Este mapa incrível mostra os 2,75 bilhões de prédios que há no mundo, em 3D

Pesquisadores conseguiram mapear com precisão todos os edifícios do planeta. O resultado é um retrato de como o mundo vem se desenvolvendo

Mapa incrível
Créditos: Zdenek Sasek via Getty Images

Jesus Diaz 4 minutos de leitura

Do mais recente arranha-céu em uma megalópole chinesa a uma iurta (uma espécie de tenda tradicional, portátil e circular, usada por povos nômades da Ásia Central) de cerca de dois metros de altura no interior da Mongólia, pesquisadores da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, afirmam ter criado um mapa de todos os edifícios do planeta: 2,75 bilhões de construções representadas em modelos 3D de alta resolução, com um nível de precisão nunca antes visto.

O projeto foi desenvolvido a partir de anos de análise de dados de satélite com a ajuda de algoritmos de aprendizado de máquina e reflete um esforço contínuo para registrar o mundo construído em três dimensões. Segundo os cientistas envolvidos, o modelo pode servir de base para pesquisas climáticas e para monitorar o avanço em direção aos objetivos globais de desenvolvimento sustentável.

Xiaoxiang Zhu, professora de ciência de dados em observação da Terra na Universidade Técnica de Munique e líder do projeto, conta que a grande inovação está no fato de o novo mapa mostrar, em três dimensões, quanto espaço as pessoas realmente ocupam.

Créditos: rikirennes/Adobe Stock]

“As informações em 3D sobre os edifícios oferecem um retrato muito mais fiel da urbanização e da pobreza do que os mapas tradicionais em 2D”, explica. Com os modelos tridimensionais, “não vemos apenas a área ocupada no solo, mas também o volume de cada construção”.

“As informações em 3D oferecem um retrato muito mais fiel da urbanização e da pobreza do que os mapas tradicionais."

No centro desse trabalho está o GlobalBuildingAtlas, um conjunto aberto de dados que descreve edifícios individuais em todo o planeta, tanto por meio de contornos em 2D quanto como objetos simples em 3D. Ao todo, o atlas reúne 2,75 bilhões de footprints de edifícios – polígonos que delineiam os limites de cada estrutura –, abrangendo todos os prédios que os satélites conseguiram identificar em imagens de 2019.

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Logo de início, o mapa revela alguns padrões interessantes, como a concentração do volume construído em grandes regiões metropolitanas, com densidades especialmente altas no Leste Asiático, na Europa e na América do Norte.

Ao mesmo tempo, muitas áreas do Sul Global apresentam enormes quantidades de construções pequenas e de poucos andares, especialmente na África, que possui mais prédios do que a Europa e a América do Norte, mas uma área construída e um volume total muito menores.

O mapa virou ferramenta poderosa para identificar onde habitação e infraestrutura não acompanham o crescimento populacional

A possibilidade de mapear a altura e o volume dos edifícios ajuda a revelar desigualdades que mapas convencionais em 2D costumam esconder: um assentamento informal denso e um bairro planejado, com prédios de vários andares, parecem semelhantes quando analisados apenas por estatísticas planas baseadas em área.

Com dados precisos em 3D, no entanto, especialistas conseguem perceber que esses espaços oferecem condições de moradia muito diferentes entre si e exigem tipos distintos de infraestrutura.

A métrica proposta de volume construído por habitante faz do GlobalBuildingAtlas uma ferramenta poderosa para identificar onde habitação e infraestrutura não acompanham o crescimento populacional e, portanto, onde as políticas urbanas e os investimentos deveriam se concentrar.

Reprodução da tela

INCRIVELMENTE DETALHADO

O atlas revela um mundo construído que pode lembrar o Google Maps, mas em uma escala muito maior, mais detalhada e mais precisa. Em nível global, os 2,75 bilhões de prédios ocupam cerca de 506.700 quilômetros quadrados de área no solo e somam aproximadamente 1,85 trilhão de metros cúbicos. Os autores demonstram tanta confiança nos dados que afirmam que a estimativa da ONU, que aponta cerca de quatro bilhões de edifícios no mundo, está incorreta.

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Segundo o artigo científico, as estatísticas continentais funcionam como um raio-X numérico do desenvolvimento global. A Ásia lidera com cerca de 1,22 bilhão de edifícios e o maior volume acumulado, refletindo tanto sua população quanto seus centros urbanos altos e densos. Já a África conta com aproximadamente 540 milhões de prédios, mas apenas uma fração da área e do volume construídos – o que os autores interpretam como um sinal de que muitas estruturas no continente são pequenas, térreas ou informais.

A Europa e a América do Norte possuem menos edifícios do que a África, mas apresentam um volume médio por construção muito maior. A América do Sul e a Oceania ficam entre esses dois extremos, com a América do Sul se destacando por apresentar os maiores erros de estimativa de altura e de volume no conjunto de dados – algo que a equipe associa a uma combinação complexa de assentamentos informais e construções verticais, mais difíceis de representar com precisão pelo modelo.

LIÇÕES A APRENDER

No artigo, Zhu e seus colegas afirmam que o principal avanço conceitual está em ir além do indicador atualmente utilizado pelas Nações Unidas para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11, que busca tornar as cidades ao redor do mundo mais seguras, mais verdes, mais resilientes e mais acessíveis.

Hoje, a ONU avalia esse objetivo com base na área urbanizada em relação ao crescimento populacional. Este mapa em 3D, ao tratar as cidades com precisão como objetos plenamente tridimensionais, permitirá que a ONU e outras organizações façam análises mais precisas e tomem decisões mais bem informadas.


SOBRE O AUTOR

Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais