Flexibilidade se torna o grande motivador dos profissionais de TI na realidade pós-pandêmica

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Redação Fast Company Brasil 5 minutos de leitura

Com o mercado de trabalho adotando os modelos remoto e híbrido como alternativas viáveis para atrair e reter profissionais, a procura por talentos em TI ganhou um novo nível de competitividade no momento da seleção. Segundo pesquisa do site de empregos Indeed, realizada entre janeiro e março de 2022, dentre as 15 vagas mais difíceis de serem preenchidas, 11 são de tecnologia.

Isso pode atestar tanto a falta de profissionais quanto uma exigência maior por parte deles mesmos na hora de escolher uma empresa. Relatório da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom)  mostrou que o déficit de profissionais do setor pode chegar a 260 mil até 2024, por exemplo.

Do outro lado, com a pandemia comprovando que o modelo de trabalho flexível funciona – e é especialmente aderente à rotina do mercado de TI –, os talentos passaram a ser procurados e recrutados globalmente, desconsiderando fronteiras. Com maior oferta, esses profissionais ganharam mais poder decisório e passaram a exigir mais da suas contratantes.

“Com certeza, há uma briga por talentos. O cenário da pandemia acentuou essa realidade, não apenas no Brasil, mas globalmente”, afirma Kleber Piedade, CEO da Matchbox, tech de recursos humanos especializada em soluções de employer branding. “Existem muitos profissionais brasileiros extremamente qualificados, que atualmente trabalham de forma remota e no conforto das suas casas para empresas de diferentes países, recebendo em dólar ou euro. Isso faz com que a concorrência na contratação fique ainda mais acirrada.”

UM TRABALHO, VÁRIOS EMPREGOS

Para Emilia Magnan, especialista em carreira e desenvolvimento humano da BossaBox – startup que

Muitos profissionais brasileiros qualificados trabalham de forma remota para empresas de diferentes países e recebem em dólar ou euro.

conecta empresas e profissionais de tecnologia – há outras questões de mercado mais recentes. “As companhias perceberam que podem contratar por períodos fracionados, permitindo que se trabalhe em diferentes empregos ou em diferentes projetos da empresa. Outro ponto é que muitas delas estão criando seus próprios marketplaces para talentos, como o Google, para os colaboradores decidirem de quais projetos gostariam de participar.”

A falta de profissionais, aliada à competição por talentos em TI, passou a exigir empresas mais flexíveis, conscientes e humanizadas. A aceleração da transformação digital, potencializada pela pandemia da Covid-19, além do aumento de fusões e aquisições (M&A) têm movimentado bastante as áreas de TI e de finanças e contabilidade. Segundo pesquisa da Robert Half, a retenção de talentos passou a ser considerado o principal desafio de 2022 para 48% dos CFOs e 53% dos CIOs.

Uma pesquisa recente da BossaBox mostra que as principais características valorizadas pelo profissional de TI em uma oportunidade de trabalho são: flexibilidade; senioridade do time; remuneração; escopo e tipo de projeto; e aprendizado. “Precisamos entender o valor que geramos enquanto empresa e se isso vai beneficiar o profissional. Ou seja, conhecer a necessidade e a oportunidade de carreira dele”, diz Emilia.

Para Piedade, da Matchbox, o profissional de tecnologia valoriza as referências técnicas, ou seja, ter lideranças e colegas de trabalho que possam inspirar e contribuir para o seu desenvolvimento. “Além disso, flexibilidade para trabalho remoto, para conduzir as entregas. Boa parte desses profissionais também gosta da ideia de fazer parte da construção de uma nova tecnologia que pode revolucionar o mercado”, afirma.

UMA NOVA REALIDADE DE RECRUTAMENTO E RETENÇÃO?

Com tantas empresas abordando e tentando entender as necessidades dos profissionais de tecnologia, como criar uma estratégia de recrutamento moldada para essa nova realidade flexível? “Em primeiro lugar é importante ter clareza de que o processo de atrair e convencer um profissional a trabalhar na sua empresa é similar a um processo de marketing e vendas: é preciso ter um bom produto, que, nesse cenário, seria a vaga ou oferta”, afirma Piedade.

Depois disso, você deve divulgar nos canais certos para atrair pessoas com perfil aderente a sua proposta e ter clareza da proposta de valor que está oferecendo. No caso de profissionais tão disputados, é preciso ainda entender o que o mercado está ofertando, o que a sua persona está procurando, e moldar e adaptar para que as ofertas sejam atrativas.

Por fim, para Piedade, é preciso deixar claros os diferenciais e destacar os fatores que realmente motivam o profissional e tornam a oportunidade mais interessante do que outras às quais ele foi apresentado. “O colaborador é um cliente de uma transação que diz: preciso do seu tempo e conhecimento e em troca te dou uma proposta de valor para a sua carreira”, diz Emilia.

RELAÇÕES LÍQUIDAS

Depois de uma contratação, as empresas precisam ficar de olho para não perder seus talentos para a concorrência, ao mesmo tempo em que consideram a flexibilidade como ponto chave para essa motivação, não só no modelo de contrato como também de trabalho – sendo o híbrido ou completamente remoto os preferidos por esses profissionais.

“O conceito de relações de trabalho líquidas é uma das maiores tendências do ano. Uma relação que antes tinha uma característica muito mais relacional de compromisso de fidelidade a longo prazo passa a ser mais transacional. Os acordos precisam ser de ganha-ganha e duram enquanto fizerem sentido para as partes envolvidas”, explica a especialista da BossaBox.

Piedade recomenda três ingredientes para uma boa estratégia de retenção e motivação de profissionais de tecnologia:

1. Ambiente de aprendizagem com referências técnicas que vão apoiá-lo no seu desenvolvimento profissional;

2. Ambiente com autonomia e flexibilidade, no qual o profissional poderá encaixar a vida pessoal dentro da rotina, assim como tomar decisões de negócios;

3. Relação de transparência para que ele entenda até onde pode contribuir para o crescimento da organização, além de dar visibilidade aos caminhos de desenvolvimento e crescimento profissional nos próximos meses e anos.


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