convocando ministros de finanças.

A COP reconheceu a importância da justiça climática, exigindo que as ações respeitem os direitos humanos e os direitos dos povos indígenas. Deu-se destaque à natureza e biodiversidade, reforçando a importância de conservar e restaurar ecossistemas.

O documento confirmou que limitar o aquecimento a requer reduções de gases do efeito estufa (GEE) de 43% até 2030 e 60% até 2035 (em relação a 2019).

O Acordo de Paris funciona, e Belém trouxe a intensa participação do setor privado, reforçando o foco na implementação e no financiamento para adaptação e o fundo de perdas e danos.

O NOVO CENÁRIO DE FINANÇAS VERDES

No cenário pós-COP 30, o setor privado foi o protagonista das soluções. A iniciativa C.A.S.E. (Climate Action Solutions & Engagement), liderada por empresas de peso, focou em dar visibilidade a 20 cases de sucesso nacionais em bioeconomia e transição.

Paralelamente, a CDT (Coalizão para a Descarbonização dos Transportes) apresentou um plano ambicioso para reduzir em 68% as emissões até 2050, exigindo R$ 600 bilhões para eletrificação e logística.

Crédito: photoman e filo/ Getty Images

O palco das finanças sustentáveis teve impulso: o evento PRI da ONU confirmou que a urgência climática é a maior oportunidade de investimento.

O país avança nos padrões S1 (sustentabilidade) e S2 (clima) do IFRS (International Financial Reporting Standards), consolidando a credibilidade. O BNDES usa a plataforma BIP para vincular crédito e taxas de juros a metas de sustentabilidade.

Com a taxonomia – que define o que é investimento verde e sustentável – e fundos inovadores, o Brasil se consolida como um hub global.

LIÇÕES E TENDÊNCIAS PÓS-COP 30: RISCO E RESILIÊNCIA

A principal lição de Belém é que a sustentabilidade corporativa é gestão estratégica de risco. O foco se moveu para a rigorosa divulgação, impulsionada pelo TCFD (Divulgação Financeira Relacionada ao Clima) e TNFD (Divulgação Financeira Relacionada à Natureza).

O evento catalisou a ação, elevando o custo da inação e destacando soluções escaláveis e colaborativas.

O setor de seguros, através da CNSEG (Confederação Nacional das Seguradoras), inovou, utilizando a precificação de apólices como sinal para incentivar a resiliência climática dos ativos. A competitividade futura está atrelada ao engajamento autêntico com as cadeias produtivas, como o modelo da Natura na Amazônia.

As tendências para os próximos anos incluem foco em resultados quantificáveis, integração de bodiversidade no balanço e fluxo de capital doméstico acelerado. Este último é evidenciado pelos R$ 48 bilhões investidos pelo setor privado, com crescimento de 50% nos últimos anos. Tal fluxo sugere que o backlash anti-ESG global impacta pouco a realidade nacional.

O LEGADO ASSIMÉTRICO DE BELÉM

Em síntese, a COP 30 foi ponto de não-retorno para o setor corporativo. Embora a parte pública tenha tido resultados modestos, o otimismo se justifica pelo forte engajamento e a capacidade de auto-organização do mercado privado.

Belém confirmou que a sustentabilidade se tornou um imperativo de inovação para a gestão, e não mais um adendo diplomático.

O Brasil demonstrou ter o capital, as tecnologias e a urgência para ser um líder na transição justa e na criação de valor sustentável. O setor privado é o agente central dessa transformação, governando o risco e ditando o ritmo da nova economia.


SOBRE O AUTOR

Carlos Braga é professor associado e coordenador do Centro de Referência em Inovação e ESG da Fundação Dom Cabral, conselheiro sênior ... saiba mais