Sem líderes sensíveis, IA pode desmotivar a equipe
Lideranças com fortes habilidades sociais são imprescindíveis para mediar a relação entre a tecnologia e os seres humanos
Da Microsoft ao Barclays Bank, organizações estão aumentando o uso de inteligência artificial para mensurar a produtividade dos funcionários, automatizar as avaliações de performance e recomendar medidas de aperfeiçoamento.
Pesquisa realizada antes do início da pandemia mostrou que 90% dos líderes de negócios globais planejavam implementar ou expandir a adoção de inteligência artificial em suas companhias. Essa tendência só fez acelerar, na medida em que as empresas tomam medidas para se manter de olho nos que estão em home office, por exemplo, monitorando seus telefones e computadores.
O investimento feito em IA para incrementar a produtividade tem como foco a análise de grandes quantidades de dados, de forma muito mais acurada do que um ser humano normalmente é capaz. O que resulta em aumento da velocidade, da precisão e da utilidade das avaliações de desempenho, dando feedbacks detalhados e de alta qualidade que nenhum gerente conseguiria entregar.
É claro que a inteligência artificial não é perfeita. O uso de dados parciais ou enviesados põe em questão a dita “imparcialidade” das IAs. Os funcionários costumam temer que a tecnologia invada sua privacidade e prejudique sua autonomia. No fim das contas, humanos são seres sociais e, na maioria dos casos, preferem interagir com outros seres humanos do que com máquinas.
Depender demais de IA para monitorar os empregados e fornecer feedback pode acabar deixando de fora valiosas observações e críticas das próprias pessoas, como contribuições feitas por funcionários, que não têm como ser quantificadas facilmente.
Isso pode provocar um sentimento de alienação e minar a confiança da equipe na empresa. Se as lideranças simplesmente deixarem as avaliações por conta das máquinas, há a possibilidade de que isso afete o desempenho e até o bem-estar dos funcionários, eliminando possíveis benefícios que o uso da tecnologia tenha trazido.
Para que a inteligência artificial alcance todo o seu potencial, ela deve ficar nas mãos de administradores muito cuidadosos e com grande experiência em lidar com pessoas.
Em 2021, eu e meus colegas publicamos um estudo sobre feedback de IA no local de trabalho em grandes instituições do setor financeiro. Descobrimos que funcionários que recebiam avaliações feitas por IA tinham performance 13% maior do que os avaliados por seus superiores.
No entanto, esse efeito erai atenuado quando os funcionários ficavam sabendo que o feedback tinha sido dado por uma máquina. O desempenho caiu 5,4%, em comparação com os que foram informados de que a avaliação havia sido feita pela gerência.
Nossa pesquisa mostra que IA pode ser bem melhor que gerentes de carne e osso na geração de relatórios bem estruturados e de alta qualidade, mas que os humanos superam a máquina quando se trata de conquistar a confiança e a adesão da equipe.
Um bom líder pode fazer toda a diferença na hora de aliviar as tensões provocadas pela tecnologia. Os colaboradores reagem melhor a gerentes transformacionais, que cultivam o relacionamento com seus subordinados e que demonstram se importar com seu desenvolvimento profissional.
Os líderes precisam entender as informações geradas pelas máquinas e discuti-las com as equipes. Aprimorar o processo deve ser uma ação coletiva, na qual a inteligência artificial entra como uma ferramenta de auxílio, e não de vigilância.
A seguir, indicamos três passos importantes que as lideranças podem seguir para colher os benefícios do uso de IA sem abalar o moral de suas equipes:
1 . Feedbacks gerados por IA devem ser discretos e incorporados naturalmente no fluxo de trabalho. Os funcionários não vão se sentir bem sendo constantemente monitorados e avaliados por máquinas que registram cada minuto da sua produtividade.
2 . Os líderes devem considerar os relatórios gerados por computador como uma das fontes de informações disponíveis e incorporá-las à sua avaliação geral. O feedback deve ser visto pela equipe como algo elaborado pelos chefes, e não por máquinas.
3 . As organizações precisam contratar, reter e recompensar líderes transformacionais, aqueles com fortes habilidades sociais, capazes de atenuar os efeitos do uso de IA nas avaliações e conquistar a confiança dos funcionários.
Saber lidar com pessoas será a competência mais valorizada na era das IAs corporativas. Para os funcionários darem o seu melhor, gerentes e líderes transformacionais terão que mediar a relação entre humanos e máquinas.
Com pessoas de verdade comandando o barco, conseguiremos ter o melhor dos dois mundos, com a inteligência artificial fazendo o trabalho pesado e dando apoio aos colaboradores, permitindo que eles se ocupem das atividades que demandam criatividade e interação.