Economia circular: por que os celulares são parte importante desse conceito
Além de ampliar a vida útil dos produtos, a dinâmica viabiliza o melhor uso dos nossos recursos naturais
De acordo com alerta de Virginijus Sinkevičiu, comissário europeu do ambiente, oceanos e pesca, apesar de só haver um planeta Terra, os atuais hábitos da humanidade caminham para a preocupante situação em que, até 2050, “o mundo vai consumir como se houvesse três planetas”. Para alguns pode parecer uma realidade distante, mas não é. Como será nossa trajetória até lá? O que deixaremos para as futuras gerações? Esses tópicos me preocupam há tempos, como empresário e cidadão.
Falando especificamente do Brasil, trata-se de um país com muitas riquezas naturais. Mas esses recursos são finitos. Não adianta negligenciar ou ignorar essa informação. Principalmente quando somos surpreendidos por dados que, segundo a Green Eletron, colocam os brasileiros na quinta posição entre os maiores geradores globais de resíduos eletrônicos, com mais de dois milhões de toneladas descartadas apenas em 2019, registrando reciclagem de menos de 3% desse total. Certamente, se ampliarmos a visão com relação aos demais tipos de resíduos, o choque será ainda maior.
Os dados são uma evidência clara do quanto ainda praticamos a ineficiente e destruidora economia linear. Ou seja, extraímos recursos do planeta, produzimos os produtos desejados ou necessários, utilizamos esses itens e – muitas vezes diante do simples surgimento de uma novidade – os descartamos. Mas o que aconteceria se a gente se dispusesse a pensar e praticar além das nossas necessidades, sem deixar de ter o que queremos ou precisamos?
REUTILIZAÇÃO, RECUPERAÇÃO, RECICLAGEM
Nas sociedades mais desenvolvidas, tem ganhado força e sentido a economia circular. Na comparação com a economia linear, há mudanças significativas na etapa inicial (extração) e final (descarte), nas quais aplicam-se os conceitos de reutilização, recuperação ou reciclagem.
os brasileiros na quinta posição entre os maiores geradores globais de resíduos eletrônicos.
Assim, além de ampliar a vida útil dos produtos, a dinâmica viabiliza o melhor uso dos recursos naturais, enquanto democratiza o uso dos itens. É o que acontece, por exemplo, no mercado de smartphones recondicionados, que cresce 15% ano a ano, de acordo com o Global Refurbished Smartphone Tracker, da Counterpoint Research.
O processo de implantação da economia circular não é simples, pois não se trata apenas de métodos, processos, políticas e estruturas. Exige também uma boa dose de conscientização para gerar mudanças definitivas na forma de viver em grande parte da população global.
O estudo da Green Eletron aponta, por exemplo, que 87% dos dois mil entrevistados já ouviram falar sobre lixo eletrônico, mas surpreendentes 33% acreditam que o assunto refere-se a mensagens de spam, e-mails, fotos e arquivos, e não aos equipamentos.
O caminho é longo, mas passos contínuos e de progresso precisam ser dados com urgência. Podemos começar por conta própria, avaliando se faz mais sentido ter a posse de um bem ou é possível apenas pagarmos pelo uso, como no mercado de compartilhamento e aluguel de carros.
É possível também repensar a forma de descartar um item antigo antes de adquirir um novo, como roupas, móveis, eletrônicos e eletrodomésticos. Será que naquele smartphone esquecido no canto da casa não está a via para que alguém tenha acesso à tecnologia?
A economia circular é pensar além de nós. É um desejo genuíno de se tornar uma pessoa mais consciente sobre as próprias ações e seus impactos na própria vida, na rotina de outras pessoas ou do planeta. Mais do que um conceito, é uma forma evoluída de pensar e viver. Muito do que o mundo precisa.