Efeito dezembro: por que todos os problemas são resolvidos no fim do ano

Dezembro força o foco, limita as opções e esclarece as prioridades. Os líderes podem cultivar essa produtividade durante todo o ano

mãos manipulam calendário e encaixam peças de quebra-cabeças
Créditos: Cristina Gaida/ Micro Stock Hub/ Getty Images

Maria Papacosta 4 minutos de leitura

Todo mês de dezembro, algo estranho acontece dentro das empresas. Decisões que ficaram empacadas por meses de repente avançam rapidamente. Projetos são aprovados. Orçamentos são fechados. As pessoas param de debater e finalmente escolhem.

Em geral, líderes atribuem isso à “energia de fim de ano” ou ao “empurrão das festas”. É uma explicação fácil, mas que esconde o que realmente está acontecendo. Dezembro força os líderes a operar dentro de um enquadramento mais restrito. Há menos tempo para pensar demais, menos escolhas aceitáveis e expectativas mais claras.

Em outras palavras, o ambiente é desenhado de forma a produzir compromisso em vez de adiamento — ainda que, para apostas estratégicas complexas e inéditas, o calendário por si só raramente seja suficiente.

Isso não é espírito natalino. É design — e uma grande lição sobre influência. Se líderes aprendessem a desenhar decisões da mesma forma que dezembro faz, teriam clareza, alinhamento e velocidade o ano inteiro, e não apenas quando o calendário se esgota.

A ideia é simples. Quando as opções diminuem, o foco aumenta. Quando os critérios são explícitos, as escolhas se tornam mais fáceis. Quando o tempo é claro, o compromisso acelera. A pesquisa confirma isso. As histórias de sala de conselho confirmam isso. E qualquer pessoa que já tenha vivido um sprint de dezembro sabe disso.

A pergunta não é por que dezembro funciona. A pergunta é por que os líderes toleram o oposto durante os outros 11 meses.

O que a ciência nos diz sobre opções demais

Executivos gostam de dizer que querem “abertura”. Querem considerar todas as ideias, ouvir todos os pontos de vista e manter as opções flexíveis. Embora isso tenha valor, muitas vezes destrói o ritmo.

O trabalho mais citado sobre o tema vem dos psicólogos sociais Sheena Iyengar e Mark Lepper. O estudo deles mostrou que pessoas expostas a menos escolhas tinham muito mais probabilidade de agir. Um pequeno conjunto curado de geleias gerou taxas de compra dramaticamente mais altas do que uma grande vitrine.

Esse estudo foi replicado e ampliado ao longo de duas décadas. O princípio se mantém em diferentes contextos: quando as opções se multiplicam, a ação colapsa.

É tentador pensar que líderes são diferentes por terem mais experiência. As evidências dizem o contrário. A carga cognitiva não se importa com cargos. Quando executivos enfrentam muitas opções semelhantes, eles pausam, adiam ou recorrem ao que parece mais seguro. Em grandes organizações, a opção mais segura é a inação.

Se você quer que equipes de liderança se movam, reduza as escolhas que elas precisam considerar. Faça a curadoria antes que o tema chegue à mesa. Elimine o ruído. Apresente duas ou três alternativas viáveis em vez de 12. Você não apenas acelerará as decisões; irá melhorá-las.

Por que heurísticas fazem ou quebram a qualidade das decisões

Uma vez reduzidas as escolhas, outra dinâmica entra em ação. Com tempo limitado ou informação incompleta, as pessoas recorrem a heurísticas. Isso não são atalhos de quem não sabe o que faz. São ferramentas mentais que permitem aos especialistas agir com rapidez.

Estudos sobre racionalidade limitada e teoria dos dois sistemas mostram que, quando decisões precisam ser tomadas sob restrição, as pessoas migram de um processamento lento e analítico para julgamentos mais rápidos e intuitivos. É assim que ambientes de alta pressão funcionam.

O problema é que a maioria das organizações deixa essas heurísticas ao acaso. Sem critérios. Sem filtros de risco. O resultado são decisões inconsistentes, politizadas ou dolorosamente lentas.

Se líderes querem decisões de alta qualidade, precisam fornecer heurísticas melhores. Dê às pessoas uma visão clara do que mais importa. Defina os pontos inegociáveis. Torne visíveis e simples os critérios de sucesso. Apresente opções recomendadas, não coleções soltas de ideias.

O papel real da pressão do tempo nas decisões executivas

A pressão do tempo costuma ser tratada como uma ameaça à qualidade das decisões. A pesquisa é mais nuançada. Experimentos publicados em periódicos acadêmicos mostram que a pressão do tempo pode melhorar a consistência e a velocidade em certos tipos de tarefas. Em decisões familiares ou de menor risco, uma pressão moderada ajuda as pessoas a filtrar distrações e a se comprometer.

Por outro lado, enfrentar problemas altamente complexos ou ambíguos com pressa prejudica o desempenho, e estudos alertam que a pressão do tempo pode aumentar a propensão ao risco ou reduzir a precisão perceptiva. Mas, para a maioria das decisões que líderes enfrentam — especialmente escolhas operacionais ou moderadamente estratégicas — prazos claros aumentam a ação sem sabotar a qualidade.

Há uma razão para os prazos de fim de ano funcionarem. Não é porque o relógio está correndo, mas porque o relógio força a priorização. Fica evidente o que importa e o que não importa. Dezembro funciona porque remove os fatores ambientais que desaceleram os líderes. As restrições criam clareza. Os prazos forçam a priorização. As escolhas limitadas reduzem o ruído. As pessoas não estão mais motivadas em dezembro. Elas estão simplesmente menos confusas.


SOBRE A AUTORA

Maria Papacosta é estrategista de influência em liderança e cofundadora do MSC Marketing Bureau. saiba mais