Amazônia, pelo olhar de Sebastião Salgado, chega ao Museu do Amanhã
Exposição chega ao Rio de Janeiro depois de passar por cidades como Paris, Londres, Roma e São Paulo, e seguirá no ano que vem para Los Angeles, continuando sua saga global
Um "manifesto em defesa da Amazônia" é como define Lélia Wanick Salgado a exposição Amazônia, que chega agora ao Rio de Janeiro trazendo 194 fotografias e oito vídeos com registros dos povos indígenas que vivem por lá. Lélia idealizou e concebeu o trabalho e disse que pretende levar o mergulho do marido, Sebastião Salgado, no coração da floresta ao longo de sete anos, para o mundo inteiro. A abertura da exposição no Museu do Amanhã foi marcada por emocionados discursos como o dela própria, de Sebastião e do líder indígena e ativista Beto Marubo, da região do Vale do Javari, no Estado do Amazonas.
"Hoje a Amazônia está entregue ao narcotráfico, ao garimpeiro ilegal, ao grileiro de terras. Não existe proteção da Amazônia. Isso é apenas uma retórica do atual Governo. Estamos sozinhos. O Estado Brasileiro simplesmente abdicou da responsabilidade com a região.", desabafou Beto.
Sebastião lembrou que estamos vivendo um momento dramático, de aquecimento global acelerado, e um paradoxo. Ao mesmo tempo em que da Amazônia saem as potentes correntes de umidade, através dos rios aéreos, que viajam levando umidade e vida a diversas partes do planeta, e enquanto a região tem uma biodiversidade como nenhum outro lugar do planeta e uma riqueza cultural de mais de 180 culturas e línguas diferentes, a região se tornou um grande emissor de carbono. Entre as 10 cidades que emitem carbono no Brasil, oito estão na Amazônia.
"A Amazônia hoje é o maior emissor de carbono, possivelmente, do planeta. Madeira é carbono puro, e quando abatemos a floresta, incendiamos a floresta, restituímos à natureza o carbono acumulado por milhões de anos. Este é um grande perigo para a humanidade", disse Salgado.
Para ele, há um lado positivo que é o interesse cada vez maior das pessoas pelo tema e pelo debate, e a exposição tem exatamente o objetivo de alimentar o debate sobre o futuro da floresta.
Andando pela exposição Amazônia, o visitante de fato se sente dentro da floresta, se integrando à sua exuberante vegetação e com o cotidiano das populações locais. A trilha sonora foi criada pelo músico francês Jean-Michel Jarre, a partir dos sons da floresta. Há projeções com música de Heitor Villa-Lobos e também composições do músico paulistano Rodolfo Stroeter. Nos vídeos os indígenas têm a palavra e, segundo Lélia, esta é a parte política da exposição.
Vale destacar que o projeto contou com o patrocínio da Seguradora Zurich, da Natura e do Itaú.