As razões (não faladas) pelas quais as pessoas não querem voltar ao presencial

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Com quase 50% da população já vacinada (em alguns estados, como Nova York e Califórnia, o número ultrapassa os 50%), muitos profissionais estão sendo chamados de volta para o escritório. O sonho do trabalho remoto, para bastante gente, está chegando ao fim.

O retorno à realidade que tínhamos antes da pandemia não está agradando muitas pessoas que gostariam de continuar trabalhando de casa. Uma pesquisa de abril de 2021 da FlexJobs descobriu que 60% das mulheres e 52% dos homens largariam o emprego se não tivessem permissão para continuar trabalhando remotamente em pelo menos parte do tempo. Para 80% das mulheres e 69% dos homens, as opções de trabalho remoto estão entre as principais considerações ao procurar um novo emprego.

Quando questionados a respeito da preferência pelo trabalho remoto, muitos dizem que são mais produtivos nesse modelo e/ou melhoram a qualidade de vida.

Mas há outros motivos pelos quais muita gente não está disposta a voltar ao trabalho presencial. Por exemplo: a necessidade de passear com o cachorro que foi adotado durante a pandemia; ter de comprar roupa nova porque ganhou alguns quilos nos últimos meses; a aflição de ficar presa em um cubículos durante a maior parte do dia.

A Fast Company conversou com algumas pessoas que compartilharam os motivos pessoais pelos quais não querem voltar ao trabalho.

“EU PRECISO TIRAR UMA SONECA“

Desde 2013, quando um acidente causou uma lesão na coluna que exigiu duas cirurgias, Lynn (nome fictício) tem lidado com dores crônicas e problemas de sono. Como resultado, ela muitas vezes fica cansada durante o dia. Não consegue dar o seu melhor, especialmente depois do almoço, quando a fadiga costumava aparecer.

“Quando estou em reuniões e as pessoas me fazem perguntas, não consigo responder instantaneamente, (ou) digo as coisas erradas”, conta. Ela não se sentia confortável para conversar com o chefe ou colegas sobre os problemas que estava enfrentando e estava lidando com ansiedade, depressão e queda de cabelo como resultado dos problemas de sono. Mas, durante a pandemia, conseguiu ajustar a programação para poder tirar uma soneca depois do almoço e descansar periodicamente quando necessário.

Desde que ela está trabalhando em casa, a produtividade disparou – seu supervisor percebeu e começou a elogiá-la. Ela se sente mais esperta e saudável. Sua maior preocupação agora é que terá de desistir do equilíbrio que finalmente encontrou.

“EU DESISTIRIA DE UM AUMENTO PELO TRABALHO REMOTO”

Melvin Gonzalez, um contador da Inc and Go, site de formação de negócios online, está enfrentando um dilema. “Amo a minha carreira, amo o meu trabalho e tenho benefícios incríveis. No entanto, como tudo na vida, há um preço a pagar: o deslocamento diário”, diz. Gonzalez viaja quatro horas (para ir e voltar do trabalho), o que dá 20 horas por semana em deslocamento.

Gonzalez disse que nunca realmente considerou quanto tempo estava gastando em deslocamento até o momento em que passou a trabalhar de casa, durante a pandemia. Ele usou o tempo extra para ir à academia e passar mais tempo com mulher e filhos.

Agora que ele está voltando para o escritório, não quer abrir mão desse tempo. Diz que está disposto até a desistir de um aumento para manter a flexibilidade. “Esta certamente se tornou a minha principal preocupação ao voltar ao escritório”, diz ele. “Acredito que o meu humor para o trabalho não será o mesmo.”

“ESTOU EM RECUPERAÇÃO (DO ALCOOLISMO)”

Até a pandemia chegar, Frank (nome fictício) trabalhava em um restaurante sofisticado na Filadélfia. O que os seus colegas de trabalho não sabiam na época é que ele estava lutando contra o alcoolismo. O ambiente, onde ele tinha fácil acesso ao álcool e aos colegas de trabalho que gostavam de sair para beber, dificultou a vontade de abandonar o álcool.

Mas, enquanto muitos viram os problemas de abuso de substâncias aumentarem durante o isolamento da pandemia, Frank conseguiu controlar o vício, diz ele. Agora que o restaurante está retomando o serviço novamente e o convidando a retornar ao antigo emprego, ele tem dúvidas se isso colocará a recuperação em risco. “A maioria das pessoas não se recupera porque não está disposta a mudar o estilo de vida”, diz. Se ele se recusar a voltar ao antigo emprego, o dinheiro ficará apertado, mas ele tem certeza de que pode fazer isso. “Também não quero admitir para todos os meus colegas de trabalho que sou um alcoólatra em recuperação.”

“NÃO QUERO DESISTIR DOS MEUS TRABALHOS COMO FREELANCER”

“A minha relutância é, na verdade, o custo de oportunidade que terei com o deslocamento diário”, diz Shondra (nome fictício), uma profissional de relações públicas de Nova York. Antes de ser demitida em abril de 2020, ela acordava às 6h para ter tempo suficiente para se preparar, passear com o cachorro, ir para o trabalho e começar a trabalhar às 10h. Depois de ser dispensada, ela começou a trabalhar como freelancer, o que acabou sendo lucrativo – e é algo que ela poderia fazer facilmente em casa.

Shondra tem um novo emprego, mas o plano sobre se os funcionários serão ou não obrigados a voltar ao escritório em tempo integral é “muito incerto”, diz. Por enquanto, ela tem muito tempo para cumprir suas responsabilidades com o empregador e trabalhar em seus projetos freelance. Não será o caso se tiver de voltar para o escritório. Além disso, a ideia de estar no transporte coletivo com tantas outras pessoas a faz refletir em relação à segurança, diz.

Ela está esperando para ver o que ocorrerá, mas reluta em desistir do trabalho freelance que a ajudou tanto quando foi dispensada do trabalho. “Foi-me dada a oportunidade de construir um bom pé-de-meia, caso – Deus me livre – algo assim volte a acontecer”, diz. “Não quero perder essa oportunidade tendo de voltar ao escritório em tempo integral.”


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