Esta startup está usando IA para melhorar o tratamento do autismo

SpectrumAi usa tecnologia para melhorar as terapias para crianças com distúrbios neurológicos

Crédito: Carol Yepes/ GettyImages/ Starline/ Freepik

Sy Mukherjee 3 minutos de leitura

Ling Shao tem um filho de três anos com autismo que tem dificuldade para se comunicar. “Meu filho mais novo tem uma parte da testa quase calcificada porque a bate no chão quando fica frustrado por não conseguir se comunicar da maneira que quer”, diz ela. “É de partir o coração.”

Shao, que também é mãe de outras quatro crianças com transtorno do espectro autista, é uma veterana da indústria da saúde. Ela ocupou cargos de liderança executiva na seguradora UnitedHealth, na gigante de serviços de saúde Optum e na startup Buoy Health.

Mas estava cada vez mais decepcionada com uma das barreiras para um tratamento de autismo mais acessível: a falta de transparência de dados que dificulta a definição – e, consequentemente, a busca – de tratamentos comprovados e de alta qualidade para os pais.

No ano passado, Shao lançou a SpectrumAi para solucionar algumas deficiências fundamentais no tratamento do autismo. Ela usa uma plataforma de software e inteligência artificial que coleta dados para que, no futuro, profissionais da saúde sejam remunerados de acordo com o valor que agregam ao tratamento, e não pela variedade de serviços que podem oferecer, assim incentivando melhores práticas.

Ling Shao, fundadora da SpectrumAi (Crédito: SpectrumAi/ Divulgação)

A empresa anunciou uma rodada de financiamento de US$ 9 milhões no início de junho, liderada pela F-Prime Capital e Frist Cressey Ventures, juntamente com investimentos do Autism Impact Fund. Sua missão, em resumo, é trazer transparência à prática da Análise de Comportamento Aplicada (ABA, do inglê, Applied Behavior Analysis), uma forma de terapia do autismo.

REFORÇO POSITIVO

Cerca de uma em cada 44 crianças norte-americanas tem transtorno do espectro autista, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). O ABA é, de longe, a terapia para autismo mais antiga e mais usada, com vários estudos mostrando sua eficácia no tratamento de crianças.

Os tipos de ABA podem incluir reforço positivo, quando o paciente recebe recompensas ao atingir objetivos específicos da comunicação ou ao responder corretamente a perguntas do terapeuta. Também podem incluir coisas como comunicação por troca de imagens, em que um paciente pede algo trocando uma imagem pelo objeto real, até que passe a pedir verbalmente.

Ling Shao é mãe de quatro crianças (Crédito: SpectrumAI/ Divulgação)

Estas são ferramentas muito valiosas para pessoas com transtorno do espectro autista, principalmente crianças com dificuldade de comunicação. Mas a aplicação incorreta do ABA pode ser extremamente prejudicial e reforçar comportamentos negativos, alerta Shao.

Uma falha básica no sistema de saúde dos EUA, onde os cuidados de saúde comportamental e mental, na maioria das vezes, são menosprezados, é que “não há padrões de dados universalmente aceitos para avaliar os resultados e melhorar a qualidade do atendimento”, diz ela.

Alguns pais podem ter bastante dificuldade em encontrar tratamento eficaz com terapia ABA já que não há dados disponíveis de fácil acesso. O SpectrumAi pretende trazer mais clareza sobre o que funciona e produzir melhores resultados de tratamento, medindo-o de forma empírica por meio de uma plataforma digital.

AUTOMAÇÃO DA COLETA DE DADOS

Em lugar das inúmeras anotações subjetivas, que interrompem o fluxo da terapia ABA e que

Ideia é que profissionais da saúde sejam remunerados de acordo com o valor que agregam ao tratamento.

exigem profundo envolvimento do terapeuta, o software da SpectrumAi ajuda a automatizar o processo de coleta de dados e fornece um centro de informações amplamente acessível, que também pode ajudar os profissionais a se concentrarem nas técnicas de ABA mais eficazes para diferentes grupos de pacientes.

O software SpectrumAi tem dois objetivos: fornecer às empresas de plano de saúde uma maneira mais simples de verificar exatamente quais objetivos e técnicas de ABA estão sendo usadas nas sessões e dar aos terapeutas ABA uma interface que torna mais simples registrar as técnicas que utilizaram durante a sessão.

À medida que a SpectrumAi analisa tratamentos e resultados, Shao espera compartilhar as melhores práticas com os terapeutas da ABA para ajudar a identificar abordagens comprovadamente eficazes de acordo com as necessidades individuais de cada criança.

“Outra maneira pela qual achamos que isso pode impulsionar a qualidade é o aprendizado compartilhado, tornando esses dados disponíveis e acessíveis”, diz Shao. “Talvez cada método funcione melhor para casos específicos, dependendo do tipo de avaliação, do histórico e dos desafios que os pacientes enfrentam.”


SOBRE O AUTOR

Sy Mukherjee é consultor e arquiteto de comunicação na IDEA Pharma. saiba mais