Empresas com baixas metas de redução de carbono. É greenwashing?
Mais de 700 das maiores companhias do mundo não têm planos eficientes para ajudar a combater as mudanças climáticas
Mais de 700 grandes companhias em todo o mundo, da Amazon e da Apple a petrolíferas como Exxon Mobil, já estabeleceram metas para zerar suas emissões de carbono – um crescimento de 68% em relação ao número de empresas que se comprometeram com esse objetivo dois anos atrás.
Mas seus planos não se mostram suficientes para, de fato, ajudar a combater as mudanças climáticas, de acordo com um novo relatório divulgado durante a Conferência do Clima de Bonn, na Alemanha, na primeira semana de junho.
No estudo, quatro organizações verificaram os compromissos assumidos pelas duas mil maiores empresas globais, bem como por cidades, estados e governos nacionais.
Em termos gerais, para termos alguma chance de limitar o aquecimento do planeta em 1,5 graus Celsius, a sociedade precisaria chegar a zero emissão de carbono por volta de 2050. O que significa que qualquer emissão adicional teria que ser compensada pela natureza ou por tecnologias de captura de carbono.
O volume de empresas declaradamente comprometidas em zerar suas emissões “cresceu substancialmente”, segundo Frederic Hans, analista de políticas climáticas do NewClimate Institute, organização sem fins lucrativos que produz estudos em conjunto com o Data-Driven EnviroLab, a Oxford Net Zero e a Energy & Climate Change Intelligence Unit.
Muitas empresas não compartilham seus planos de ação ou como vão medir o progresso de suas iniciativas no curto prazo.
“No entanto, ainda verificamos uma certa falta de credibilidade. No momento, temos quantidade, mas não qualidade. E é esse ponto que deve ser enfatizado daqui por diante”, afirma Hans.
Em alguns casos, as empresas estabeleceram objetivos a serem atingidos até 2050, mas não adotaram metas provisórias alinhadas com o fato de que as emissões globais precisam cair pela metade até 2030. Muitas não compartilharam seus planos de ação ou como vão medir o progresso de suas iniciativas no curto prazo.
Além disso, muitas vezes as empresas não são transparentes com relação ao que consideram “suas” emissões. Especialistas argumentam que deveriam ser incluídas as emissões de escopo 3 – a poluição causada pelos fornecedores, pelo uso dos produtos por parte dos consumidores e por outros elos da cadeia de valor.
NEM TUDO DÁ PARA COMPENSAR
Outro ponto é que muitas empresas preferem investir em compensação de carbono em vez de trabalhar para reduzir suas próprias emissões. Esses planos são, muitas vezes, implausíveis: a petrolífera Shell, por exemplo, divulgou que pretende plantar árvores que cobrirão uma área do tamanho do Brasil.
Cerca de 40% das companhias que declaram objetivo de zerar suas emissões dizem que planejam fazer isso via mecanismos de compensação. Menos de 2% dizem que não vão zerar as emissões e o resto não tem sido transparente com relação a seus planos nesse quesito.
Todos esses fatores são necessários para que se considere que o compromisso pretendido tem credibilidade. “Às vezes nos perguntam qual o aspecto mais importante da questão do carbono zero. É impossível responder, porque vários deles estão interligados”, explica Hans.
a petrolífera Shell divulgou que pretende plantar árvores que cobrirão uma área do tamanho do Brasil.
Em uma análise em profundidade das metas de um pequeno grupo de empresas, feita no início do ano, o NewClimate Institute descobriu que mesmo organizações que parecem estar na liderança do combate às mudanças climáticas apresentam pontos fracos em suas metas. Poucas delas, como a dinamarquesa Maersk, alcançaram uma pontuação considerada “razoável” pelos pesquisadores.
Para Hans, as empresas precisam fazer mais. Novas regras que exijam a divulgação oficial de relatórios sobre emissões de carbono podem ajudar. Análises realizadas por entidades independentes, como a do NewClimate, podem também incentivar as companhias a melhorarem. Mas a mudança levará tempo, e isso é algo que não temos.
“Quando olhamos para as descobertas da ciência, divulgadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, vemos que a redução das emissões de carbono tem que acontecer nos próximos sete anos, ou seja, até 2030”, lembra o especialista. “Não dá para ficar protelando e deixar tudo para a última hora. Precisamos nos mobilizar agora”, alerta.