Um “rastreador de clima” mostra em que pé estamos no caminho para o carbono zero
Nova ferramenta reúne todos os dados disponíveis sobre a situação climática do planeta em um só lugar
No ano passado, as vendas globais de carros elétricos mais que dobraram em relação ao ano anterior. Na maioria dos países, a energia solar e a eólica já são mais baratas do que os combustíveis fósseis.
O mundo está investindo quantias recordes em energia limpa. Novas tecnologias estão surgindo para reduzir as emissões em indústrias difíceis de descarbonizar, como a do aço, a do cimento e da aviação.
Entretanto, paralelamente, centenas de novas usinas a carvão estão sendo construídas, o desmatamento aumenta na Amazônia e as emissões totais atingiram volume recorde em 2021.
Conforme toda a economia se transforma, fica mais difícil de acompanhar o quadro geral da ação climática. Sabe-se que, para evitar os piores impactos das mudanças, o mundo precisa atingir zero emissões líquidas até 2050 e reduzi-las pela metade em menos de oito anos. Agora, uma nova ferramenta promete facilitar a medição e a análise de como estamos nos saindo nessa tarefa.
“O rastreador nasceu para ajudar a responder à pergunta: 'em que pé estamos?'”, resume Ryan Panchadsaram, consultor de John Doerr, presidente da empresa de capital de risco Kleiner Perkins. “Será que conseguimos consolidar todos os melhores dados disponíveis em um único lugar que nos mostre o progresso em direção ao zero líquido em escala global?”, comenta.
Em 2021, Doerr e Panchadsaram publicaram o livro "Speed and Scale" (Velocidade e Escala, em tradução livre), que traça um plano para atingir o zero líquido, com 10 objetivos e 55 resultados-chave. O novo rastreador, que a equipe continuará atualizando, mostra o progresso (ou a falta dele) em cada área, desde o investimento climático até as emissões de transporte.
A ferramenta foi projetada para orientar líderes empresariais e políticos, diz Panchadsaram, que foi vice-diretor de tecnologia no governo Obama.
“A ideia era ajudar as pessoas a enxergar de onde podem vir as maiores fontes de emissões e quais atitudes elas realmente têm a obrigação de mudar”, diz ele. “O rastreador foi projetado para incentivar ações mais direcionadas. Costumamos dizer que é como atacar um gigante. Trata-se de apoiar-se no poder coletivo, nem sempre apenas nas atitudes individuais.”
Alguns dos principais resultados estão mudando na direção certa, como as vendas de veículos elétricos, que a equipe calcula que precisam atingir uma meta de 50% de todas as vendas até 2030. “Olhando para o gráfico, já conseguimos ver essa curva parecendo exponencial”, diz o consultor.
O preço da eletricidade e das baterias continua caindo. Ainda assim, mesmo os fatores que estão progredindo bem precisam de mais esforço para realmente engatarem no caminho certo. E a maioria dos fatores medidos ainda está fora dos trilhos.
Muitos se enquadram em uma categoria que a equipe chama de “código vermelho”, que inclui desde desmatamento e consumo de carne bovina e laticínios até o custo da remoção de carbono.
O site do rastreador inclui ainda um guia de ação, com listas curtas das etapas mais críticas a serem tomadas, tanto no plano individual quanto dentro de empresas, cidades, estados e em escala nacional.
“Quando se olha para o todo, você pensa: ‘puxa, tudo está tão claro!’”, diz Panchadsaram.
“Trata-se do meu uso de energia, de como eu me movimento e do que eu escolho comer. Acho que isso é parte do que esperamos que nossa ferramenta provoque – que as soluções para essa crise climática não sejam tão opacas ou distantes, mas que estejam bastante acessíveis. Em vez de o medo de um desastre climático nos paralisar, ele deveria nos galvanizar. Na verdade, somos capazes de agir, e podemos começar hoje. É isso que vamos fazer”.