Investimentos em agrifoodtech na Europa crescem 13 vezes em 2021
O volume passou de US$ 3,4 bilhões em 2020 para US$ 9,2 bilhões em 2021, aplicados principalmente em empresas do segmento de e-Grocery
As empresas europeias que atuam no setor de agrifoodtech não tiveram do que reclamar em 2021 quanto à oferta de capitais para investirem e melhorarem suas operações. Ao menos em volume de recursos investidos, o continente passou de US$ 3,4 bilhões em 2020 para US$ 9,2 bilhões em 2021. Expressivo crescimento de 1300% ano a ano, em 708 deals, segundo relatório publicado pela AgFunder elaborado junto com a F&A Next.
Os investidores miraram fortemente as empresas que atuam no segmento de e-Grocery, com foco nas entregas de alimentos e marketplaces de alimentos crus e processados para consumidores. Somente nesta categoria, os investimentos somam US$ 4,2 bilhões, em 86 deals.
O valor equivale a mais de 43% do total dos investimentos. Três empresas de entrega quase instantânea levantaram 73% de todo o financiamento do e-Grocery e 32% do financiamento total na Europa: Flink e Gorilas, da Alemanha, e PicNic da Holanda.
Os investidores priorizaram os investimentos em medium e late stages no ano, deixando pouco capital para seed e early stage.
Notável no relatório que os investidores priorizaram os investimentos em medium e late stages no ano, deixando pouco capital para seed e early stage. Essa é a tendência que segue o que está ocorrendo em outros mercados, onde os investidores buscaram fortalecer posições junto a empresas mais consolidadas e arriscaram menos em novos empreendimentos.
Das três outras categorias que conseguiram mais volumes de investimentos, duas estão também ligadas a vendas e logística: infraestrutura de cloud retail e marketplace de restaurantes (onde se inserem as dark kitchens e outras unidades de processamento de alimentos), cada uma com US$ 900 milhões.
A primeira de produção de alimentos no ranking é especializada no cultivo em fazendas verticais, relevante no continente por questões ambientais e de sustentabilidade, também com US$ 900 milhões. Uma grande diferença em relação à categoria eGrocery, que lidera a lista.
INVESTIMENTO EM PRODUÇÃO E LOGÍSTICA
O relatório aponta que as empresas que são mais ligadas à produção e inovação de alimentos foram bem menos favorecidas com investimentos ao longo do ano. Um dos principais destaques é a alemã Infarm, que tem fazendas verticais. A empresa captou 58% de todo o capital na categoria – que inclui a produção de alimentos indoor, aquicultura e produção de proteínas a partir de algas e insetos – com o valor total de US$ 300 milhões.
Fica o questionamento se está ocorrendo um bom equilíbrio nos investimentos e se no futuro teremos mais entregadores do que comida.
Os tíquetes das empresas ligadas ao desenvolvimento e ampliação na oferta de alimentos a base de novas proteínas, biotecnologia, bioenergia e biomateriais, assim como de tecnologias aplicadas em fazendas, foram bastante modestos comparando com o que foi destinado à e-Grocery. Os valores vão de US$ 2 milhões a US$ 50 milhões na maioria dos negócios realizados.
A concentração de investimentos em estruturas logísticas é fato também verificado no Brasil – vide o que foi apurado na pesquisa Distrito / Outcast. O relatório AgFunder trata do mercado europeu, que tem características muito específicas em termos de volume de produção de alimentos e está em linha com a tendência internacional.
No entanto, considerando a pressão que o ecossistema de alimentação sofre para ampliar a oferta de alimentos a partir de inovações e aumento de produtividade para atender as demandas atuais e futuras, fica o questionamento se está ocorrendo um bom equilíbrio nos investimentos e se no futuro teremos mais entregadores do que comida.