Assédio sexual já virou um problema no metaverso. Estudos mostram que pode ficar pior
Faz pouco mais de sete meses desde que Mark Zuckerberg anunciou que a empresa-mãe do Facebook mudaria seu nome para Meta. Mas, para muitas pessoas, todo o conceito do metaverso ainda soa um pouco estranho e assustador.
Enquanto empresas dão os primeiros nessa nova empreitada virtual e produtos de realidade virtual (RV) e realidade aumentada (RA) entram na corrida para aumentar sua base de clientes, o metaverso já parece estar adotando muitos dos piores comportamentos do mundo real.
Um relatório do grupo de responsabilidade corporativa SumOfUs mostra que as plataformas de realidade virtual da Meta – Horizon Worlds e Horizon Venues – estão repletas de vários dos mesmos problemas que existem nas plataformas de comunicação mais tradicionais. Entre eles, comentários misóginos, homofóbicos e racistas; um sistema de denúncias que fica aquém das necessidades reais dos usuários; falta de combate a infratores; e nenhuma classificação indicativa, o que pode resultar em crianças sendo expostas a conteúdos impróprios ou a ameaças a sua integridade.
Além disso, revela um problema específico do metaverso que talvez seja ainda mais grave: violência sexual virtual.
“Com apenas 300 mil usuários, é perturbadora a rapidez com que o Horizon Worlds se tornou um terreno fértil para conteúdo nocivo”, afirma o relatório. “Sem uma ação urgente, isso só tende a piorar. Até que os reguladores responsabilizem a Meta pelos danos causados em ambas plataformas, encontrem medidas para limitar seu controle sobre as indústrias de tecnologia e restrinjam suas práticas de coleta de dados, o metaverso provavelmente se transformará em um ambiente mais sombrio e tóxico”.
A Meta não respondeu nem comentou a crítica.
FALTA DE MODERAÇÃO = COMPORTAMENTOS TÓXICOS
A empresa, é claro, é apenas um player no crescente
Até que os reguladores responsabilizem a Meta pelos danos causados em suas plataformas, o metaverso poderá ter se tornado um ambiente sombrio e tóxico.
segmento do metaverso. Epic Games, Roblox e vários outros estão desenvolvendo seus próprios mundos virtuais, que (por enquanto) são consideravelmente maiores. Mas a Meta tem dinheiro, e muito. Em 2021, anunciou planos de investir US$ 10 bilhões no Facebook Reality Labs. É também a maior fabricante de óculos RV, que já vêm com seu próprio software pré-instalado.
Assim como no Facebook, a empresa planeja que a coleta de dados do usuário seja sua principal fonte de receita no metaverso. Mas o relatório do SumOfUs ressalta que a quantidade de dados que receberá é muito maior do que as pessoas imaginam.
“Em um mundo virtual, onde os usuários usam óculos de realidade virtual capazes de rastrear informações corporais como movimentos dos olhos, expressões faciais e temperatura, podemos esperar uma versão ainda mais distópica do capitalismo de vigilância”, diz o relatório.
ESTUPRO VIRTUAL
Segundo a SumOfUs, a moderação mínima tanto do Horizon Worlds quanto do Horizon Venues permite que o
Uma pesquisadora que foi assediada virtualmente descreve a experiência como “desorientadora e até perturbadora”.
comportamento tóxico ocorra. Uma testadora beta que denunciou assédio, após ter sido apalpada virtualmente, foi responsabilizada pela Meta por “usar os recursos de segurança pessoal de forma inadequada”. Outra usuária afirma que seu avatar sofreu estupro coletivo durante 60 segundos por um grupo de três a quatro avatares masculinos.
Como a interação no metaverso é feita através de avatares em desenho animado, há uma minimização das alegações de agressão virtual. No entanto, quando alguém toca seu avatar no Horizon Worlds, o controle dos óculos RV na mão do usuário vibra, uma experiência que uma pesquisadora da SumOfUs que foi assediada virtualmente descreve como “muito desorientadora e até perturbadora”. Infelizmente, esses incidentes não se limitam às plataformas da Meta.
O SumOfUs não foi o primeiro a lançar luz sobre esse tipo de interação indesejada. Em fevereiro, a Meta lançou o recurso Personal Boundary, desenvolvido para impedir que outras pessoas violem o espaço pessoal do seu avatar, criando um perímetro de aproximadamente 1,2 metros.
“O Personal Boundary garante mais espaço pessoal para as pessoas e torna mais fácil evitar interações indesejadas”, publicou a empresa ao apresentar o recurso. “Continuaremos a fazer melhorias à medida que aprendemos mais sobre como ele impacta as experiências das pessoas em realidade virtual.”