Reciclar tecidos elásticos pode deixar de ser desafio segundo esta startup
Ao redesenhar o náilon em nível molecular, empresa cria material elástico feito de um único componente, facilitando a reciclagem e a produção em escala

Tecidos elásticos são notoriamente difíceis de processar. Quando suas leggings antigas se desgastarem, provavelmente acabarão em um aterro sanitário — mesmo que você tente levá-las para reciclagem. Mas uma startup de Manhattan desenvolveu um novo material que pode finalmente tornar esse setor da indústria têxtil circular.
“Há um motivo pelo qual bilhões de quilos de têxteis acabam em aterros sanitários”, diz Gangadhar Jogikalmath, cofundador e diretor de tecnologia da startup Return to Vendor. “Quando reduzimos a questão à escala microscópica, é porque tudo o que vestimos é composto por misturas de fios — náilon misturado com elastano, lã com náilon, algodão, poliéster.”
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Qualquer mistura de tecidos é difícil de desmontar. O tecido elástico é ainda mais desafiador. “Não dá para triturá-lo”, diz Jogikalmath. “O elastano derrete a uma temperatura mais baixa, entope as máquinas de reciclagem e o sistema de reciclagem sofre muito com a presença de até mesmo uma pequena quantidade de elastano.”
Para enfrentar esse desafio, a startup passou os últimos quatro anos desenvolvendo um tecido que utiliza um único material — o náilon. Ele é transformado de forma que um material com fibras que normalmente não esticariam, de repente, possa esticar. Assim, ao final de sua vida útil, como é um “monomaterial”, ele pode ser facilmente reciclado e transformado em um novo tecido para a confecção de outras roupas.
ALTERAÇÃO DAS MOLÉCULAS
Jogikalmath, que iniciou sua carreira como químico de proteínas, inspirou-se justamente na estrutura das proteínas. Normalmente, o náilon possui ligações de hidrogênio fortes que tornam o material rígido e resistente ao estiramento. A startup reformulou a estrutura para que as moléculas possam deslizar umas sobre as outras sob tensão. Em seguida, conseguem retornar à sua forma original quando a tensão for liberada.
Após desenvolver um protótipo e captar uma rodada de investimento inicial da Khosla Ventures, a equipe passou anos em pesquisa e desenvolvimento. Este ano, trabalhou com uma fábrica especializada em tecidos elásticos para produzir amostras do material final. "Eles ficaram igualmente entusiasmados com os resultados", afirma William Calvert, CEO e cofundador da Return to Vendor. "Agora estamos testando o produto para que possa ser comercializado."
Graças à tecnologia desenvolvida pela startup, o material pode ser produzido em qualquer fábrica que faça fios de nylon, não apenas aquelas especializadas em tecidos elásticos. Após a confecção do fio, ele pode ser transformado em tecido sem a necessidade de novas máquinas ou alterações no processo. Ou seja, sua produção pode ser facilmente ampliada, ao contrário de outros materiais inovadores.
O material é feito de nylon reciclado — transformando redes de pesca ou carpetes antigos em novas fibras — e já possui custo equivalente ao do nylon virgem. Mas o custo continuará a diminuir à medida que for reciclado. Conforme as marcas coletarem suas roupas usadas para reciclagem, a matéria-prima da próxima geração custará ainda menos.
Leia mais: O que acontece após seu lixo ser levado para reciclagem?: Reciclar tecidos elásticos pode deixar de ser desafio segundo esta startupHá uma forte demanda em diversas categorias, desde roupas esportivas casuais até roupas íntimas e vestuário para atividades ao ar livre, diz Calvert. As marcas agora estão começando a testá-lo em projetos-piloto. "Quando publiquei sobre isso no LinkedIn, as marcas começaram a ligar", diz Jogikalmath.
CIRCULARIDADE SOB UMA VISÃO MAIS AMPLA
Para garantir que as peças finais sejam totalmente recicláveis, a empresa também redesenhou componentes menores, como zíperes e botões, para que também sejam feitos de 100% nylon. Um designer, Willy Chavarria, já trabalhou com a startup para usar alguns desses materiais na fabricação de bonés de beisebol, sungas e óculos.
A abordagem básica da Vendor para tecidos elásticos — modificar o nylon para que o material tenha novas características — também pode ser usada em aplicações fora do vestuário. A empresa está trabalhando atualmente com uma grande marca de motocicletas para fabricar novas peças moldadas por injeção, por exemplo.
Leia mais: Concorrentes se unem em iniciativa para promover a reciclagem de tênis usados: Reciclar tecidos elásticos pode deixar de ser desafio segundo esta startupA empresa trabalhará com as marcas para recuperar as roupas feitas com seu material ao final de sua vida útil. As marcas podem incluir uma etiqueta para que os clientes saibam que a peça de roupa ou outro produto é totalmente reciclável. "Queremos ser o 'Intel Inside' da circularidade", diz Jogikalmath.
No mundo da moda, onde as marcas estão constantemente buscando novas maneiras de reduzir sua pegada de carbono, o tecido elástico tem o potencial de se expandir rapidamente. "Quando você tem uma enorme economia de carbono, quando o produto é reciclado, quando é reciclável e quando o custo e o desempenho são equivalentes, por que não adotá-lo?", diz Adam Baruchowitz, cofundador e diretor de reciclagem da Return to Vendor. "É uma vitória completa para eles e para todos — para a marca, para o cliente, para o planeta."