Famosas adotam cintas modeladoras, versão moderna do espartilho
Celebridades como Nicki Minaj, Kylie Jenner e Victoria Beckham promoveram fortemente cintas e calcinhas modeladoras
Ao longo da história, as mulheres vêm sendo pressionadas a se adequar a certos formatos de corpo. Na tentativa de se aproximar de padrões praticamente inalcançáveis, elas recorreram muitas vezes a métodos extremos.
Considerando a forte tendência contemporânea de valorização da diversidade dos corpos e o fortalecimento do movimento de positividade corporal (body positivity), era de se esperar que espartilhos e outras roupas íntimas que apertam e restringem os movimentos fossem aposentados de uma vez por todas.
Mas, contrariando todas as expectativas, a indústria global de “shapewear” (roupas íntimas modeladoras) está crescendo. As projeções de vendas desses produtos indicam que elas atingirão US$ 3,7 bilhões até 2028.
Se o uso de espartilhos remonta ao século 16, foi somente no século 18 que a forma de ampulheta se tornou moda. Os espartilhos também passaram a representar o status de elite e a fragilidade física, que simbolizava a feminilidade.
Diferentes ideais de corpo entraram e saíram de moda desde então, sendo em grande parte moldados pelas celebridades de cada época ou mesmo por imagens e obras de arte famosas. Figuras em forma de ampulheta eram populares ao longo da década de 1950, graças a símbolos sexuais como Marilyn Monroe e Jayne Mansfield.
A década de 1960 viu uma mudança em direção a um corpo mais magro, graças em parte à icônica modelo britânica Twiggy. O visual magro e esquálido permaneceu na moda até a década de 1990 – novamente, devido à popularidade de modelos como Kate Moss.
A década de 2010 testemunhou uma nova mudança, dessa vez na direção de uma silhueta “curvilínea”, em que uma cintura fina e quadris um pouco maiores voltaram a fazer sucesso. Assim como nas décadas anteriores, essa mudança foi impulsionada por celebridades, incluindo Rihanna, Beyoncé e, principalmente, Kim Kardashian.
TENDÊNCIA NAS MÍDIAS SOCIAIS
Embora as mídias sociais digitais tenham aberto mais espaço para celebrar uma gama mais diversificada de corpos, ainda há uma pressão contínua para que as mulheres se adequem a um ideal ao qual dificilmente se chega de forma natural. É por isso que cintas, bodys, shorts e calcinhas modeladores continuam populares.
Antes de a marca de roupas íntimas Spanx lançar leggings e calcinhas modeladoras, em 2000, as roupas íntimas modeladoras eram algo reservado para ocasiões especiais. Mas graças ao endosso de celebridades e influenciadores do Instagram, o chamado shapewear se tornou um item de vestuário diário, usado para ajudar a melhorar a aparência e alcançar a silhueta ideal. Kardashian e Victoria Beckham lançaram suas próprias linhas de lingeries modeladoras.
A moda está fazendo tanto sucesso que muitas mulheres jovens estão usando lingeries modeladoras por cima da roupa. As buscas online por essas peças superaram até mesmo pesquisas sobre a melhor maneira de perder peso.
As cintas modeladoras, em particular, são um ótimo exemplo do poder das mídias sociais e do endosso de celebridades para impulsionar vendas e mudar percepções. Por exemplo, uma selfie de 2015 postada por Kardashian usando um desses modeladores de cintura gerou um aumento nas vendas do produto. Outras celebridades, como Nicki Minaj e Kylie Jenner, também postaram sobre o uso de cintas.
As redes sociais têm uma enorme influência no consumo de produtos de moda. Com uma estimativa de 3,2 bilhões de usuários em todo o mundo, elas criam um enorme potencial para as marcas exporem os consumidores diariamente a produtos de moda.
As tendências que costumavam ser impulsionadas pelas revistas de moda agora estão quase totalmente nas mãos dos influenciadores. Com pessoas comuns exibindo silhuetas mais próximas do padrão midiático e compartilhando suas experiências com as cintas modeladoras, esses produtos podem passar a impressão de serem muito mais confortáveis do que eram antigamente.
Apesar de algumas influenciadoras defenderem das peças modeladoras como uma forma de celebrar a forma feminina, sua relação com antigas noções de perfeição e seu endosso por celebridades de cintura fina levantam a questão: a aceitação do corpo é realmente aquilo que esses produtos estão tentando vender?
MALEFÍCIOS E RISCOS
Há dúvidas crescentes sobre os benefícios e riscos potenciais do uso de lingerie modeladora. Embora os modeladores de cintura possam reduzir temporariamente a circunferência da cintura, ela retorna rapidamente ao tamanho normal após a interrupção do uso.
Muitas pesquisas também mostram que o uso de corsets e de cintas modeladoras pode fazer mal à saúde a longo prazo, causando desde problemas digestivos até danos aos órgãos, em casos extremos. Mulheres que usam modeladores por oito a 10 horas por dia durante muitos meses relataram sintomas como formigamento, refluxo e azia, compressão de órgãos e problemas respiratórios.
Inovações técnicas de fabricação – por exemplo, para tornar essas peças mais respiráveis e flexíveis – podem oferecer um ajuste mais natural e menos prejudicial. Mas, para garantir a segurança, use peças modeladoras somente no tamanho certo para o seu corpo e evite usá-las todos os dias.